A Partida

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A árvore que está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado também é de madeira.

Provérbio  Árabe

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Sara a levou para o hospital. Sandra tinha as pernas e os braços repletos de hematomas, a boca estava machucada, sangrava, um filete fino de sangue descia pelo seu queixo e mesmo com todos os ferimentos temia por sua vida.

Inúmeras foram as vezes que ela foi ao hospital, na maioria das vezes, ia sozinha, outras Sara a acompanhava, mas sempre inventava alguma mentira qualquer sobre os ferimentos.

Brigas na escola, queda de bicicleta, queda de árvores ou da própria altura, nunca eram seus pais que inflingiam os golpes.

Apesar de todas as agressões, Sandra temia que ao denunciar os pais, ninguém acreditasse nela e o pior acontecesse: sumisse como a chuva desaparece num dia de verão.

Sara por sua vez, queria falar com a assistente social, queria contar tudo o que acontecia na casa ao lado, os absurdos que eram cometidos pelo cara com cara de bom moço, pelo cara que se dizia religioso mas que espancava sua filha quase todos os dias, a culpando por algo que ela não tinha culpa.

- Não Sara, não faça isso por favor. Tenho medo que meu pai cumpra a ameaça e me mate e até mesmo você pode correr riscos também.  Juro que quando acabarmos o ensino médio, nós, você e eu, vamos morar bem longe daqui e juro, que jamais ninguém fará algo comigo desse tipo. Isso é uma promessa. Tenho juntado todas as minhas economias, acho que vai dar para pagarmos as passsagens e os primeiros meses onde quer que queiramos estar. Só falta um mês e meio! - disse Sandra temerosa de que alguém descobrisse o seu segredo.

Dessa forma, os dias foram passando e os meses também chegando o dia da formatura das garotas.

Ambas já estavam de malas prontas, ambas tinha poucos pertences, não queriam nada que lembrasse a decadência daquele lugar, todo sofrimento vivido por Sandra, faria parte de um passado que ela jamais esqueceria, mas que faria questão de não comentar.

Sara já não tinha seus pais, eles haviam falecidos, quando ela tinha apenas 10 anos, quem a criara, foi seu irmão mais velho que possuía uma esposa e dois filhos, logo este não se opôs quando ela disse que iria embora com Sandra.

Por mais que quisesse chorar, por mais que desejasse que no último momento seus pais descobrissem que ela estava planejando ir embora, no seu íntimo, tinha uma pontinha de esperança que em algum lugar no coração deles, ela fosse querida e amada como acontece em todas as famílias dos seus colegas.

Mas, por mais que o choro viesse aos olhos, ela o reprimia e iria cumprir a promessa de ser feliz, longe de tudo que a fazia mal e jamais olharia para trás.

A borracha da vida estava apagando todo o terror sofrido, todo e qualquer abuso já não faria mais parte de sua vida. Ela não deixaria que nada e nem ninguém ameaçasse sua vida novamente.

Encontrando-se com Sara, na estação rodoviária, dirigiram-se ao guichê e pediram uma passagem apenas de ida.

Seria feliz em algum outro canto do mundo e seria amada pelo que ela era.

AMOR PARA RECOMEÇAR (COMPLETO) Onde histórias criam vida. Descubra agora