A Hallen Perdida

Capítulo 46

Olho pela janela do carro ansiosa.
Aquele celestial que pode trocar de forma e se transformar em outra pessoa que o Anthony arrumou é simplesmente sensacional! Anthony me disse que ele é um metamorfo, existem poucos deles, e eles são muito cobiçados pelos condados pela questão de espionagem. Ele me disse também que tem um desses trabalhando na dimensão obscura, como um espião para dimensão celestial.
Ele se transformou em mim em um piscar de olhos, e não sei como Anthony conseguiu convencer Daniel a ajudar mas vou ser eternamente grata pelo que ele está fazendo.
-Eu sabia que você conseguiria! -ele diz olhando para mim.
-Conseguiria o que? -pergunto um pouco confusa.
-Blake. Ele está em um passeio a cavalo com Josh e Thommy agora. -ele fala feliz. Tento não transparecer minha tristreza. Não por Blake ter voltado ao normal, estou feliz que Anthony conseguiu o irmão de volta. Mas ele nunca vai voltar ao normal comigo.
Talvez seja melhor assim. Todo esse relacionamento com ele, se é que podemos falar do que tínhamos desse jeito, era tão difícil, tão cansativo. Valia à pena. Mas não vale mais. Preciso me concentrar em outras coisas. Vou ser uma rainha logo. Preciso me concentrar em evitar pretendentes, o que não estava nos meus planos até uma hora atrás, aprender tudo o que posso sobre essa dimensão e tentar agradar meu povo.
Ainda tenho essa entrevista. Onde vou ter que ser extremamente cuidadosa sobre o que falar e como falar.
Tudo o que eu menos preciso agora é pensar no Blake, no entanto, parece ser a única coisa que sei fazer.
-Millena? -Anthony me chama, me tirando dos meus pensamentos.
-Sim?
-Você não machucou seus braços no treino. -ele diz. Uma afirmação e não uma pergunta. Ele sabe.
-É, sua mãe tem um jeito bem estranho de ensinar. -falo com um sorriso fraco.
-Blake vai ficar...
-Blake não pode saber! -digo rápido- Por favor, você não pode contar ao Blake. Eu sou uma futura rainha de um grande condado de uma dimensão que eu nem sabia que existia alguns meses atrás. Eu posso cuidar disso. Por favor.
-Ok. Mas se passar dos limites...
-Você pode se intrometer, desde que não conte ao Blake! -falo.
Ele assente e depois olha pela janela.
-Chegamos. -ele diz me olhando- Duas delas perderam a casa por não ter dinheiro pra pagar o aluguel, então foram morar na casa da mais velha.
Saio do carro quase correndo e vou até a pequena casa de madeira, praticamente caindo aos pedaços.
Bato na porta desesperada, sem nem pensar. Quem abre é um garoto, não muito velho, parece ter uns 20 anos. Cabelos bagunçados, olhos grandes e castanhos, ombros largos e bonitos, rosto um tanto escultural. Não é hora pra isso!
-Oi, Mary está? -pergunto.
-Millena? -ouço a voz de Chloe me chamar de dentro da casa.
Quase atropelo o rapaz tentando entrar. Vou direto para a sala, que é ligada à cozinha, onde todos estão comendo.
Mary levanta confusa. Ela tem um pouco mais de idade, mas é tão linda que até fico sem ar ao vê-la. Vou correndo até ela é me jogo em seus braços. Ela tem sido uma amiga, quase uma mãe, não vou permitir que mais nada aconteça a ela ou às outras.
Eles são parte da minha família também.
Mary retribui meu abraço e acaricia meus cabelos. Ela sussurra mais para ela mesma do que para mim:
-Vou acabar tendo um ataque cardíaco um dia desses. -meu riso é abafado pelos cabelos encaracolados de Mary.
-Senti tanto sua falta. -sussurro com voz de choro.
-Millena, o que faz aqui? -pergunta Chloe.
Me afasto de Mary e olho para a porta, Anthony ainda não entrou. Assobio alto, sinalizando para ele entrar.
Ele entra com as três malas de dinheiro. Ajudo ele quando vejo que ele está quase se matando para carregar tudo sozinho.
Todos ficam confusos, jogo uma das malas no chão e abro. Eles arregalam os olhos quando vêem a quantidade de dinheiro dentro da mala.
-Não podemos aceitar. -Louise diz, quebrando o silêncio.
-Podem sim. O que fizeram com vocês não foi justo e foi minha culpa. Vocês vão aceitar esse dinheiro, ou celeste, como preferirem, e vão viajar, conhecer novos condados. Essa dimensão é bem grande e bem linda. E quando eu for coroada. Estarei esperando por todos vocês para serem minhas damas de companhia, e guardas pessoais, se vocês quiserem.
Todos me olham assustados. Mary tem lágrimas nos olhos e Chloe carrega o maior sorriso já visto no rosto. As três se jogam em cima de mim, quase caio mas consigo me equilibrar a tempo.
Vou embora logo depois, não posso ficar muito tempo ali, infelizmente.
Chego na casa da duquesa e me encontro com Daniel e o celestial que estava se passando por mim.
-Você demorou. -diz Daniel no meu ouvido.
-Muito trânsito, desculpa. -brinco e ele balança a cabeça escondendo um sorriso- Muito obrigada, aliás. Você foi de grande ajuda.
-Quando precisar, fico feliz em ajudar. -ele diz e pisca para mim antes de voltarmos para o Jardim, onde a duquesa e Crystal nos esperam.
-Parece que aproveitaram bem o passeio. -diz a duquesa com malícia.
-Com certeza! -diz Daniel, olhando pra mim com malícia.
-Foi um passeio muito agradável, de fato. -falo debochando e Daniel segura uma risada.
-Bom, está na nossa hora, precisamos chegar a tempo do jantar. Se nos dá licença, duquesa. -Crystal levanta e desamassa o vestido já completamente liso. Ela olha para a duquesa com um sorriso- Está convidada para jantar conosco qualquer dia desse e vou ficar extremamente chateada se não te vir no baile de aniversário dos meus filhos. Leve sua sobrinha para conhecer Blake, ela com certeza vai se destacar entre as pretendentes.
Meu estômago gela na hora. Sinto vontade de vomitar todo meu café da manhã.
Eu devia ter adivinhado que algo do tipo aconteceria. Ele é o futuro rei, ainda sem uma rainha. Bem no fundo sinto um alívio por Summer não ser a primeira e única opção. Pelo menos assim ele pode se casar com uma garota legal. Ser feliz.
O sorriso sai do rosto de Crystal assim que entramos no carro. Continuo olhando para baixo, pensando.
-Você nunca vai aprender, não é? -ela pergunta. Sei exatamente do que ela está falando. Olho para ela confusa.- Eu sei de tudo garota. Estou sempre dois passos à sua frente, menina tola.
-Tentar não custa nada, Majestade.
-Custa sua vida. -ela rebate.
-Você não pode me matar. Se me matar será executada, e você não suporta a ideia de perder o poder. E é por isso que não me quer perto do seu filho. Porque se eu me tornar a rainha do Blake, você não poderá me controlar. -sorrio de lado para ela.
-Você está certa, quando se tornar uma rainha, não poderei mais controlar você. Mas até lá, você está na palma da minha mão, menina tola. -ela estende a mão escaldante e pega meu braço com força.
Aceito a dor, grito apenas quando ela começa a arrastar sua mão por todo o meu braço.