Boa noite Cinderela!

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Ao sair do carro, o Edu me encarava com um ar um pouco zangado e desconfiado, não entendi o motivo, quem estava sendo assediada com propostas indecentes era que deveria ficar zangada. Quem manda trazer amigos que não sabem se controlar?

Mantive a maior cara de paisagem para que ele não desconfiasse o que aquele cara, amigo dele, fez com o meu corpo e no final eu até gostei da sensação.
Nossa! Estava pegando fogo e em  minhas têmporas se formavam pequenas gotículas de suor, mas estava uma noite fresca, quase fria.

- O que foi?! - indaguei um pouco inquieta.

Ele continua me encarando com um olhar inquisidor.

- Nada ! - Ele respondeu na hora e no mesmo instante seu olhar de sombrio passou a sereno. - Vamos entrar? - disse passando a mão em meus ombros.
Logo atrás de nós, vinham a Monique e o Pedro e mais atrás quase correndo para nos alcançar,  o Raphael.

- Ei esperem!

Todos nós rimos ao entrarmos ao que parecia uma estação abandonada de metrô. Era um lugar meio esquisito, meio estranho mas ao fundo dava pra ouvir sons de música tecno e vozes.

Descemos algumas escadas e no final havia um portão vermelho muito alto. Raphael passou por nós e deu três batidas secas no portão.

Um homenzarrão forte e muito sério saiu de dentro e nos pediu as entradas. Imediatamente olhei para o Edu com cara de dúvida.

Então ele apertou meu ombro e pediu que eu esperasse , na verdade foi o que eu entendi que ele falou com os olhos. Em seguida o garoto perigo tirou 5 ingressos do bolso e os entregou nas mãos do segurança que logo abriu passagem para que pudéssemos passar.

Ao entrarmos me espantou a quantidade de pessoas que estavam naquele lugar, haviam pessoas de diversas etnias, com cabelos coloridos, piercings, tatuagens, a música estava estupidamente alta, o que fazia com que gritássemos para falar uns com os outros. Havia uma plataforma no alto da estação, com vários flashs de luzes coloridas que iluminavam o ambiente e aparelhos que liberavam gelo seco , além de ter uma mesa de som. Lá estava um DJ que o Edu me disse depois que era conhecido mundialmente.

Eu não fazia ideia de quem era. Um tal de David Guetta. Nunca ouvi falar, mas também, quem era eu na fila do pão? Tudo era novo para mim, inclusive os lugares e as pessoas e hoje seria o dia que iria beber pela primeira vez. Hoje também seria o dia de eu perder completamente as estribeiras.

Posso garantir que com certeza ia dar merda. Mas é fazendo merda, que se aduba a vida né? Naquele momento, não queria pensar em quão grande ou pequena seria a merda, só queria ser normal como toda jovem da minha idade e poder passar por tudo que todo mundo passa algum dia na vida.

E como diz um velho ditado: "quem nunca viu, quer ver".

Saindo dos meus pensamentos  catastróficos, olhei e não vi nem a Monique e nem o Pedro, o Edu tinha ido buscar as bebidas e me deixou novamente sozinha com o Raphael.

Este estava parado me olhando como se eu fosse um pedaço de carne suculenta e prestes a ser devorada. Seu olhar me intimidava, mas tentei ao máximo não deixar transparecer nervosismo. Ele se aproximou e roçou sua boca em meu ouvido me fazendo ter calafrios na espinha.

- Vamos dançar? - sua voz era sensual, sexy e grave.

Tentei negar, mas não tinha uma desculpa para dar e me safar ilesamente daquele que queria me transformar no prato do dia.

- Hum... e essas músicas são para dançar ou pular? - dei um sorriso sarcástico e fui salva mais uma vez pelo Edu que olhou para Raphael com ar de desaprovação e raiva, me entregou uma bebida que eu não sabia o nome mais era muito bonita e seu gosto era delicioso.

Não conseguia parar de beber e após um copo já estava bem alegre e aceitei o pedido de Raphael para dançar ou pular ou seja lá o que ele chamava de dança.

O Edu se juntou a nós e "dançamos" muito e a todo o momento Raphael tentava me encurralar em algum lugar e eu fingia não perceber.

Em algum momento Monique se juntou ao grupo novamente e ao que parece havia brigado com Pedro. Edu saiu e nos deixou dançando  e Raphael foi pegar outra rodada de bebidas para nós.

- O Raphael tá fissurado em você hein?! - Monique sorriu ao ver a minha cara. - e o Edu está puto com ele. Acho que ele gosta de você.

A olhei com espanto.

- Ah Sandra você é um mulherão desse e não se deu conta disso? Tem 2 caras se esgalfinhando para chamar a sua atenção  e você não percebeu isso ainda?

Olhei para o Edu e este estava com cara de poucos amigos e quando me viu o encarando desviou o olhar. Não era possível,  o Edu era meu amigo não era? Nunca o vi com outros olhos, mesmo porque meu coração havia sido partido pelo cara que eu me apaixonei e agora eu o deixei fechado para balanço.

Neste momento Raphael surgia atrás de mim e entrelaçando seu braço pela minha cintura me entregou outra daquela bebida saborosa. Me virei e agradeci.

- O agradecimento virá depois! - disse ele com cara de lobo mau.

- Como? - estava gritando pois a música estava alta novamente.- O que você falou?! Não entendi!

- Nada! Disse apenas que a bebida está muito boa. Pedi para o barman caprichar. Espero que goste! - em seus lábios semi levantados imaginei ter visto quase um sorriso de Monalisa: enigmático e misterioso.

Novamente bebi e estava mais gostosa do que a outra, virei mais uma vez o copo de uma só vez, mas em determinado momento, me senti um pouco grogue e pedi que Monique me mostrasse a direção dos banheiros. Não vi o Edu e Pedro, apenas Raphael me observava ainda com olhos de malícia, estava encostado com braços cruzados a uma das diversas pilastras que sustentavam o lugar. Como se esperasse algo acontecer.

Em minha clutch o celular tocava sem parar. Quando cheguei ao banheiro, a fila estava enorme. Estava cada vez mais zonza e comecei a me desesperar porque o lugar estava abafado. Então comecei a procurar por algum espaço com menos gente e um pouco de ar puro.

Não encontrei. Também não encontrei as pessoas  que me trouxeram aquele lugar. Estava perdida, zonza e sem saber o que fazer. Respirei fundo tentando manter a calma, mas a cada respirada ficava mais grogue e estava perdendo os sentidos, minha língua começava a adormecer e não estava nem conseguindo abrir a minha bolsa, que caiu no chão e abriu deixando o celular escapar.

A tela piscava sem parar e em algum momento do desespero conseguir pegá-lo e pedir ajuda. Mas não sei para quem foi o pedido.

Via pequenos flashs...

Eu andando ... Alguém me arrastando para uma parte escura da boate ... dentes brancos ... sorrisos ... gritos... música alta. Barba fazendo cócegas em minha nuca.

Me lembro de alguém tentar me beijar, eu tentava repeli-lo mas a pessoa não me obedecia e passava a mão pelo meu corpo. Tentava dizer não, mas de meus lábios saíam  apenas grunhidos. Frases sem sentido.

Senti lágrimas caírem. Eu estava chorando? Porque eu não sentia? O que eu havia tomado? Alguém chegou por trás, enquanto a pessoa da frente tentava tirar minha roupa, a de trás encostava seu membro por trás de mim.

Nunca fui normal porque ao invés de ter bons conselhos de pais amorosos sobre como não aceitar bebidas de estranhos e não confiar em todo mundo porque nem todo mundo quer o seu bem, tinha pais que me odiavam e me batiam.

Talvez fosse apenas um sonho ruim e eu fazia força para acordar,  mas não conseguia. Iria ser abusada e não saberia nem quem seriam os culpados. 

Fechei os olhos e em uma reza silenciosa pedi que apagasse tudo da minha memória.

AMOR PARA RECOMEÇAR (COMPLETO) Onde histórias criam vida. Descubra agora