Capítulo 9

25 3 0
                                    

Olho ao meu redor. É um quarto. Enorme. Esse quarto é maior que a minha casa! Todos os quartos aqui são maiores que a minha casa?! Era maior que o quarto onde eu havia acordado, e tinha mais coisas. Havia um tipo de hall de entrada na lateral do quarto com uma escadinha para realmente chegar ao quarto.  Havia no lado esquerdo da cama uma estante que ia até o teto, cheia de livros, mas.... Não eram quaisquer livros, eram meus livros! Havia uma escada para que conseguissem alcançar os livros, ao lado havia uma janela enorme e um  banco grudado nela com um estofado e com almofadas por cima que faziam parecer uma mini cama, e..... Ah meu Deus! Uma máquina de fazer café! Havia mais dois cômodos no quarto, um closet do outro lado do quarto, cheio de roupas e jóias, algumas roupas também eram minhas. O outro cômodo era o banheiro, que nem preciso dizer que era maior que meu quarto. Uma cama enorme ficava no meio da parede do quarto, um pouco mais afastado da cama havia uma escrivaninha com vários tipos de maquiagem e um espelho enorme, havia até algumas fotos minhas e dos meus amigos, até da minha mãe colado nas "bordas" do espelho, mas não tinha nenhuma foto minha e do Allan. Havia mais uma janela enorme no quarto, as paredes eram brancas com algumas estantes, mas a parede em frente a cama estava sem nada além da tinta branca que cobria cada centímetro do quarto.
-O que é tudo isso? -perguntei olhando para o Blake.
-É seu novo quarto, não contávamos com sua chegada antecipada então quando você chegou tiveram que terminar às pressas. -olho pasma para ele.
-Tudo isso é para mim? -ele assente sorrindo.- Allan... -fecho os olhos- Quer dizer, Blake! -suspiro- Desculpa.
-Tudo bem, eu entendo. -diz magoado.
-Não, você não entende! -passei as mãos nos cabelos. Tudo isso, era culpa dele, se não fosse por ele talvez nunca teriam me achado e eu não estaria aqui agora. Sei que seria egoísta e idiota da minha parte, ele tinha feito tudo isso para mim! Mas isso não ia apagar o que ele fez!- Você não entende! Toda vez que você sorri, ou me olha com essa cara eu vejo o Allan, daí eu lembro que o Allan nunca existiu! -tento segurar as lágrimas- Que ele foi uma mentira! Que nossa amizade foi uma mentira! Que minha vida toda foi uma mentira!
-Millena eu.....
-Você mentiu para mim! Você era meu melhor amigo! -eu já estava gritando- A pessoa em quem eu mais confiava! Eu confiei em você, e você mentiu para mim!
-Você fala isso como se nunca tivesse mentido! -ele já está gritando também.
-Eu posso já ter feito um monte de merda na minha vida mas eu nunca menti para você! -gritei ainda mais alto com lágrimas nos olhos.
-Quer saber de uma coisa?! -grita se aproximando, ele está muito bravo e eu recuo para trás um pouco assustada. Ele me encurala na parede e aponta o dedo na minha cara- Eu não quero seu perdão! -diz bem baixo e ameaçador, o que me faz ficar com medo dele- Sabe, não foi fácil achar você, a parte fácil foi fazer você acreditar que eu queria ser seu amigo. Por quê diabos você acha que alguém iria querer ser seu amigo? Você, é só uma garotinha insegura e fraca, não passa de uma humana idiota que pode um dia ser útil, mas deixa eu te lembrar de uma coisa, você não é útil para nada e nem para ninguém. Será que seu pai se sacrificou mesmo por você? Ou só te deixou porquê sabia que você era uma inútil? Não sei como a Marta te aguentou por 17 anos, eu quase não aguentei 4!
Meus olhos estavam cheios de lágrimas que caíam a todo momento. A raiva me preencheu. Tudo de ruim que já fizeram comigo, tudo de ruim do que já me chamaram voltou, era como se todas as pessoas que já me criticaram estivessem no meu ouvido repetindo tudo do que já me chamaram, eu estava destruída e a culpa era dele.
-EU TE ODEIO! -gritei o mais alto que pude batendo meus punhos em seu peito. Ele se assutou com minha reação e de repente tomou consciência do que havia dito. Seus olhos foram tomados pela culpa, como uma nuvem cobrindo o sol.
-Eu odeio você! Vai embora! Eu odeio você! -eu não conseguia conter as lágrimas, acho que sequer tentava contê-las. Só deixava cair tudo o que eu havia guardado todo esse tempo. Doía demais.
-Millena... -disse tentando se aproximar, mas eu só me afastei mais.
-Por favor, vai embora, por favor!
Ele andou depressa para fora e saiu do quarto fechando a porta. Caí de joelhos no chão. Fiquei chorando não sei por quanto tempo, levantei e me arrastei até a porta trancando-a. E me recostei na porta escorregando até o chão.
Continuei a chorar, todas as lágrimas que tinha guardado desde que cheguei aqui, tudo desmoronou, eu desmoronei, porque só agora parei e pude confirmar, pude aceitar uma coisa que estava adiando, uma coisa em que eu não acreditava até então, bom na verdade não queria acreditar. Eu o tinha perdido. Ele não existia, a pessoa em quem eu mais confiava, a quem eu contava tudo, não estava mais ali! Nunca esteve.
"Você, é só uma garotinha insegura e fraca, não passa de uma humana idiota que pode um dia ser útil, mas deixa eu te lembrar de uma coisa, você não é útil para nada e nem para ninguém."
As palavras dele ressoavam em minha cabeça. Eu era inútil, eu sabia disso. Estava ali para salvar aquela dimensão, mas eu não conseguia salvar nem a mim mesma.
Alguém bate na porta e a voz de Mary e Chloe soam abafadas graças a porta que nos separa.
-Millena! O que aconteceu? A senhorita poderia abrir a porta? -Mary grita para que eu possa ouvir.
-Trouxemos seu jantar! -Chloe exclama batendo na porta.
Me levanto a abro a porta, claro que não sem antes me agachar e olhar por embaixo da porta para ver quantos pares de pés eu via. Sou muito idiota, eu sei!
Louise, Chloe e Mary entram no quarto e vêem meu estado deplorável, ficam visivelmente preocupadas e tentam me levar para cama, mas eu as empesso enxugando as lágrimas. Elas me olham confusas, me perguntando com os olhos o que estava acontecendo.
-Preciso que façam um favor para mim. -disse juntando as mãos em forma de súplica- Mas não podem falar nada à Vossa Alteza, por favor.
-Você é nossa futura rainha, nosso dever é com você, princesa -disse Mary com orgulho e de cabeça erguida. Gostei disso.
-Eu teria gostado muito mais dessa frase se tivesse me chamado de Millena, ou até Milli. -Eu ainda não tinha conseguido convencê-las a me chamar de Millena. Mary riu da minha persistência.
-O que quer que façamos? -perguntou Louise, ela era a mais séria de todas elas, ela quase não interagia, mesmo eu puxando assunto. Lembro de como ela ficou tão vermelha quanto o cabelo de Chloe ontem à noite quando fiz um comentário sobre um guarda com quem ela estava conversando, dizendo que ele gostava dela, e ela me jurou por Santos que nem sabia que existia que eram só bons amigos. Em minha defesa, eu estava totalmente alterada graças aos analgésicos!
-Preciso que consigam para mim inúmeros e grades baldes de tinta de todas as cores que existem na sua dimensão, e todos os tipos de pincéis que encontrarem. Por favor. -elas saíram em disparada com o meu pedido.
Olhei para o meu jantar que elas haviam deixado em cima da escrivaninha, peguei o que estava no prato e levei até o banheiro, joguei na privada e dei descarga, graças à Deus aquela coisa chique não entupiu. Coloquei o prato de volta na bandeja e bebi o suco que haviam trazido junto.
Aproveitei e tomei um banho, coloquei uma simples camisa branca um pouco colada e um shorts super curto. Fui até a escrivaninha e me olhei no espelho, eu estava melhor depois do banho, como se nada tivesse acontecido. Olhei para as fotos coladas na "borda" do espelho que não era especificamente uma borda, estava mais para mini estantes cheias de acessórios e maquiagens, essas mini estantes que pareciam caixinhas empilhadas cheias de fotografias da minha vida. Comecei a rir de mim mesma, como eu entrava nessas situações, que loucura! Outra dimensão? Sério? Eu podia simplesmente ter entrado em um namoro chato ou ser traída. Sofrer uma humilhação pública. Mas não! Por quê não vir para uma outra dimensão e descobrir que tudo que você mais amava era uma mentira? Era isso! Não passava de uma mentira, tudo isso. Procurei um isqueiro pelo quarto, e não é que eu achei um perto da máquina de café? Peguei uma foto minha e da Maya e acendi o isqueiro, botei fogo na foto, e a joguei no lixeiro ao lado da escrivaninha vendo a foto se decompor com o fogo, assim como a minha vida. Fiz com cada foto, mas não consegui botar fogo na foto que eu tirara com Marta, ela havia me criado, de um jeito ou de outro ela era a minha mãe. Antes que as lágrimas começassem a cair, as meninas adentraram o quarto com várias outras pessoas, trazendo uma sentena de baldes com tintas diferentes e com todos os tipos de pincel. Foram rápidas.
-Muito obrigada meninas. -falei apertando as mãos de Mary carinhosamente- Eu me viro a partir daqui.
-O que vai fazer Millena? -perguntou Louise me fazendo sorrir por ela ter me chamado pelo nome.
-Vocês irão ver. -disse e elas saíram com todos logo em seguida.

O próximo capítulo vai ser tenso e muito longo, se preparem!
Até amanhã, espero que tenham gostado❤

A Hallen Perdida Onde histórias criam vida. Descubra agora