Liberdade?

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Tem pessoas que nascem com a bunda virada para a lua. Esse não é o meu caso.

Saí da Bahia achando que estava fazendo um grande negócio me mudando para São Paulo, e de fato, tenho um emprego onde muitas queriam estar no meu lugar.

Mas como diz no filme do Homem Aranha, todo poder requer grandes responsabilidades e as minhas responsabilidades era cuidar do meu chefe estupidamente gato e de todas as suas manias. Esse é um ponto.

Porém não sabia eu que ele conquistaria o meu coração como jamais ninguém o fez e a trouxa aqui que nunca foi amada de verdade, caiu sem paraquedas com a cara no chão.

Como me decepcionei? Achei que o gatão teria apenas olhos para mim. Mas como acreditar num cara que pode ter todas as mulheres aos seus pés e não me fazer apenas de mais uma comida da noite?

No dia que me neguei a dar uma chance para ele, porque meu coração já está cansado de apanhar, pensei que ele poderia fazer diferente, me procurar e dizer que com ele seria diferente.

O maldito fez totalmente o oposto. Mas disso eu sabia, estando ao seu lado não daria certo de maneira nenhuma. E de alguma forma seria machucada. Ou por amor não correspondido ou por correspondido apenas por uma noite. Não sei dizer o que é pior.

Vê-lo em uma orgia em sua casa, despedaçou meu coração de uma forma que jamais saberei descrever e tudo o que eu queria era uma noite de diversão com amigos, onde pudesse conversar, me divertir e até paquerar. Tudo para fazer com que eu esquecesse daquela manhã fatídica.

Não sei o que aconteceu, me lembro de dançar, rir com as amigas do Edu, até comecei um flerte com o Rafael que também estava a fim. Mas nada demais. Mas depois de um tempo minha memória me traiu e não me recordo do que aconteceu em seguida, minha mente era um borrão. Talvez eu tenha atendido ou ligado para o Yohensen, mas estou apenas supondo.

Me lembro de acordar na casa do Yohensen, nua, coberta de manchas roxas e na cabeça um turbilhão de imagens que não faço ideia de que sejam verdades ou mentiras.

Acabo descobrindo a verdade nua e crua quando vejo a Sara, a única coisa boa em minha vida, confirmar o que eu não tinha certeza.

De repente, outra bomba cai em meu colo: O Edu, que considerava como um bom amigo junto com o Rafael tentaram me estuprar!

O ar foge dos meus pulmões, sinto a mente turva, vou ao banheiro, visto uma camisa do meu ex futuro alguma coisa, deixada na cadeira, tem o seu cheiro e sinto que minhas pernas ainda estão moles feito gelatina. Preciso de tempo para pensar.

Ela se despede de mim porque precisa voltar ao trabalho, me deixando sozinha com meus medos mais obscuros.

Vejo que na cabiceira da cama tem um bilhete do Yohensen.
Devo agradecê-lo por me tirar de lá, apesar de que, em parte, a culpa de eu ter ido aquele lugar era dele.

Resumindo o bilhete, ele não pôde estar aqui mas disse que os responsáveis iriam pagar o que fizeram ou tentaram fazer contra mim e no final se intitula de meu... Yohensen.

Uma onda de raiva passa pelo meu corpo, me fazendo cerrar dentes e fechar os punhos. Desde quando ele se alto intitulava meu? Meu, porque quase perdi minha virgindade brutalmente estando inconsciente, por um total desconhecido enquanto ele transava com um monte de mulheres lindas ou meu pq se sentiu culpado por ter me colocado em situação de risco?

Realmente precisava sair dali imediatamente. Procurando minhas roupas e bolsa, tirei sua camisa, fui ao banheiro e tentei ao máximo desfarçar as marcas deixadas pelos meus agressores com uma base de maquiagem que tinha em minha bolsa. Me arrumei e estava em péssimas condições.

De longe, era aquela menina sonhadora que pisou os pés a primeira vez em terras Sãopaulinas achando que a partir daquele dia tudo seria diferente. Mas esperava que o diferente fosse uma coisa boa.

Porém, estou começando a acreditar que estou fadada ao insucesso desde quando resolvi botar a cara no mundo. E olhe que nem pedir para nascer!

Faço um rabo de cavalo, calço meus sapatos e devagar abro a porta do quarto. A casa está silenciosa e constato que apenas eu e meus demônios habitamos o recinto naquele momento. Mas ao me aproximar da sala principal ouço vozes.

Sei que é errado escutar conversas alheias, mas, parei porque ouvi meu nome numa conversas dessas, me fazendo ser tomada pela curiosidade e se estou sendo o centro das atenções naquele momento preciso saber o porquê.

O Dominique e o Yohensen falavam das medidas tomadas contra o Rafael e o Eduardo. Parece que o Edu havia sido liberado, já o Rafael não, pois ao que tudo indica, a polícia encontrou outras queixas contra ele, e mesmo este sendo filho do Senador, não teve escapatória. Esse cretino, filho da mãe, poderia ter quem ele quisesse, não precisava de maneira nenhuma fazer o que fez. Me drogar e tentar consumar o ato forçado. Espero que nem o pai dele consiga tirá-lo da prisão. Cerrei os dentes ao pensar nisso.

O Dominique falava das diferenças de classes, em pleno século XXI e as pessoas de uma classe maior insistiam em discutir diferenças entre ricos e pobres! O que ele pensa que eu sou, caçadora de dinheiro de homem rico? Que quero o dinheiro do Yohensen? Nunca pedi nada que não pudesse conquistar com os meus méritos. Para mim, já era o bastante!

Já não bastava toda essa confusão? Eu só queria um emprego normal como uma pessoa normal, nunca pedi mais do que isso!

Chega de dar trabalho a essas pessoas. Se não desse certo na empresa precisaria buscar um plano b de sobrevivência, mesmo que fosse longe do meu tão querido e odiado chefinho!

Bati a porta mais forte do que esperava.

Na rua chovia uma garoa gelada na manhã de segunda-feira, as ruas estavam desertas, pude respirar aliviada como há muito tempo não me sentia: livre!

Só não esperava que minha liberdade fosse acabar tão cedo...

AMOR PARA RECOMEÇAR (COMPLETO) Onde histórias criam vida. Descubra agora