Quando acordei estava no quarto do Allan, na cama dele, e quando olhei para frente vi ele deitado no sofá que tinha em seu quarto. Levantei e fui até ele, sacudi ele dizendo:
-Acorda Allan, segundo dia de aula, vamos.
Ele soltou grunhidos e tentou se levantar.
-Sabe que não precisava ter me colocado na sua cama né? Eu estava bem no sofá. -disse agachada ao lado do sofá onde ele dormira.
-Sabe que eu não iria deixar você com as costas doendo só por causa de um capricho meu né? E eu estava bem observando você dormir. -disse ele com um sorriso, mas ainda com o sono estampado na cara.
-Nem vou dizer que isso é esquisito, vou tomar banho. -avisei enquanto caminhava para o banheiro.
-Isso foi um convite?-perguntou ele com aquele tom de voz malicioso que sempre usava com as garotas que ele pegava. Revirei os olhos e peguei o travesseiro que estava em cima da cama e atirei nele, e eu ainda errei, o que só fez ele rir mais da minha cara.
Terminei de tomar banho e me vesti, logo ele foi também, sem deixar de fazer piadas maliciosas quando saiu do banheiro só de toalha(vou poupar vocês disso). Não tomei café, estava enjoada das comidas de ontem. Não devia ter comido tanto.
Descemos e entramos em seu Corvette Stingray preto. Só sei o nome desse carro porque quando ele comprou ficou um mês falando dele, como aquelas garotas que ganham aliança e ficam fazendo de tudo para mostrar a aliança. A família do Allan era mesmo muito rica.
Estávamos indo buscar a Maya para ir para a escola já que o Allan era nossa carona universal.
-Acha que vou conseguir? -pergunto olhando para frente. Eu havia feito um teste para entrar em uma das melhores escolas de arte de Nova York, fazia algumas semanas e estava esperando a carta de aceitação, ou rejeição, desde então.
-É claro que vai conseguir! Não há uma coisa que Millena Miller não consiga fazer, pelo menos não a minha Millena. -diz parando no sinal vermelho e virando para olhar para mim -Se não te aceitarem são idiotas! Você é uma ótima artista, e mesmo que eles não te aceitem, vou estar sempre aqui para te lembrar disso. -diz me fazendo sorrir.
-Obrigada, mas eu não sou sua. -digo e agora é a vez dele de sorrir. O sinal abre e ele volta a olhar para frente, ficamos alguns minutos apenas comigo cantando uma música que estava passando no rádio e fazendo movimentos que eram para ser uma dança. Era. Ele ria cada vez que eu cantava uma música errado ou quando eu bati o cotovelo na porta do carro e fiquei xingando tanto a mim quanto a porta.
Se passaram alguns minutos de silêncio, então ele me perguntou:
-Hey, você se lembra da Aisha?
-Aquela sua ex namorada vadia que te chifrou três vezes? -olho para ele.
-Essa mesmo. Imagina se eu ela voltassemos. -diz ainda olhando para frente.
Eu comecei a rir e disse:
-Seria o inferno na Terra, e sem falar que dessa vez iríamos precisar de um saco maior para guardar seus cacos, bebê. -o provoco batendo de leve meu dedo em seu nariz.
-Ha Ha Ha, muito engraçado Milkshake. -diz num tom de ironia.
Paramos em frente à casa da Maya que já estava ali fora nos esperando.
-E aí minha pessoa favorita; Ah oi Allan. Vocês demoraram, acho que devido ao custo desse carro ele deveria andar mais rápido, não acha? -provoca Maya. Eu convivo com duas crianças.
Allan revira os olhos e segue para a escola. Tive que ficar o caminho inteiro ouvindo o Allan dizer quantos quilômetros o carro andava por litro, seguido por um barulho esquisito que a Maya fazia por não ter argumentos já que não entendia nada do que ele estava falando. Finalmente chegamos e vamos para a aula é um dia chato pois hoje não tem literatura e a aula passa rápido. No final da aula esbarro em alguém e quando viro para pedir deculpas me deparo com Shade Becker na minha frente, aproveito a oportunidade que o destino me deu e pergunto à ele:
-Hey, você está sabendo que temos um trabalho juntos não é?
-Ah sim, fiquei sabendo, eu só não fui a aula de literatura porque precisava evitar aquela lunática. -diz arregalando os olhos.
-Sabe seria muito mais fácil se você simplesmente dissesse à ela que acabou. -levanto as mãos com as palmas para cima num tom de sugestão- Olha quer saber, não é da minha conta, apenas apareça nas aulas e marcamos um dia para fazermos o trabalho. Okay?
-Perfeito. Obrigada Millizinha. -diz ele.
-Você me chamou do quê? -pergunto paralisada. De onde ele tirou essa intimidade toda?
E ele sai com aquele sorriso canalha dele, mas ele não parecia ser tão babaca assim, afinal.
Fui para o meu armário guardar minhas coisas para depois ir para casa e vi Allan me esperando lá, cheguei mais perto e perguntei:
-Hey, tá afim de ir lá para casa?
-Na verdade eu tenho umas coisas importantes para resolver, não vou poder ir. -diz ele pondo as mãos no bolso, tinha alguma coisa estranha em sua voz.
-Então por quê está aqui? -perguntei.
-Eu vim para conversar sobre o que você disse hoje de manhã, não acho que Aisha seja tão vadia assim. -diz ele parecendo estar acreditando no que ele estava dizendo. Ele não pode estar falando sério.
-Mas ela é, sinto muito, mas uma hora você vai ter que aceitar. -digo a ele em um tom mais sério agora. Não posso deixar ele se iludir com a ideia de que ela pode mudar, de novo.
-Você não a vê como eu a vejo. -diz parecendo estar irritado.
-E você não vê a quantidade de chifres na sua cabeça? -retruquei, fechando a porta do meu armário, para ver se o barulho acordava ele desse sonho ridículo. -Ou será que faltam mais alguns chifres para você completar a coleção?!
-Ah quer saber? Esquece. Vejo você amanhã Millena. -ele diz e vai embora pelo corredor, até tento chamá-lo mas ele já está longe para ouvir. Isso foi estranho, muito estranho.
Fui para minha casa a pé dessa vez, pensando no que tinha acontecido com o Allan, porque ele tinha sido grosso daquele jeito? Isso não era dele.
Quando cheguei minha mãe já tinha preparado o almoço; ela não me viu chegando então fui por trás dela e a assustei, ela me xingou no começo e depois riu.
Sentamos na mesa; minha casa não era tão luxuosa quanto a do Allan, a sala e a cozinha eram praticamente uma só, havia dois quartos, um meu e outro da minha mãe, morávamos praticamiente nos fundos de Nova York, era simples, mas era o meu lar. Começamos a comer na pequena mesa que havia entre a sala e a cozinha.
-Filha, você....
-Eu estou bem mãe, não precisa me perguntar e eu acho que posso resolver isso sozinha okay? -digo irritada.
-Eu só ia pedir para me passar o purê de batata. -diz apontando o purê- Mas já que está com problemas pode começar me passando o purê e depois conta o que aconteceu. -diz estendendo as mãos para pegar o purê.
-Tá, okay. -digo passando o purê- Eu e o Allan tivemos uma briga, eu acho.
-Como assim? Você e o Allan nunca brigam.
-É, eu também achava isso.
-Tá mas por quê exatamente vocês brigaram?
-Pelo que entendi, ou seja, nada. Acho que ele voltou a se falar com a Aisha.
-Essa não é a garota que traiu ele três vezes já? -pergunta ela meio confusa tentando acompanhar minha vida social.
-Essa mesmo. -falo, mas logo mudo de assunto -E aí, como vai você e o cara gostosão da.... padaria?
-Millena! Mais respeito com a sua mãe! E é do restaurante. Ele me chamou para sair. -diz normalmente me fazendo arregalar os olhos.
-Meu Deus! E quando vocês vão sair?! -pergunto com a curiosidade já não cabendo em mim.
-Não vamos, eu disse não. -ela diz como se fosse uma coisa normal. Como se fosse uma coisa NORMAL!
-Mãe, você vai ligar agora para ele e vai dizer que aceita sair! -ela nega- Já tá mais que na hora de você arranjar um namorado! Ou você quer ser a tia dos gatos para o resto da vida?
-Eu não preciso de ninguém filha, eu me viro, e muito bem, sozinha! -diz na defensiva.
-Não estou dizendo isso, sei melhor que ninguém que você não precisa de homem nehum para se virar. Eu sou a prova disso. Mas você precisa de alguém para pelo menos tentar ser feliz! -ela parece pensar no assunto. Como se adiantasse ela pensar ela iria nesse encontro nem que eu tivesse que ligar para o cara.
-Vamos fazer um acordo -diz parecendo ter a ideia mais brilhante de todas- Vou ligar para o cara do restaurante se você fizer as pazes com o Allan -penso um pouco- Pode deixar seu orgulho de lado por 5 minutos? Ele é seu melhor amigo! Ele te entende, e você o entende também. Vocês sempre se entenderam. O quê a faz pensar que não se entenderiam agora?Terminamos de comer, eu estava sentada quando terminamos de limpar tudo, pensando na briga que eu tive com o Allan e na proposta da minha mãe.
-Okay mãe, eu vou lá. -disse me levantando.
-Ótimo minha filha. E como acordo é acordo -diz balançando o celular no ar.
Ela chega mais perto, dá um beijo na minha testa e me deseja sorte.
Vou para casa do Allan pensando no que diria à ele; ele merecia um pedido de desculpas, fui grossa e nem pensei no que tinha dito, simplesmente saiu, eu fazia isso às vezes e tinha que parar.
Cheguei na casa dele e como sabia que ele nunca trancava a porta apenas entrei sem nem pensar ou bater antes de entrar, nunca me arrependi tanto.
E lá estava ela, Aisha, por algum motivo com um ar triunfante, acho que já imaginava o por quê. Ah Deus, de novo não por favor.
Ela olhou para mim, sorriu e disse:
-Olha que engraçado, não sabia que você e o Allan ainda eram amigos, parece que sou a única capaz de tirar ele dessa fase. -diz colocando aquelas malditas mãos perfeitas naquela maldita cintura perfeita.
-Fase? -perguntei com desdém- Bom não que você saiba o que tem acontecido na vida dele nesses últimos tempos nao é?, ele estava ocupado demais com a "fase". -digo fazendo aspas com os dedos.
-Bom, por que não aceleramos isso logo? Você tem que sair da vida do Allan. -diz enrolando seu cabelo loiro quase branco, a mesma ceninha de sempre.
-Não saí nas últimas três vezes, por quê acha que sairia agora? -perguntei.
-Simples, ele é feliz comigo, já com você -ela me olha de cima a baixo- hum, nem tanto, se não por quê ele esconderia de você que eu e ele voltamos? Já que são tão amigos assim, ou talvez não sejam, já parou para pensar nisso, querida?
Fiquei sem palavras, ele tinha que ter me falado algo, tinha que ter me contado. Não! Não, não, não! É exatamente isso que ela quer, eu brigo com o Allan e ela fica livre para magoar ele o quanto quiser.
-É isso que você quer, não é? Não vai funcionar comigo. -digo.
-Ah tudo bem, sua resistência só torna acabar com a amizade de vocês ainda mais divertido; se é que ele ainda te considera como melhor amiga dele, não é? -diz ela com um ar de triunfo, eu realmente odiava ela.
Tudo bem, aquilo havia sido a gota da água, eu não me aguentei.
-Como é que é sua vadia?! -gritei.
-O que está acontecendo aqui? -pergunta Allan passando pela porta de sua casa.
Mas é claro que ele tinha que chegar bem agora, bem nessa hora, nesse momento crucial, juro que nessa hora quase ouvi alguém dizendo "corta".
Aisha fez a sua melhor cara de cachorrinho que tinha sido abandonado na mudança e começou:
-Amor, e-eu não sei, ela simplesmente chegou aqui e começou a me xingar, não sei o que fiz para ela.
Espera aí, aquilo eram lágrimas nos olhos dela? Odiava confessar mas ela havia melhorado nisso. Ela andava fazendo aula de teatro?
-Como é que é? -perguntei com desdém, quase gritando de novo.
-Millena acho melhor você ir. -disse Allan, claramente dividido entre a mulher que achava que amava e a melhor amiga, mas todos nós sabíamos quem ele escolheria no final.
-Espera um pouco, você vai mesmo acreditar nela? Quantas vezes ela já mentiu para você? Boa sorte para fazer a conta. -disse ficando com mais raiva do que o normal.
-Millena eu pedi para você sair, por favor. -disse ele olhando dentro dos meus olhos, os olhos dele estavam diferentes, nem parecia...o Allan. Os olhos sombrios, cheios de escuridão, por um momento, um breve momento tive medo dele, e pela primeira vez não foi difícil desviar o olhar.
Aí olhei para trás e vi Aisha sorrindo como se tivesse ganhado o Óscar. E a única coisa que senti naquela hora foi raiva, raiva por tudo que aquela vadia podia causar apenas com uma lágrima falsa descendo pelo olho direito.
-Se eu for, eu não volto mais. -disse com medo da resposta do Allan, mas no fundo eu sabia e ele também, todo mundo sempre sabia qual seria a sua escolha. E ele escolheu. Apenas apontou a porta e disse aquelas palavras que foram como um murro na minha cara:
-Você já conhece a saída.
Ele tinha escolhido, escolhido ela, de novo, mas dessa vez seria diferente, porque quando ele quebrasse a cara, eu não estaria mais ali para ajuntar os cacos.Bye, Bye❤❤❤
Talvez eu poste mais um ainda hoje.
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A Hallen Perdida
Teen FictionComo você lida com uma mentira? Seria capaz de perdoar uma mentira vinda da pessoa que você mais ama? Mas o quê você faria se descobrisse que toda sua vida não passou de uma mentira?