-Blake. -falo assustada tentando me afastar mas ele me segura forte.
-Vai sair daqui comigo e fazer o que eu mandar, Hallen! -ele fala olhando fixamente nos meus olhos.
Ele está tentando me hipnotizar? A poção anti-poção ainda deve estar fazendo efeito. Mas mesmo assim só assinto e espero pela próxima ordem.
-Agora você vai me acompanhar até o carro e não vai dizer mais nada. -ele diz e começa a me arrastar pra fora da boate.
Ele me leva até um carro preto, me coloca no banco do passageiro e me algema na porta do carro. Ele dá a volta e entra pelo lado do motorista.
-Isso é realmente necessário? -pergunto apontando para a algema quando ele está dentro do carro.
-Quieta! -ele fala entre os dentes.
-O que? Eu sou um monstro perigoso agora?! Eu tenho medo de andar em roda gigante, Blake! Acha mesmo que eu pularia de um carro em movimento?!
-Eu disse quieta! E como descobriu que era eu? -ele pergunta depois de gritar.
-Você quer que eu responda ou...?
-Só responde! -ele grita.
Não parece com Blake gritando. Ou a cara brava dele, embora o cara loiro franza as sobrancelhas como o Blake, assim como espreme os lábios exatamente igual ao Blake. Tecnicamente, não é ele. É ele. Mas em outro corpo. Vocês entenderam.
-Os olhos. -digo e me calo.
-Como conseguiu abrir um portal? -ele aperta com força o volante.
-Uma poção. E também tomei uma poção anti-poções; então você não vai poder me hipnotizar por um tempo. -falei com cuidado. Acho que se eu irritá-lo mais um pouco ele vai me matar.
-Esperta. -ele fala irritado.
-Você me ensinou. -olho pra ele.
-Foi um erro. -ele fala voltando à sua expressão neutra. Indecifrável. Quer dizer, a expressão neutra no cara loiro que teve sua identidade roubada por algumas horas.
Meu coração aperta ao pensar que essa talvez seja a única expressão que vou ver nele até eu morrer.
Ninguém fala mais nada até ele parar em um motel. Viro pra ele confusa.
-Um motel? -pergunto levantando as sombrancelhas.
-Vamos passar a noite. Deveria parar de falar e aproveitar sua última noite antes de virar uma prisioneira oficial. -ele fala curto e grosso.
-É o que eu estava fazendo antes de você me algemar! -essa frase tinha ficado muito melhor dentro da minha cabeça.
Ele simplesmente ignora e sai do carro. Ele abre a minha porta com força e eu quase caio do carro. Ele me desprende do carro mas prende minhas mãos juntas depois.
-Não acha que vão achar estranho? -pergunto olhando para minhas mãos algemadas.
-É um motel, com certeza já viram coisa pior. -ele fala.
Ele pega no meu braço e entramos no motel. A moça da recepção nem sequer nota as algemas, na verdade, ela nem sequer me nota. Fica encarando Blake e dando em cima dele o tempo todo. Tenho quase certeza de que ele fingiu estar interessado para me provocar.
Finalmente conseguimos a chave do nosso quarto. Vamos para o nosso quarto e ele me solta das algemas. Viro de costas para ele e massageio meus pulsos.
-Não vai dizer nada? Não vai tentar se defender?! -pergunta ele. Me viro para retrucá-lo e me assusto quando vejo o verdadeiro Blake. Bom pelo menos o verdadeiro corpo dele. Me recomponho respirando fundo.
-Me defender do que? Eu sei muito bem o que fiz. Não me orgulho, mas faria tudo de novo. -ele levanta irritado ao ouvir minha resposta- Se não queria que eu fugisse não devia ter mentido pra mim. De novo.
-Eu menti pra você?!
-Quando pretendia contar que minha mãe estava em Nova York, Blake?
-Eu precisava resolver tudo primeiro. Organizar uma reunião, convencer o Conselho! -ele diz.
-O que você queria, Blake? Que eu ficasse sentada esperando vocês fazerem algo?! Era a minha mãe, Blake! -quase grito.
-Eu ia resolver tudo! Mas você estragou tudo! -ele começa a ficar irritado- E você mentiu pra mim!
-E isso apaga o fato de que você também mentiu?! De novo! -falo no mesmo tom que ele. Ele acha que só ele pode ficar irritado?
-Eu ia contar pra você, quando eu tivesse tudo em ordem! Pensei que eles tinham te levado, Millena! Acordei e você não estava mais lá! Fui tão burro! Achei que você não era capaz de machucar uma mosca! E tudo que tínhamos?! Você só estava me usando esse tempo todo!
-Te usando?! Você só pode estar brincando comigo! Acha que era tudo fingimento?! Tudo bem! Então por que não aproveita e se vinga?! -exclamo sem pensar.
-O que? -ele pergunta confuso.
-Estamos em um motel, o efeito anti-poção já deve ter passado, então você tem total controle sobre mim! Eu só estava te usando, não é?! Então por que não me usa também?! Se aproveita de mim.
-Millena, eu nunca...
-Qual é Blake! Eu sou toda sua! -me aproximo dele- Você pode me obrigar a fazer qualquer coisa que você queira! Se aproveita de mim!
-É isso o que você quer? -ele se aproxima mais, me obrigando a olhar pra cima para poder olhá-lo nos olhos.
-É exatamente o que eu quero! -ele só fica me olhando. Começo a rir de deboche- Não tem coragem...
-Cala a boca. -ele segura meus pulsos e depois me vira de costas pra ele tão rápido que perco o ar.
-Parada, amor. -ele sussurra no meu ouvido. Paralisei ao ouvir ele dizer meu apelido, essa talvez seja a última vez que eu ouça ele se dirigir a mim assim.
Ele abre o zíper da minha saia, deixando-a deslizar pelas minhas pernas e cair no chão. Depois ele tira minha blusa devagar. Ele afasta meu cabelo e começa a beijar meu pescoço. Devagar e suavemente. Inclino minha cabeça para trás suspirando.
Ele me vira e fica me observando, como se estivesse tentando gravar cada centímetro meu. Ele afasta o cabelo do meu rosto e acaricia minha boca, minhas bochechas, meu nariz, cada detalhe do meu corpo.
E então ele finalmente me beija. Um simples beijo. Apenas encostando nossos lábios um no outro.
Ele agarra forte minha cintura, como se tivesse medo que eu escapasse entre seus dedos como areia. Ele me beija com mais intensidade.
Quase estouro os botões da camisa dele quando a tiro. Paro um pouco. Passo a mão pelo ombro dele, pelo abdômen, tentando gravar cada detalhe, cada marquinha, cada imperfeição daquele corpo perfeito. Ele fecha os olhos respirando fundo e eu subo a mão até o ombro dele, e me aproximo para que eu consiga tocar a pequena marca de nascença coberta por uma tatuagem. Se essa for mesmo a última vez que vou poder tocá-lo, então vou gravar cada traço seu.
Toco a marca e ele estremesse. Contorno a marca de nascença debaixo da tatuagem. Como a coisa que ele mais odeia nele pode ser a coisa que eu mais aprecio?
Olho nos olhos dele. Eles estão escuros, quase preto. Parece desesperado, apreensivo.
Ele agarra minha cintura e me beija com força. Ele me joga na cama e sobe em cima de mim. Ele beija meu pescoço, meu peito, minha barriga, cada centímetro do meu corpo. Ele prende minhas mãos acima da cabeça como de costume.
Ouço um "click" e ele se afasta me observando. Tento voltar a beijá-lo mas minha mão direita é puxada de volta. Olho para cima. Ele algemou uma das minhas mãos na cama!
-Não faria isso com você nem se enfiasse uma espada no meu coração. -ele diz olhando nos meus olhos. Ele sai da cama e joga um cobertor em cima de mim.
-Blake!
-Espero que tenha aproveitado;
Foi a última vez que mais que um aperto de mão aconteceu entre nós. Agora, durma, vai ter um longo dia amanhã. -ele fala pegando a camisa no chão e a vestindo.
-Blake!
-E a partir de agora é Vossa Alteza pra você. -ele diz indo até à porta- E Vossa Majestade quando você me entregar minha coroa, Hallen.
Fico sentada na cama, tentando digerir o que acabou de acontecer.
Sinto meu coração se estilhaçar em milhões de pedaços. Agora é oficial. Eu perdi o Blake. Pra sempre.
Perdi o Blake. Perdi minha mãe. Não vou poder estar por perto pra ver Millena e Mike cresecerem. Eu sabia no que estava me metendo quando fugi, sabia das consequências. Só não sabia que doeria tanto assim.
Enterro minha cara no travesseiro pra abafar os soluços. Chorar é quase inevitável. Choro até cair no sono, pensando em tudo que eu perdi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Hallen Perdida
Teen FictionComo você lida com uma mentira? Seria capaz de perdoar uma mentira vinda da pessoa que você mais ama? Mas o quê você faria se descobrisse que toda sua vida não passou de uma mentira?