A Hallen Perdida

Capítulo 53

Quase arrombo as portas da enfermaria. Olho para os lados frenéticamente, procurando por Blake. Preciso salvá-lo, antes que seja tarde. Se já não for tarde.
Chego na recepção e a menina atrás da bancada me olha assustada. Ela não diz nada, só aponta para o quarto número 4, tremendo.
Não entendi porquê ela estava tão assustada até olhar pelo reflexo de uma das janelas. Meu olho estava completamente preto. Não havia parte branca, estava tudo em um preto tão escuro quando o breu da noite. Me assustei um pouco quando me vi assim, mas ignorei e continuei, eu não tinha tempo para auto-críticas.
Não se passou muito tempo desde que me cedaram, eu acordei muito mais rápido do que eles esperavam. Vim assim que ouvi que Blake estava vivo, ou pelo menos está tentando ficar assim.
Começo a correr quando vejo o quarto número 4, e entro lá quase derrubando a porta. A doutora está lá, assim como Blake, ainda inconsciente. Mas o que realmente me deixou furiosa, foi Summer ao pé da cama, conversando com a doutora enquanto vários médicos estavam em cima de Blake ajudando-o a se manter vivo.
Vou até Blake e coloco a mão em seu coração. Suspiro de alívio, ele está vivo.
-O que fizeram com você, meu amor? -lágrimas escapam dos meus olhos.
-Millena, você não pode...
-Quero que saiam! -falo com autoridade.
-Mas, Alteza...
-Agora! Saiam todos! -grito e os médicos saem apressados, como crianças ao ouvir o sinal do recreio; mas Summer continua lá parada, me olhando com superioridade.
-Eu não vou deixar você ficar sozinha com o meu... -Não deixo que ela termine de falar. A pego pelo pescoço e a jogo na parede.
-Eu garanto que você não vai querer comprar uma briga comigo, Summer! -olho para ela e a mesma parece finalmente perceber o meu estado. Ela arregala os olhos e sai do quarto.
Olho para o Blake e coloco a mão sobre seu coração.
-Eu juro, Blake, se eu morrer por culpa sua eu vou ficar muito brava. -falo começando a curá-lo. Sinto uma ferida se abrir na minha barriga. A dor é insignificante, me sinto anestesiada. Me afasto devagar da maca, criando espaço para que eu não bata a cabeça quando cair. Ele está curado. A ferida que se abriu em mim vai se curando, mas já estou muito cansada, e a ferida não cura totalmente. Fico tonta e apenas me deixo cair no chão batendo a cabeça e desmaiando, podendo finalmente descansar, sabendo que ele está vivo.

Acordo em meu quarto. Olho para o lado e Blake aparece em meu campo de visão. Ele vêm até mim quase correndo.
-Eu estava tão preocupado! -ele diz e me abraça com força.
-Nunca mais me deixe, por favor! -falo chorando no peito dele.
-Não vou! Eu prometo! -ele diz acariciando meus cabelos- Tudo vai ficar bem, minha querida! Ninguém pode nos separar! Nem mesmo você!
Ele me beija com força e desespero. Me afasto de olhos fechados.
-Minha querida? -digo e olho nos olhos dele. Não é o Blake.
Ele me pega pelos cabelos e me beija com força. Me afasto e quando olho para ele, James sorri pra mim e ri com euforia.

Acordo sobressaltada. Estou no meu quarto, mas não tem ninguém aqui comigo.
Uma dor de cabeça terrível me atinge e fico um pouco tonta. Coloco a mão sobre onde estava a ferida, está curada. Me levanto, ainda estou com o vestido de raposa, está ensanguentado e sujo. Mas a primeira coisa que faço não é me trocar, corro até a enfermaria à procura do Blake. Preciso achá-lo! Preciso tocá-lo, senti-lo. Preciso sentir que ele está vivo, não vou acreditar se não ver. Preciso tirar esse aperto no peito que envolve meu coração. Entro correndo lá e vou para o quarto dele, ele não está mais lá. Vou até a recepção e quase mato a recepcionista de susto.
-Onde está o Blake? -pergunto, soando desesperada.
-Ele acordou e foi procurar por Vossa Alteza! -ela diz confusa. Um suspiro de alívio escapa da minha boca. Deu certo. Blake está vivo.
Saio correndo dali e vou para o quarto dele, ele não está lá. Continuo correndo pelos corredores até chegar na escada principal. Vejo Blake entrar correndo pela porta principal. Ele para, me observando ofegante.
Fico parada, olhando para ele. Algumas semanas atrás estávamos na mesma posição. Summer ao lado dele, eu com uma mochila nas costas. Eu fugi daquela vez. Será que eu o faria de novo? Quer dizer, não é isso que eu sempre faço? Ele me deixou sozinha em uma sala fazia e fria. E por quê?
Mas eu não poderia fugir. Quero dizer, alguma vez deu certo? De algum jeito Blake e eu sempre encontramos nosso caminho de volta um para o outro. Por que adiar o inevitável?
Dou um passo nas escadas e desço cada degrau lenta como uma tartaruga. Esperando para ter uma crise a qualquer momento e fugir dali correndo. Chego na ponta da escada e Blake está na minha frente.
-Então, o quão bonito eu fico à beira da morte? -ele pergunta com seu sorriso de sempre. Como ele podia falar desse jeito?! Ele não passava de um babaca! Toda minha angústia e dor se transformam em raiva.
Levanto minha mão para bater nele mas ele segura meu pulso e me puxa fazendo com que nossos corpos colidam, nossas respirações se cruzem e nossos corações acelerem, disputando para ver quem consegue bater mais rápido.
Olho dentro dos olhos dele, e ele me olha com intensidade. Ele me puxa contra si e junta nossos lábios de forma desesperada, em um beijo longo e profundo. Me entrego a ele. Cada parte. Ele está vivo. Estava na minha frente, me tocando de um jeito que achei que nunca mais fosse tocar.
Me afastei quando precisei de ar, só então percebi que estava chorando. Olho nos olhos dele com dor.
-Por que me deixou? -pergunto com a mágoa estampada em minha voz.
-O seu medo quando te interciptei na escada, amor! Nunca vou deixar alguém fazer você se sentir daquele jeito de novo! -ele fala acariciando meu rosto. Tiro suas mãos do meu rosto e dou um passo para trás.
-Mas você fez eu me sentir assim, Blake! Eu nunca senti tanto medo em toda minha vida! Eu não sabia que podia me sentir tão vazia ou desesperada! Achei que estivesse morto! Achei que tinha te perdido!
-Não acho que isso seja possível, amor! Você não vai me perder, nunca! -ele me interrompe e me abraça. Suspiro quando consigo sentir as batidas do seu coração- Eu estou aqui! Eu não vou a lugar nenhum! Mas tem que me prometer que nunca mais colocará sua vida em risco daquele jeito! Por favor!
-Só se você prometer nunca mais me deixar! -falo e olho em seus olhos. Ele assente e me beija.
-Eu prometo! -ele fala e me olha, esperando minha vez.
-Eu prometo! -falo com um meio sorriso.
-Seja minha namorada! -ele fala com angústia, e posso ver que está suplicando por uma resposta com os olhos, porque no rosto, ele carrega um sorriso.
-O quê? -pergunto confusa e com os olhos arregalados.
-Não vou aguentar mais um segundo neste Palácio sem poder chamar você de minha! -tento protestar mas ele continua- E não me importo o que isso causa na minha vida. Não importa o que minha mãe vai fazer, não importa a estúpida coroa! A única coisa que eu sempre quis foi você, com ou sem coroa! Por favor!
-Sim! -falo com um sorriso enorme no rosto.
-O quê? -ele pergunta confuso e começo a rir.
-Eu disse sim, Blake! -minha afirmação leva um sorriso ao rosto dele.
-Sério?
-Sim! -quase grito de felicidade.
Ele me levanta do chão e me beija diversas vezes.
-Agora nós somos tipo, namorado e namorada? -pergunto ainda um pouco zonza.
-Acho que somos, amor!
-Então, acho que é oficial! -Blake me solta quando ouve a voz de seu pai.
-Agora não, por favor! -Blake pede, segurando minha mão e me colocando um pouco atrás dele. Não entendi o porquê, o pai dele nunca implicou comigo. Mas então, vi Crystal logo atrás do rei, ela não parecia feliz.
-Millena, vá para o seu quarto, é hora de uma conversa em família! -O rei pede com um sorriso simpático.
-Não! -diz Blake mas eu o impeço de continuar com um aperto no braço.
-Está tudo bem, Blake! Eu te espero no meu quarto, o.k.? -pergunto com um sorriso fraco.
Ele assente de cara fechada e dá um beijo na minha testa. Pisco de uma forma engraçada, o que faz ele sorrir um pouco.
Caminho para o meu quarto, vou limpando tudo que posso no caminho; os obscuros deixam muito mais sangue pra trás do que a rebelião.
Pego um livro e sento na minha cama. Faço tudo menos ler. Não consigo me concentrar no livro um segundo sequer. Acabo dormindo, o que eu mais temia que acontecesse.