Contratada

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Estou desanimada, meu dia foi de mal a pior e ainda esqueci a maldita pasta com todos os meus currículos nela. Creio que tenha deixado no elevador, e aquele cara tinha que ter me beijado. Me roubou um beijo! Na verdade, meu primeiro beijo.

Pelo menos foi sensível, era bonito e atencioso, mas não o verei nunca mais! Graças àquela megera que chamam de Regina. Àquela, com certeza não quero ver pintada de ouro em minha frente.

Não sei porque as coisas tem que ser tão difíceis para mim!

Meu telefone tocou, o número era desconhecido. À princípio fiquei desconfiada, mas desencanei e atendi.

- Alô! Srta. Sandra Martins?!

Não conhecia essa voz.

- Sim, sou eu, quem gostaria? - será que alguma outra empresa precisava de alguém pra trabalhar, ai meu Deus, enfim uma luz no fim do túnel!

- Aqui é  da empresa Construcity, quem fala é Marcia, a sra. Regina precisa falar-lhe urgentemente.

- Ah Construcity, o quê? Essa bruxa achou pouco me humilhar pessoalmente, ainda quer dar minha carne podre aos urubus? Marcia essa mulher já foi longe demais. Não me liguem mais! - Fiz menção de desligar o telefone, quando Marcia gritou do outro lado da linha :

- Sandra por favor não desligue, é uma coisa boa pra você e se você ignorar o meu chamado, eu serei demitida também...

- Hum, coisa boa vindo dessa mulher, eu tenho até medo, gostaria de dizer que você não é problema meu, mas gostei da sua dica, apesar de não ter adiantado muita coisa. Pode passar essa maldita ligação para ela. Acho que pior do que está não pode ficar!

- Obrigada Sandra e... Boa sorte! Estou passando a ligação agora, aguarde na linha por favor.

Inspirei e expirei devagar, tentando controlar minha raiva e não mandar a bruxa para o quinto dos infernos, mas creio eu que nem o diabo vai querer esse mandú.

- Senhorita Sandra, boa tarde! - tão meiga e delicada, nem parecia o dragão de hoje de manhã -  estou ligando pra avisar que a vaga é sua!

- O que?! Mas não foi você quem disse que eu saí fugida da minha cidade porque talvez estivesse roubado alguém, não foi você quem disse que eu estava no lugar errado e que ali era apenas para pessoas de classe e que eu não possuía esse talento? - comecei a cuspir tudo que estava engasgado em minha garganta - pegue sua vaga e enfie...

Nesse momento Sara ia chegando em casa, e sem entender o que estava acontecendo e me vendo chorar de frustração me olhou assustada.

- Srta. Sandra mil desculpas pelo que aconteceu hoje pela manhã, joguei todas as minhas frustrações e problemas em você e estou completamente arrependida! Como forma de agrado, estou duplicando o seu salário...

- E você acha que por duplicar o meu salário, vai me fazer uma pessoa de classe, a sra. quer me comprar com dinheiro? Muito obrigada, mas não venderia minha alma por nada nesse mundo! Passar bem! - deliguei o telefone, com raiva e frustração.

Sara, estava estatalada na porta e me olhava como se eu possuísse um terceiro olho na face.

- O que está havenso Sandra? Pela sua cara e por essa discussão, a entrevista deve ter sido um verdadeiro desastre, não foi?

Então contei, que a empresa era linda, mas que a entrevistadora era uma praga, que me humilhou e até de ladra, ela tinha insinuado que eu seria, falei umas poucas e boas para ela, quando esta havia me assegurado que eu não conseguiria arrumar emprego em São Paulo e me informou que ela possuía muitos contatos e iria transformar minha vida em um inferno. Como se minha vida já não fosse um!

Em seguida contei sobre o incidente no elevador, contei a ela todos os detalhes de como fiquei presa em um local fechado com um príncipe saído das histórias infantis, falei de como fiquei nervosa e que havia me lembrado do que meu pai fazia comigo quando me trancava no quartinho das ferramentas.

Contei que quando o elevador voltou ao normal e quando chegamos no térreo, ele me beijou...

Sara gritou, na verdade ela urrou!

- Você foi beijada? Finalmente senhor, algo de bom para que você possa se apegar! E como foi o beijo? Vocês trocaram telefone?Como é o nome do seu principe?

-Nao sei, e não trocamos telefone, assim que o elevador parou no terreo e ele parou de me beijar, saí cirrendo sem olhar para trás. O nome dele é meio complicado, algo como Yorhese Yonasse, ah não me lembro! Estava muito nervosa!

- E quem era ao telefone? Porque está tão indignada? Querem dobrar seu salário? De quanto seria essa dobra?

- Era a tal da Regina, e ela me ligou para pedir desculpas e dizer que a vaga era minha, mas estava tão puta da vida com ela que acho que a mandei ir para o inferno ou ia mandar quando vi que você chegou, não me lembro ao certo o que falei. Quando fui hoje pela manhã, ela me disse que para ser assistênte de um tal de sr. Phillipe, o salário era de R$ 6.000,00, além dos benefícios, mas ela disse agora no telefone que se eu aceitasse a vaga, e se pudesse desculpá-la pelo ocorrido, que ela dobraria meu salário. - pensei desanimada, como deveria ter segurado minha língua e aceitado a proposta... - bem agora já foi.

Sara me olhou com o olhar desolado. Sentia mais pena do que pesar.

Após conversarmos por um tempo, estava me arrumando para ir na lan-house da esquina, imprimir mais alguns currículos, quando ouvi alguém batendo na porta.

Ao abrir, tomei um susto!

- Srta. Sandra estou aqui para se preciso for, implorar por seu perdão! Por favor me desculpe por todas as babaquices que lhe falei. Estou passando por uma separação e não está sendo fácil, estou lhe dizendo de coração.

Ela estava ajoelhada em minha porta. Nunca imaginei uma madame daquela estirpe visitando uma casa em um bairro como aquele. Mas lá estava ela ajoelhada, a humilde das humildes!

Me deu vontade de sorrir pela situação, mas talvez eu com a raiva que senti a pouco, estivesse me comparando àquela mulher. Então disse:

- Senhora por favor se levante, me desculpe também por falar aquelas coisas horrorosas para você, somos pessoas diferentes, mas mesmo apesar de todos os abusos que vivi, não guardo rancor de ninguém, apenas não esqueço de quem me fez mal! E se eu te destratar, estarei sendo igual ou pior que a senhora! - ela me encarou arrependida pelas coisas que havia me dito.

- Me desculpe mesmo pelo mal entendido. Você aceita a vaga oferecida?

Olhei para Sara, que sorria na cozinha e fazia o legal (👍) com a mão para mim, para que eu aceitasse.

- Aceito. Mas o que a fez mudar de ideia sobre mim tão rapidamente?

- Creio eu, que você tenha um anjo da guarda muito poderoso dentro da empresa, foi ele que me fez acordar pela burrice que cometi.

- A sra. aceita entrar, tomar um café? - perguntei.

- Não, obrigada! Preciso voltar e preparar a sua papelada. Ah! Ia me esquecendo! Preciso que você comece a trabalhar depois de amanhã, como sem falta, pode ser? Quando chegar lá, se puder chegar mais cedo, por favor passe na minha sala para assinar  o contrato de vínculo empregatício e pegar o seu crachá e uniforme. Ah e mais uma coisa, o Senhor Philipe gosta de tudo organizado e suas funcionárias andam sempre impecáveis e maquiadas. Tenha uma boa tarde e até quinta-feira!

Dizendo isto se despediu de mim, me dando dois beijos no rosto, como se fôssemos amigas de longas datas.

Vai entender...

AMOR PARA RECOMEÇAR (COMPLETO) Onde histórias criam vida. Descubra agora