Acordei com dor nas costas e uma dor de cabeça horrível, tínhamos bebido mais antes de dormir, e comemos tanto que eu pensei que ia vomitar. Olhei ao meu redor. Eu estava no chão. Como?... Eu me levantei e vi os dois deitados na cama, lindos, então fiz o que qualquer pessoa faria no meu lugar. Trouxe o café para eles na cama. Água para ser mais específica. Ele acordaram sobressaltados sem entender nada. E eu gargalhei como nunca.
-Terceiro dia de aula! -falei colocando o balde no chão- Estamos atrasados! Ainda bem que já tomaram banho.
-Eu não vou para aquela escola nunca mais! -grunhiu Jason colocando o travesseiro sobre sua cabeça, ambos molhados.
-Dói! -grunhiu Maya se revirando na cama.
-A situação de vocês não está melhor que a minha, e como uma amiga me disse uma vez, vamos superar isso, juntos!
Maya se levantou ainda protestando e passou por mim dizendo:
-Se me deixar beber assim de novo você não vai ganhar a caneca de "melhor amiga do ano" de Natal.
Eu ri alto demais(eu tinha esse problema) e Jason jogou o travesseiro em mim.
Depois que tomei banho e todos nos arrumamos (Jason foi o que mais demorou), pegamos o carro da Maya e fomos para a escola, íamos chegar atrasados mesmo então fomos com toda calma do mundo. Quando chegamos foi cada um para um lado, cada um para a sua segunda aula e combinamos de nos encontrar em todos os intetvalos. Cheguei na minha aula, era história, ainda bem que eu não tinha aula com ele, isso me destruíria, e a julgar pelo meu estado crítico, destruíria a cara dele também. A voz do professor martelava na minha cabeça, eu conseguia ouvir cada batida do relógio como se fosse a batida do meu coração(que dramático), e nós nem tínhamos relógio na sala, e foi assim aula por aula, até que chegou a hora do almoço. Eu, Jason e Maya tínhamos arquitetado um plano para não encontrar quem não queríamos encontrar. O plano era: Todo mundo se encontrava na frente da sala da minha última aula da manhã, a Maya pegaria o meu material, eu pegaria o material do Jason e o Jason pegaria o material da Maya. Embora a Maya tenha dito que a pessoa que ela queria evitar não estudasse na escola não queríamos deixá-la fora do plano, que era ridículo e infantil por sinal. Depois disso nos encontrariamos no estacionamento para almoçar fora. Fui para o armário do Jason, e como esperado, Shade estava lá esperando por ele, fiquei imaginando se Allan estaria esperando por mim, mas logo tirei esse pensamento da cabeça, peguei a chave do armário do Jason, e abri colocando os livros lá dentro e ignorando completamente o Shade. Mas não adiantou muito.
-Millena, precisamos conversar! -veio apressado em minha direção.
-Não devia ter me beijado! -rebati
-Eu sinto muito, e-eu precisava confirmar uma coisa, não devia ter feito aquilo! -ele diz arrependido.
-Confirmar se estava apaixonado pelo Jason? -rebati de novo.
-Não! -ele respondeu como se fosse a coisa mais ridícula do mundo.
-Olha Shade, o Jason é um cara legal, carinhoso, leal, não tem como não amar ele, eu entendo. Mas ele merece alguém que arisque tudo para ficar com ele, e que não se importe com o que as pessoas dizem, porque ele não se importa. Quando ele ama alguém mais nada importa para ele, e eu ainda estou tentando decidir se isso é um defeito ou uma qualidade. A questão é: Ele merece mais Shade, sinto muito.
-Millena você entendeu tudo errado eu.... -não dei a ele tempo para terminar, fechei o armário e comecei a andar pela multidão dos corredores, eu me sentia mal por ter dito aquilo, mas era verdade, Jason merecia coisa melhor, mas...
Fui tirada dos meus pensamentos quando alguém me puxou para dentro de uma sala. Alguém me recostava na parede, mas sem me segurar, estava escuro mas logo uma mão trêmula deslizou a mão sobre a parede e acendeu a luz, olhei para cima e lá estavam eles, aquele par de olhos azuis que pareciam carregar algo maior, algo como.... dor? Arrependimento? Não! Não podia me iludir pensando assim. Sentia seu coração bater rápido e sua respiração ofegante combinava com a minha, meu coração me traía batendo descompassado. Não conseguia, não podia, mas precisava. Indo contra toda a minha natureza olhei bem em seus olhos e disse com toda a força que eu não tinha:
-Se...afasta....de mim -disse pausadamente, ainda ofegante.
-Millena eu..... -Allan começou a dizer.
-Apenas... Apenas se afaste de mim. -falei com firmeza o interrompendo, e quando ele não o fez, coloquei minhas mãos sobre seu peito o afastando- Por favor.
E então ele se afastou.
-Milli....
-Não me chame assim. -disse seca.
Ele parecia surpreso com a forma fria com que eu estava lhe tratando, ele me olhou nos olhos, parecia magoado, e era bom que estivesse.
-Do que eu devo te chamar então? -perguntou ele com magoa na voz.
-Não vai precisar mais me chamar de nada, não vamos mais conversar.
Me virei de costas e comecei a andar rumo a porta.
-Eu terminei com a Aisha! -disse ele rapidamente, com a esperança de que isso fosse me fazer mudar de ideia. Parei de andar, mas não me virei.
-Nossa! Durou menos do que da última vez. -disse fria.
-Por favor! -disse ele se aproximando até ficar perto da minha nuca, eu travei, não conseguia se quer mexer um músculo. -Eu preciso da minha amiga de volta, eu preciso de você.
-Sinto muito. -disse com a voz trêmula.
-Por favor, você é a única em quem eu confio.
Me virei, precisava falar isso olhando nos olhos dele.
-As vezes as pessoas em quem mais confiamos, são as que mais nos decepcionam. Aprendi isso com você.
Foi mais difícil do que eu imaginei. Me virei com as pernas trêmulas e saí devagar criando forças a cada passo até que atravessei a porta, segurando as lágrimas que ameaçavam cair, não iria chorar por ele, não hoje, não agora. Os corredores já estavam vazios o que me permitiu correr para o estacionamento, cheguei lá onde Jason e Maya me esperavam. Quando me viram deram um salto do carro e vieram correndo em minha direção.
-Onde você estava? Demorou muito! -disse Jason num tom de preocupação.
-Eu encontrei o Allan -confessei. Encontrei? Eu fui praticamente sequestrada por ele! -Nai foi nada e eu não quero falar sobre isso, não agora, pelo menos.
-Okay -disse a Maya meio decepcionada por eu não contar a ela- Sabe que estamos aqui, não sabe? -assenti.
Entramos no carro e eles foram cantando o caminho inteiro uma música que eles cantaram tão errado que nem dava para identificar qual era. Ri o caminho inteiro, eles sabiam como me animar. Chegamos ao Bili's Mouth, que era a lanchonete do pai do Jason, que morava sozinho a alguns anos pois os pais abriram a lanchonete e passaram a morar no pavilhão de cima, então deixaram a casa para ele. Sentamos nos lugares de sempre e pedimos a comida de sempre, essa lanchonete era o nosso cantinho, sempre seria. Eles devoraram o prato deles como animais, eu deixei metade do meu, não estava com fome. Então, Jason começou a comer meu prato enquanto Maya me questionava por não ter comido tudo ao mesmo em que arrancava o prato de Jason para comer o resto da comida que tinha sobrado.
Terminamos, pagamos por nossa comida e voltamos para a escola só que dessa vez com a Maya no banco do carona narrando cada quilômetro como se fosse morrer. Quando chegamos na escola, descemos do carro e enquanto eles andavam fiquei para traz, eles perceberam, então se viraram e eu disse sabendo que era loucura:
-Não vou ir à aula de tarde, preciso comprar algumas coisas no mercado para minha mãe, já que ela vai trabalhar até tarde , de novo.
-Isso nunca foi motivo para você faltar aula. -falou Maya desconfiada.
-Desculpa May, preciso mesmo comprar essas coisas.
Ela assentiu, entendendo que eu precisava de um pouco de espaço. Ela veio até mim e me abraçou com força.
-Fica bem, tá? -ela disse me abraçando com mais força. -Não faz nenhuma bobagem, entendeu?
Claro que tinha entendido, tinha entendido exatamente o que ela queria dizer com isso.
-Entendi. -me soltei do abraço, fui até o meu carro o mais rápido que pude, surpresa demais por não ter levado um sermão e dirigi até em casa. Fiquei sentada no sofá olhando para a parede, até tentei ligar a televisão, mas naquele momento a parede era bem mais interessante. Fiquei lá a tarde inteira, metade dela me perguntando o que tinha de tão interessante em uma parede.
Ouvi batidas na porta. Devem ser o Jason e a Maya para ver se estou bem. Quando abro a porta o vejo parado na minha frente. Sério que ele tinha a cara de pau de vir na minha casa?
-Inacreditável! -exclamei incrédula jogando minha cabeça para trás, como ele era persistente. -O que faz aqui? -era como se eu não o conhecesse, talvez fosse esse o caso.
-Eu vim ver a minha amiga, aquela que é sarcástica e faz piada com tudo, aquela que ri de si mesma, ou até sozinha por causa de uma coisa que ela pensou. Eu vim ver a minha melhor amiga. -disse se aproximando mais da porta, mas sem tentar entrar.
Engoli em seco.
-Desculpa, ela não está. -disse olhando para baixo.
-E quando ela volta? Sinto falta dela. -diz ele com mágoa na voz, se ele acha que isso é o bastante para me fazer perdoá-lo, estava errado, talvez nada seja o bastante.
-Nunca. -disse.
-Não tem nada que eu possa fazer? -eles me pergunta.
-Não. -respondo rápido.
-Amanhã.... -ele começa
-Não vai rolar. -interrompo.
-Na minha casa.... -ele continua.
-Já disse que não. -continuo interrompendo.
-Se você não for, eu desisto de você, para sempre. -ele me olha nos olhos esperançoso. -Até amanhã.
-Eu não vou estar lá. -digo com a respiração ofegante, enquanto ele se afasta e vai embora.
Vejo uma coisa caída no chão, nem tinha percebido que Allan tinha uma coisa na mão, será que ele havia deixado cair? Ou jogou ali de propósito. Juro que tentei resistir, mas a minha curiosidade é insaciável e eu acabei pegando o grande envelope e entrando para dentro de casa para lê-lo. Abro a carta sem nem olhar o remetente para ler o que estava escrito."Millena Miller.
Nós da Universidade Julliard temos o prazer de lhe informar que você foi aceita para estudar com uma bolsa especial em nossa escola.
Parabéns, e seja muito bem-vinda a Julliard"Capítulo um pouco curto hoje, sexta tem capítulo novo. Será que a Millena vai fazer uma visitinha para o nosso Allanzinho?
Espero que gostem!❤
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A Hallen Perdida
Ficção AdolescenteComo você lida com uma mentira? Seria capaz de perdoar uma mentira vinda da pessoa que você mais ama? Mas o quê você faria se descobrisse que toda sua vida não passou de uma mentira?