O Dia Seguinte

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Há muito tempo não dormia tão bem assim, mesmo com todas as preocupações da noite passada, consegui dormir feito uma criança.

Talvez tenha sido o banho quente ou o colchão macio, ou saber que alguém estava tomando conta, mesmo que eu não merecesse.

Abri os olhos devagar, esticando o corpo, e ao olhar para o celular na mesinha de cabeceira, tinha duas mensagens: uma da Sara e uma de Yohensen.

O relógio marcava 06:30 da manhã. Primeiro olhei a mensagem da Sara:

- "Sandra espero que esteja bem! Precisamos procurar uma nova casa urgente, nossos móveis estão em sua maioria, estragados. Na casa, há muitos buracos de bala. Não existe segurança aqui. Estou morrendo de medo. A polícia já esteve na nossa rua e levou alguns dos bandidos, mas muitos outros estão soltos. Marcos, aquele meu amigo do Tinder está vindo aqui e vou passar dois dias com ele. Te ligo a noite, e humm, aproveite a estadia na casa do seu chefe!

Alcoviteira!

Rolei a lista de mensagens e abri no número do Yohensen, que estranho, porque me mandar mensagem se estávamos na mesma casa?

- "Bom dia Sandra! Me perdoe pela ousadia, mas comprei algumas peças de roupas para que possa usar para a nossa reunião, também tomei a liberdade de ligar para sua amiga, que me deu total apoio em ajudar vocês a arrumar um apartamento decente. Ela me falou também que não estará lá por dois dias e que não estará seguro para você ir para lá, então sinta-se à vontade para permanecer em minha casa o tempo que for preciso até que possa encontrar outro lugar para viver. Fui correr. Se estiver com fome, tem comida na mesa. Nos encontramos às 07:30. Você irá comigo para a empresa. Até mais...

Fiquei olhando para o celular, depois olhei para a cadeira a minha frente e sobre ela havia algumas peças de roupa como ele havia dito.

Quem comprava roupa tão cedo assim? Quem vendia roupa a essa hora? Alguém que tinha dinheiro pra gastar. Alguém que tinha bons produtos para vender a uma minúscula parcela de clientes.

Fui ao banheiro, tomei um banho, escovei os dentes, peguei as roupas que Phillipe havia deixado ali e pensei:

Primeiro, como ele havia entrado no quarto? Será que ele me viu dormindo? Ai Jesus! E segundo, como ele sabia exatamente o meu tamanho?

Então notei que minhas roupas haviam sumido, principalmente, minhas peças íntimas. Droga!

Então olhei as roupas que estavam no quarto. Uma saia lápis muito colada, uma blusa de seda muito bonita azul claro e um soutien meia taça rendado muito bonito. Não havia calcinhas. Como iria trabalhar sem calcinha?

Olhei no relógio do celular que marcava  06:50. Então me vesti, fiz a maquiagem como Marcia havia me ensinado, fiz um rabo de cavalo, calcei os sapatos que ele também havia deixado e me dirigir para cozinha.

Podendo observar a casa dele com mais calma e sob a luz do sol, pude ver que era linda. No quintal havia uma piscina de vidro com borda infinita que dava para um penhasco. E nesse penhasco podia-se ver toda a cidade.

A luz solar invadia o ambiente, dando a sensação de que a casa não precisaria de luz artificial. Ele apreciava arte também, na parede diversos quadros de pintores renomados como Picasso, Manet, Renoir, e Salvador Dalí.

Eu sempre apreciei arte, livros e um pouco de cultura pop, no ensino médio era chamada de nerd, pois sempre tirei ótimas notas e sempre fui muito aplicada e decidida, mas o que  ninguém sabia era o motivo de ser assim.

Senti o estômago roncar então me dirigir para a cozinha, lá senti um cheiro delicioso de café invadir as minhas narinas. Alguém preparava panquecas doces. Lúcia.

Então entrei devagar para não assusta-la.

- Bom dia dona Lúcia! -  disse, ela aparentava ser uma senhora de 65 anos, rechonchuda e cabelos claros. Mas seu semblante me lembrava as avós dos filmes infantis, meigo e carinhoso.

- Oh minha querida bom dia! Você deve ser a Sandra! Meu menino falou muito bem de você  e não mentiu quando disse que era linda! -  disse ela em tom amigável.

Sorri meio sem jeito.

- Obrigada! Me sinto estranha, pois no meu primeiro dia de trabalho, vim dormir na casa do meu chefe. Isso - não - é - legal! - disse um pouco baixo, só para ela.

- Não se preocupe com isso! Ele me contou a sua situação, conhecendo ele e sua educação, jamais deixaria uma pessoa que gosta em situação de risco. Ele dificilmente se abre para as pessoas e dificilmente conheço alguma mulher do círculo de trabalho ou até mesmo pessoal. Ele é muito reservado e após a morte dos pais, se fechou para o mundo, para te trazer para cá, ele tem muita confiança em você.

- Como pode, se ele me conhece a menos de uma semana? Não sou nada do tipo de mulheres que ele deve costumar sair, fui contratada para ser a assistente pessoal dele, mas eu meio que me sinto como se estivesse invadindo a privacidade dele. Ei Dona Lúcia, a outra assistente dele já dormiu aqui antes? -  perguntei, precisava entender o que se passava na cabeça daquele homem.

- Não e pra ser honesta com você, nunca a conheci, mas digo que quando soube da falcatrua que ela fez, pensei que bom que não a conheci. Mas quer saber de uma coisa? Além de bonita, você é muito diferente das moças que correm atrás dele. Elas o procuram não por ele como pessoa e sim pelo que ele tem, enquanto você está preocupada com estar dormindo aqui, sendo funcionária dele, muitas estariam matando e morrendo para dormir com ele pelo status que ele possui. Acho que é por isso que ele se encantou por você. E digo mais, o vejo sorrindo como não  o vejo a muito tempo.

Nesta hora, Phillipe apareceu, todo suado e sem camisa e não pude disfarçar o olhar em seu tórax, cheios de gominhos e músculos bem torneados.

- Bom dia Lúcia, - deu um beijo na testa da senhora. - Bom dia Sandra, espero que tenha dormido bem e pelo visto, acertei no seu manequim, espero que goste, disse olhando para mim, com um olhar enigmático.

Ao perceber que eu não conseguia tirar os olhos daquela maravilha de músculos, começou a passar a mão no abdômen e me encarar também. Ao me dar conta que estava quase o devorando com o olhar e babando, fiquei ruborizada e abaixei as vistas.

- Vou me aprontar e já desço - saiu sorridente e cantarolante da cozinha.

Lúcia que observava a cena, sorriu e disse:

- Você está mudando meu menino em menos de uma semana, tomara que venha para ficar! Há muito tempo, peço a Deus que ele arrume um anjo na vida dele, espero que seja você!

- Como? A senhora entendeu tudo errado. Eu só estou aqui por que não pude voltar pra casa ontem por estar tendo uma guerra de facções em meu bairro, a senhora está entendendo tudo errado dona Lúcia! -  disse exasperada. -  Não sou nem de longe uma mulher aos pés de seu menino. Não tenho classe, nem dinheiro e ainda tô buscando meu lugar ao sol, sei que o caminho é árduo.

- Eu vitudo aqui em menos de 05 minutos e lhe digo: Deus escreve certo por linhas tortas. Não se preocupe, um dia voces se entenderão completamente. Aceita mais café - disse com um sorriso nos lábios.

- Balancei a cabeça em sinal de concordância, -  ela serviu mais um pouco de café em minha xícara, quando ele chegou já arrumado. E como sempre lindo.

Então tomou uma xícara de café puro e se levantou olhando para mim.

- Vamos Srta. Sandra! -  então me levantei, dei um beijo na dona Lucia e me despedi.

- Obrigada pela estadia e pelo acolhimento dona Lúcia. A senhora é  mesmo muito gentil!

- Oh minha filha espero te ver mais vezes por aqui, alegrou meu dia ver meu menino sorrir como uma criança! -  disse piscando o olho para mim.

Esperei Phillipe ir na frente, mas ele fez referência  para mim dizendo:

- Primeiro as damas -  me fazendo passar na frente. Ao passar por ele  não o vi, vir atrás. Estava parado olhando para mim.

Nessa ínfima hora, me lembrei que não estava usando calcinha...

AMOR PARA RECOMEÇAR (COMPLETO) Onde histórias criam vida. Descubra agora