Capítulo 1

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Entro na escola e olho ao meu redor, é o último ano do ensino médio e todos estão ansiosos para isso finalmente acabar, confesso que eu faço parte desse "todos".

Viro o corredor e chego até meu armário, abro ele e começo a pegar todas as coisas de que eu preciso para a primeira aula. Olho para frente e começo a olhar as fotos colada nele. Eu, Maya, Jason, Allan... Começo a me perder nas lembranças quando meu armário se fecha sozinho, isso me assusta e eu tento ridiculamente disfarçar meu susto, o que é inútil porque 1)meus olhos provavelmente estão arregalados e minha cara deve estar ridícula e 2)a pessoa que fez isso me conhece bem demais para que eu consiga esconder qualquer coisa dela.
Allan Shay. Meu melhor amigo, alto, moreno, olhos azuis escuro, um azul tão escuro e intenso que uma vez que olha para eles fica difícil desviar o olhar, acho que ele é o cara mais lindo que já conheci;posso contar sempre com ele, não tem uma coisa que ele não saiba sobre mim, e não tem nada que eu não saiba sobre ele; e isso de certa forma me traz uma segurança enorme. Nós não conversávamos muito quando éramos do fundamental, não sei bem o porquê, ele se mudou no último ano do fundamental para Califórnia, e depois que o pai dele foi transferido de novo para Nova York, nós nunca mais nos separamos.
Ele começa a rir da minha cara, tento fazer cara de brava, mas não consigo me conter e acabo rindo junto com ele;ele olha para o corredor e o sorriso dele desaparece.
-Ah inacreditável! Eu não posso ficar com você nem um minuto sem essa daí atrapalhar!? -ele exclama levantando as mãos para o ar e logo em seguida as deixando cair ao lado do corpo como forma de irritação.
Viro para traz para ver o que tanto o incomoda e vejo a única pessoa que ganha dele na minha lista de "pessoas mais importantes na minha vida"(claro sem contar a minha mãe).Maya James. Uma loira alta, com olhos azuis claro,e depois que tirou o aparelho à dois anos, tem o sorriso mais bonito dessa escola. A única pessoa que me aceitou de verdade como eu sou, minha melhor amiga desde sempre, Allan podia até ser meu melhor amigo mas ela era minha melhor amiga acima de tudo, era como uma irmã.
-MAYAAA!! -eu grito e abro os braços frenéticamente.
-DOCINHO!!! -ela grita e faz o mesmo.
Ela vem correndo até mim e nós nos abraçamos e nos apertamos o máximo para não sairmos daquele abraço, e nos esforçamos como nunca para não cair, o que faziamos frequentemente.
-Que saudades! -digo apertada em seu abraço.
-Vocês se viram ontem! -exclama Allan indignado com a cena.
Olhamos pra ele, reviramos os olhos e voltamos para o abraço.
-Faz tanto tempo. -Maya diz olhando por cima do ombro para provocar Allan, o que é a atividade extra curricular favorita dela.
-Uma eternidade. -afirmo, é a minha atividade extra curricular favorita também.
-Inacreditável! -ele exclama.
Nós duas reviramos os olhos de novo.
Maya olha para mim e pergunta:
-Docinho, sabe que aula é agora?
Olho para ela com animação e pergunto esperançosa:
-Aula de literatura?
-Aula de literatura! -ela afirma com a cabeça.
-A única aula que vale a pena nesse lugar. -digo
-É a única aula na qual vocês prestam atenção. -Allan diz e ele está certo.
-Eu presto atenção, ela fica babando pelo  Mr.Marshall. -protesto.
Ele ri e vamos juntos para a aula de literatura.
-Bom dia Mr.Marshall -eu e Maya dizemos após entrarmos na sala.
-Bom dia meninas, e aí Allan! Já podem se sentar.
A sala estava do mesmo jeito que estava ano passado, cartazes sobre autores de livros com frases de suas biografias, a mesa do professor como sempre desarrumada cheia de papel,  de descanso de papel e mais papel, o quadro negro já não tão limpo de quando como foi comprado.
Maya se senta na primeira carteira para ficar perto do professor, eu logo atrás dela, e Allan ao meu lado. Todos sempre nos mesmos lugares desde que entramos nesta sala, bem, Maya desde de que o Marshall é o professor.
-Então pessoal o que leram nas férias? -pergunta o Mr.Marshall.
-Bom, não a mensagem do meu namorado porque ele me ignorou as férias inteiras. -exclama Agatha.
-Ex namorado, Agatha. -diz Allan já cansado com essa ceninha de sempre.
-Ele não terminou comigo, só estamos dando um tempo. -diz Agatha.
-Agatha ele disse que acabou, supera!-diz Allan.
-Ele não disse isso -resmunga Agatha.
-Ah não ela está certa, ele disse "o problema é você, não eu" -rebate Maya.
Todos riem.
Quase fiquei com pena dela, talvez eu até ficasse com pena dela se ela não fosse uma vadia.
Agatha é uma das líderes de torcida, ela namora, ou pelo menos namorava o Shade, Capitão do time de basquete, ele vai de garota em garota num estalar de dedos, e acho que com a Agatha ele fecha a equipe de torcida inteira. Pelo que eu ouvi falar é um babaca, nós só temos aula de literatura juntos e nessa aula eu não presto muita atenção no que acontece ao meu redor.
O Mr.Marshall assume o controle da sala e pega da mesa o pequeno chaveiro de Globo terrestre que sempre mexe enquanto fala.
-O.k.,o.k., pessoal para tarefa de volta às aulas vocês vão ler qualquer livro,ou se não releia um livro, qualquer livro mesmo. -começa a falar.
-Eu queria era ler você inteiro. -diz Maya baixo o suficiente para que só eu possa ouvir.
-Alguma vez você já tentou ouvir o que ele fala?! -falo baixinho para que só ela possa ouvir.
-E depois de ler vocês terão de apresentar esse livro à classe. -Mr. Marshall continua.
Eu e Maya soltamos um grunhido, eu adoro as aulas dele, mas odeio fazer trabalhos.
-E depois disso...
-Ainda tem mais?! -Maya pergunta.
O professor finge que não ouviu.
-E depois disso vocês vão trocar de livro com alguém e formarão uma dupla....
Eu e Maya nos olhamos instantâneamente.
-....para discutir sobre os livros e fazer uma última apresentação para a turma. Quero que vocês discutam com seu parceiro, quero que façam parceria com alguém que discorde totalmente de vocês, porque só ouvindo o outro e tendo a mente aberta para outras opiniões, é que vão aprender mais não só sobre literatura, mas também sobre a vida. E como sei que não vão fazer nada do que eu mandei e vão fazer dupla com seus amigos; eu vou montar as duplas.
-Espera aí, o quê? -perguntamos eu e a Maya ao mesmo tempo.
-Os nomes das duplas de vocês estão escritas no papel que está grudado na parede. -diz o Mr.Marshall.
Toda sala questiona, o professor está quase explodindo quando o sinal bate e ele sorri de alívio e sai correndo(sim, ele literalmente saiu correndo, eu amava mesmo aquele professor, apesar de no momento querer matá-lo).
Todos se levantam e vão olhar suas duplas.
-Como assim? -pergunta Allan num tom de indignação.
-Essa coisa só pode estar errada, não vou fazer o trabalho com você de jeito nenhum! -diz Maya olhando para Allan.
Então Allan e Maya tinham ficado juntos? Eu realmente amava aquele professor. Mas, então com quem eu tinha ficado?
Deixo os dois lá brigando e vou para perto da lista ver com quem eu fiquei. Quase caío no chão quando vi com quem eu tinha ficado. Shade Becker.
Qual era o sentido disso? O Shade sequer lê? Eu realmente odiava aquele professor.
Depois da aula ter acabado fomos todos para o estacionamento onde cada um tomaria seu rumo de volta para casa, eu ia passar o resto do dia com a Maya. Ou era o que eu achava.

-Millena espero que entenda. -diz Maya.
-Mas nós combinamos que íamos passar o resto do dia juntas, não acredito que vai me largar por alguém que você nem se deu ao trabalho de me contar quem é. -digo indignada. Maya estava saindo com um cara a algum tempo, e ela afirmava não poder me contar para o meu bem, que não era a hora exata para saber. Não me importava com a hora exata, só achei que tinha o direito de saber quem estava saindo com a minha melhor amiga.
-Já disse que é complicado, não posso te contar quem é agora, mas eu prometo docinho, que assim que puder eu te conto. Por que você não vai para casa do Allan? -sugere ela.
Olho para o Allan que sorri e me diz:
-Vamos Milkshake, vai ser legal.
-Já disse para você parar de me chamar assim, me irrita. -disse, já perdi a conta de quantas vezes eu pedi isso.
-E por quê você acha que eu continuo chamando você assim Milkshake? -ele riu.
Maya seguiu para o encontro secreto dela e eu fui para a casa do Allan; eu gostava de ir lá, era como se eu estivesse em casa.
Chegamos no apartamento dele; que era enorme, a porta de entrada dava direto para a sala, que ficava do lado da sala de jantar, que ficava do lado da cozinha, e do lado da sala de cinema, e lá em cima os quartos e assim por diante, o apartamento era realmente muito enorme.
Quando chegamos nós nem comemos, começamos a assistir séries, nós tínhamos muitas séries para atualizar.
-Estou com fome, vou fazer pipoca Allan. -declarei já levantando e indo até a cozinha.
-Vai lá Milkshake. Ah, eu comprei pipoca de micro-ondas. -falou ele.
-Por que comprou pipoca de micro-ondas? -perguntei arqueando uma sombrancelha.
-Porque sou muito novo para morrer num incêndio. -debochou.
-Engraçadinho. -dei um tapa no ombro dele e fui para a cozinha. Da última vez em que fizemos pipoca eu acabei acionando o alarme de incêndio. Os bombeiros chegaram aqui em 5 minutos mas eu já tinha apagado o fogo com a toalha de louça do Allan.
Fui procurar a pipoca mas ela não estava naquela cozinha, fiquei um bom tempo procurando.
-Hey, porque está demorando tanto Milli? -ele gritou da sala.
-Talvez porque não tenha comida nessa casa. -gritei de volta.
Ouvi ele se levantar e vir até a cozinha.
-Duvido que não esteja aí, deixa eu procurar. -disse remexendo no armário- Aaaah, lembrei.
Ele foi até a geladeira e tirou de lá dois pacotes de pipoca de micro-ondas. Olhou para mim sorrindo e disse:
-Aqui está!
Revirei os olhos e me sentei na bancada de granito, e fiquei vendo ele botar a pipoca no micro-ondas e depois decidir que seria uma ótima ideia fazer brigadeiro também. Depois que ficou pronta, botei a pipoca em um pote e coloquei sal;
-Terminei, acho que está bom. -disse ele desligando o fogão e em seguida pegando o brigadeiro com uma colher e estendendo para que eu provasse, mas aquele brigadeiro nunca chegou na minha boca, ele desviou a colher e eu fiquei toda suja de brigadeiro, parecia que eu tinha sardas de brigadeiro já que a arte dele ia de uma bochecha à outra. Ele começou a rir tanto que nem percebeu quando peguei a colher e sujei toda a cara dele. A expressão dele agora era séria, quem estava rindo era eu. Ele me pegou pela cintura e tentou me jogar no chão mas fiz ele se desequilibrar, então ele caiu em cima de mim. Nós não conseguíamos parar de rir. Então trombei com os olhos dele, não consegui desviar o olhar, ficamos parados olhando um para o outro ofegantes por uns três segundos e depois começamos a rir de novo.
Voltamos para a sala de cinema e comemos a pipoca e o que tinha sobrado do brigadeiro;
-Millena -chamou o Allan olhando para a TV, o filme tinha acabado e estavam passando os créditos.
-Que foi? -olho para ele.
-Qual é a coisa que você mais odeia? Que você não suporta que façam? -ele pergunta, agora está olhando para mim.
-Como assim? -pergunto colocando minha cabeça sobre seu colo dando a ele a mensagem de que eu queria que ele fizesse cafuné na minha cabeça.
-Tipo arranhar as unhas na madeira ou comer de boca aberta, ou sei lá, talvez algo que te magoe, algo que você considere imperdoável. -diz olhando sua mão que agora acariciava minha cabeça.
-Não sei -olho para o teto pensando em alguma coisa- Odeio que mintam para mim, mais que tudo, acho que o fato de uma pessoa mentir para mim significa que não sou importante o suficiente na vida dela para saber a verdade.
-Mas uma pessoa também pode mentir para proteger alguém que ama -ele diz olhando para mim e depois desviando o olhar.
-A mentira não protege ninguém, só machuca a pessoa que você quer proteger! -digo me levantando bruscamente de seu colo, ele me olha assustado, mas depois sua expressão volta a ficar calma.
-E se eu mentisse para você? -me pergunta olhando em meus olhos.
-Por quê está me fazendo essas perguntas? -ele desvia o olhar.
-Nada, esquece, só estava testando você -diz dando de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
-Não está mentindo para mim, está? -me indireito no sofá.
-Não, claro que não! Eu nunca mentiria para você, Milmshake!-ele diz rápido como se a simples menção disso fosse um absurdo.
-Me promete. -ele olha para mim confuso.
-O quê? -reviro os olhos com sua lerdeza.
-Vai, me promete. -eu estendo o meu dedo mindinho para ele. Ele enlaça seu dedo mindinho no meu, pronunciando nossas palavras sagradas nesse ritual bobo e sem graça que fazemos à quatro anos:
-Eu prometo.


          Esse foi primeiro capítulo
          Espero que gostem❤

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