E não consegui dormir. A noite se arrastava a passos lentos, e minha mente parava sempre em apenas uma pessoa: Yohensen.
Por que nunca era fácil pra mim? Sempre tinha um porém, algo, ou alguém que me atrapalhava de alguma forma?
Não quero e não vou ser só mais uma na lista de mulheres comidas do meu "chefinho", já sofri muito com o único homem que deveria me amar.
Se não posso ser amada por ele, também não o amarei. Cansei de ser a boba romântica que acha que um dia vai encontrar o príncipe encantado!
Contos de fadas, histórias de princesas não existem, pelo menos pra mim que só vivi contos de Allan Poe. E dessa história mal contada, não quero mais saber.
E foi nesse pensamento que dormir no embalo de sonhos frustrados e sombrios.
Na manhã seguinte, estava completamente mau humorada, com grandes olheiras pretas nos olhos que me deixavam parecendo um urso panda. Então, me maqueei, escondendo-as como se estas fossem algo proibido de se ver.
Por sorte quando levantei, vi que Sara já havia saído, então fiz minha higiene, vesti minha roupa e fiz um café extra forte.
Nada era tão bom como uma xícara de café, pra acordar os neurônios. Tirei a cara de tristeza e coloquei a que eu sabia fazer sempre: a cara da indiferença era usada quando tudo ia de mal a pior. Hoje era um dia desses.
Peguei minha bolsa, meu crachá e fui para a empresa.
Ao chegar lá, dei bom dia ao segurança e Jessica não estava na recepção, dei um sorriso ao recepcionista que a estava substituindo, e até que ele era bonitinho! Ele me recepcionou com outro sorriso e então segui meu caminho.
Sentei em minha mesa e trabalhei como se não existisse nada ou ninguém ali. Não haveriam reuniões esta semana e a calmaria reinava em meu setor, o que me deu a chance de colocar todas as coisas que a antiga assistente do Yohensen havia deixado fora do lugar. E falando no diabo, ele estava atrasado.
Ao meio dia, recebi uma mensagem de Marcia e de Jessica no sistema de mensagens da empresa, me chamando para almoçar. Como não vi sinal do meu chefinho e a barriga estava roncando no grau sete da escala Richter, resolvi aceitar.
Precisava fazer isso mais vezes, sair com outras pessoas, dar risadas e ampliar meu círculo de amizades. O bonitinho que estava substituindo a Jessica pela manhã, apareceu e foi direto à nossa mesa.
- Oi gatas, posso me sentar com vocês? - disse olhando para mim e segurando nos ombros das duas meninas sentadas à minha frente. - A propósito, me chamo Eduardo, mas pode me chamar de Edu - Estendeu a mão para mim.
Ao estender a minha, este a pegou delicadamente e a direcionou até a boca, dando um beijo galanteador. Obviamente, eu fiquei vermelha. As meninas riam e o Edu, me olhava nos olhos, com olhos encandescentes.
- Pra-prazer! - disse meio sem jeito. Precisava lidar com meninos com mais frequência, ou nunca iria arrumar um namorado ou algum crush, pra chamar de meu! - Me chamo Sandra.
- Ela é a nova assistente do Yohensen, tome muito cuidado com o que você fala pra ela na frente dele! - Disse Marcia, com um olhar divertido e um pouco malicioso.
- Você é a garota dele? - Ele me perguntou tão rápido como se rouba (embora eu não saiba roubar), mas não havia entendido o sentido de "garota" a que ele se referia.
- Como assim garota? Sou assistente dele, trabalho com ele. É isso que vocês estão dizendo não?
- Estão dizendo por aí que você é a nova garota dele, mas não no sentido profissional. - Disse Jessica falando com as mãos sobre a boca e que você conseguiu esse cargo por outros métodos.
Enrubesci à níveis alarmantes, perdi o ar, sentir que cairia da cadeira caso eu não me segurasse, fiquei sem chão. As meninas começaram a ficar preocupadas.
Edu tentava me abanar com as mãos. Quando vi entrando o Yohensen, com uma loira, extremamente linda, esguia, curvilínea, modelo da Victoria Secret, e ao me ver, com meus colegas me abanando e perguntando se eu estava bem, a única reação que tive, foi levantar, derrubando a cadeira e correr para o banheiro do restaurante, me trancando.
Esse dia precisava acabar urgentemente, mas como eu sairia dali agora? Com meus três colegas de trabalho, pensando que eu era um casinho do Yohensen, com o próprio Yohensen e ainda mais uma linda e magricela modelo de capa de revista, e propriamente tida como o verdadeiro caso do meu chefe?
Sentei no vaso e chorei durante quinze minutos, estava desesperada e pela minha atitude de antes só iria confirmar o que estavam dizendo pelos corredores da empresa.
Que a assistente do diretor hiper, ultra, master da Construcity ganhou essa vaga, em troca de outros "benefícios" e ao vê - lo com outra, me desesperei e fugi dele. Mas ninguém me perguntou se eu era competente profissionalmente ou não. As pessoas sabem ser más quando querem.
Mas como precisava do meu emprego de dez mil reais, engoliria o choro, a raiva, a humilhação e com o rabinho entre as pernas voltaria, como se não tivesse acontecido nada e eu estava ali realmente para trabalhar.
Levantei novamente o muro que me afastava das outras pessoas, lavei o rosto com bastante água e sabão e novamente fiz a maquiagem. Ainda bem que meu rímel era à prova d'água. Senão estaria perdida.
Quando saí do banheiro e voltei para o salão onde eram servidas as refeições, me deparei apenas com o Edu me aguardando na mesa e o Yohensen, sentado de frente para mim e ainda acompanhado da modelo.
A sua acompanhante conversava algo sobre moda e beleza, mas ele não estava dando a mínima atenção à ela, olhava para mim, pensei que ele poderia estar desnudando minha alma. Desviei o olhar para ele, direcionando-o para o Edu, que realmente parecia estar preocupado comigo.
- O que hove com você, está se sentindo melhor? As meninas precisaram voltar ao trabalho. Eu fiquei te aguardando. Precisa ir a algum médico? Posso lhe acompanhar? - me recepcionou com uma enxurrada de perguntas.
- Não preciso de nada, estou bem! Obrigada por me esperar Edu. Vamos voltar? - disse sorrindo para ele e ainda sem olhar para o Yohensen, que eu podia sentir, me fuzilava com o olhar.
Peguei minha bolsa, meu blazer que estava sobre a cadeira e nos dirigimos até a porta, onde o Edu abriu e me permitindo passar na frente e colocando a mão em minhas costas, me guiando.
Ao chegar na empresa, Jessica me fez a mesma pergunta que o Edu, mas eu disse que estava bem e segui até a minha mesa no meu andar.
A partir de hoje nada de amizade com chefe!
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AMOR PARA RECOMEÇAR (COMPLETO)
RomanceSandra, viveu sua infância e parte da adolescência em um lar abusivo, onde lhe faltava amor e carinho, sendo abusada pelos pais física e emocionalmente. Seus pais a odiavam por motivos que ela desconhecia. Mas para sobreviver a negligência deles...