Acordei, estava exausta, minhas costas doíam, eu havia dormido no sofá do Shade e.... Espera! Era o sofá do Shade! Eu tinha pego no sono? No sofá do Shade? Não, não, não. Burra. Por quê? Por quê comigo? Nunca fiz mal a ninguém. Minha mãe devia estar preocupada, peguei meu celular, havia 18 chamadas perdidas da minha mãe, mandei uma mensagem avisando que estava bem, e que em casa eu explicaria tudo, depois eu ligaria para ela. Levantei e fui para o quarto do Shade, mas ele não estava lá e eu não ouvi barulho de chuveiro, então fui para cozinha. Onde o Shade estava fazendo o café da manhã.
-Bom dia luz do dia! -exclama ele.
-O que você estava pensando quando me deixou dormir no seu sofá?! -perguntei estérica.
-Por quê? Prefiria dormir na minha cama? -diz num tom malicioso.
Peguei um dos panos de louça e joguei nele. Me virei e saí andando em direção a porta. Shade veio rapidamente atrás de mim.
-Aonde você vai? -perguntou ele.
-Onde você acha Einstein? Eu vou para casa trocar de roupa!
-Eu tenho uma roupa para você ali, era da minha irmã, acho que serve. Eu fiz o café da manhã e meu café é o melhor para a ressaca, e você está precisando. -estreito os olhos- Você liga para Maya e pede para ela dizer que dormiu na casa dela, depois liga para a sua mãe e diz que dormiu na casa da Maya. Toma banho, se veste e quando estiver pronta eu te levo na casa da Maya para não chegarmos juntos na escola, que tal? -ele abre os braços de forma sugestiva.
-Nem pensar! -nego com a cabeça.
-O quê? Por quê não?! -pergunta confuso.
-Não vou cair nesse joguinho de novo, okay? Eu sou trouxa, mas nem tanto.
-Olha, primeiro, você não é trouxa, é a pessoa mais inteligente que eu conheço. Segundo, o que tem demais em aceitar um café e roupa limpa? E antes de responder não esqueça de quem segurou o seu cabelo enquanto você vomitava ontem à noite.
-Eu fiz o quê?...
-Não, não, não. Depois você se arrepende do que fez, agora vai tomar banho, antes que cheguemos atrasados graças a sua incrível facilidade de confiar nas pessoas. -diz ironicamente.
Fui ao banheiro, peguei uma toalha, fiz um coque pois não estava com paciência suficiente para lavar o cabelo e depois ter que secá-lo. Entrei no chuveiro e tomei um banho rápido, me sequei e botei as roupas que o Shade dizia ser da irmã dele, caíram bem em mim.
Fui para a cozinha e o Shade me serviu uma xícara de café, e colocou panquecas no meu prato recheadas com chantilly e amoras. Em seguida chegou mais perto e desfez o coque que eu havia esquecido de desmanchar.
-Por quê não dá outra chance para ele? -sugere com um grande pedaço de panqueca na boca.
Começo a rir.
-Quer listar comigo os motivos? -pergunto sendo sarcástica.
-Eu não entendo você.....
-Ninguém entende. -Eu interrompo.
-Você se sente mal estando brava com ele, então simplesmente não fique brava com ele. -continua, ignorando o que eu tinha dito.
-Não é tão fácil quanto parece. -respondo.
-Ah não? Tenta dar mais uma chance para ele. Sai como antes com ele só mais uma vez, é claro que não vai ser como antes, claro que não vai. Mas a amizade de vocês pode superar isso, a amizade de vocês supera tudo, escuta de alguém que está observando vocês a bastante tempo. Perder uma amizade assim tão forte vai te destruir.
-Observando? -pergunto confusa com um sorriso no rosto tentando mudar de assunto.
-Ei, não é minha culpa se vocês falam alto demais. E não muda de assunto, o que custa dar mais uma chance para ele? Eu te desafio.
-Você é uma criança. -falei e ele ficou em silêncio esperando a minha resposta, no fim acabei sedendo- Okay, eu dou mais uma chance a ele, mas é só mais uma chance.
-Quantas você quiser. -disse levantando as mãos para cima em forma de rendição. O celular dele toca, ele o pega para atender mas quando vê quem é faz uma careta e joga o celular para longe como se não tivesse custado 6 mil reais. Era o último iPhone. Não posso dizer que não doeu. -Quando ela vai parar de me ligar?! -diz frustado se referindo à Agatha.
-Você não se cansa disso? -pergunto a ele em um tom irônico.
-Ah não, não adianta vir com psicologia reversa para cima de mim! -diz com medo do que eu possa dizer.
-Vai é só perguntar -digo calma.
-Não, nem pensar! - diz enquanto balança o dedo indicador de um lado para o outro, negando, na minha cara.
-Vai, tenta -digo mantendo minha expressão calma.
-Não vai funcionar, não comigo. -Eu conseguia sentir o cheiro de medo no seu bafo de café.
-Me escuta aqui, eu estou aqui na sua frente pronta para te dar uma lição de vida maravilhosa, e então, você vai encarar ou vai correr como um rato? -pergunto o encarando e me aproximando para parecer intimidadora.
-Ratos não são tão ruins, já assistiu Tom e Jerry? -ele diz com medo e um tom irônico na voz.
-Pergunta, ou eu vou perguntar e você não vai gostar da minha pergunta, então é melhor tirar suas próprias conclusões, não acha? -pergunto tentando parecer intimidadora, enquanto tento desesperadamente segurar a risada.
-Eu não tenho escolha, tenho? -ele pergunta me olhando e eu nego com a cabeça. -Você vai responder do mesmo jeito, não vai? -assinto- Okay! Do que eu não me canso?
-De pegar todas essas meninas, de domingo à domingo. Como se não houvesse amanhã. Sabe, isso um dia vai acabar, você vai acabar crescendo, ficando velho e não tão atraente ou sexy. -ele faz uma cara maliciosa mas eu o ignoro- Seria bom ter alguém com você quando isso acontecer, alguém que não ligue para o quão sexy você é. Uma hora vai ter que se tocar e procurar alguém que te faça realmente feliz, feliz o tempo todo, não só por uma noite. Se não um dia vai acordar e todos os seus amigos vão estar formados, casados e com três filhos e você vai ser o tio bêbado que só aparece nos finais de semana que tem jogos e nos feriados porquê não tem mais lugar onde ficar porque o bar fechou para o feriado.
Ele fica em silêncio me observando e absorvendo todas as palavras que despejei nele.
-Você vai ser aquele tipo de garota, não é? -ele pergunta finalmente quebrando o silêncio.
-Quê tipo de garota? -pergunto curiosa.
-Aquele tipo de garota que salva caras como eu. -ele aponta para si mesmo.
-Sabe, não precisa ser necessariamente uma garota para salvar caras como você. -digo com malícia na voz.
-Vamos, estamos atrasados. -ele diz mudando de assunto.
Antes de descer, Shade se certificou de que Allan não estava no corredor e nem lá embaixo, então subiu de novo e descemos juntos, entrando no carro vermelho dele e saindo o mais rápido possível. Ficamos o caminho inteiro para a casa da Maya em silêncio. Quando chegamos, Maya já estava lá na frente esperando. Shade me deixou lá e foi para a escola me deixando sozinha no interrogatório.
-Você vai me explicar tudo ou eu vou ter que bater em você? -disse Maya num tom ameaçador.
-No carro. -foi tudo que eu disse.
Entramos no carro, ela foi andando e olhou para mim a espera de uma explicação.
-O Shade me beijou. De novo.
-Vocês transaram?! -ela perguntou estérica.
-Olhos na estrada, as duas mãos no volante. -ela me olhou furiosa, então olhou para frente- Qual é a parte do beijou que você não entedeu?! É claro que não! Eu estava cansada e nós bebemos e eu acabei dormindo no sofá, foi só isso. E além do mais, eu nunca faria isso com o Jason.
-Não sei como ele vai reagir quando souber. -disse ela.
-Eu quero contar para ele, se não se importa. -pedi.
-Com certeza! -disse como se a resposta fosse óbvia, mas eu a conhecia.
Meu celular começou a tocar, era minha mãe, atendi e pus meu telefone na orelha.
-ONDE VOCÊ ESTAVA?! -ela gritou.
Tirei o celular do meu ouvido ciente de eu ficaria surda, então botei no viva voz.
-Oi mãe, dormiu bem? E antes de falar merda, fique ciente de que você está no viva voz e que eu te amo. Como você está?
-COMO EU ESTOU?! COMO EU ESTOU MILLENA MILLER?!
-Também estou ótima, te amo.
-Nem pense em desligar na minha cara. -disse um pouco mais calma. Mas não tão pouco assim.
-Eu dormi no Shade, estava fazendo trabalho e peguei no sono. Te explico a história com mais detalhes quando chegar em casa.
-Okay. Vou engolir essa. -disse ela com a voz completamente calma. -Filha! -Falou antes que eu pudesse desligar.
-Sim?
-Precisamos conversar sobre uma coisa muito importante, e já deveriamos ter conversado sobre isso faz tempo. Eu te amo, você sabe disso não sabe? -falou preocupada.
-Claro que sei mãe, também te amo. -disse meio confusa com o motivo de tanta emoção.
Desliguei o celular e o coloquei de volta na bolsa.
-Admiro a relação de vocês duas, sem segredos.
-Tenho sorte por tê-la. -respondo, eu tinha muita sorte por tê-la, ela me teve muito nova, mas não desistiu de mim.
Chegamos a escola e Maya estacionou o carro. Fomos para dentro, fui para o meu armário prometendo encontrá-la de noite para irmos ao Night of City juntas está noite. Em seguida, fui para aula de história. Me sentei em minha mesa e olhei para o fundo da sala, onde Allan estava. Fiquei pensando no que o Shade havia dito. Será que eu deveria dar uma chance para ele? Acho que Maya não se importaria se tivéssemos mais uma pessoa para nos fazer companhia. Fiquei pensando nisso durante todas as outras aulas. Fui para casa começar a me arrumar, teria de chegar cedo na casa do Allan se quisésse que ele fosse pelo menos com um banho tomado. Tomei banho, sequei o cabelo e passei chapinha para ele ficar totalmente liso, botei um vestido branco de tecido simples, aberto nas costas e deixando exposta um pouco da minha cintura, e com uma manga que ia até os cotovelos, passei uma maquiagem básica e peguei um táxi para ir até a casa do Allan.
Liguei para mãe do Allan no caminho mas pedi para não avisar nada a ele. Cheguei lá e apertei o inerfone, a senhora S. abriu a porta para mim e eu peguei o elevador para não ter que subir as escadas de salto alto. A porta já estava aberta para mim entrar, cumprimentei a senhora S., e ela me disse que o pai do Allan não estava em casa, como de costume. Fui direto ao quarto do Allan. Que estava deitado na cama, a luz apagada, com o fone de ouvido, um verdadeiro emo. Joguei a almofada nele e acendi a luz. Ele me olhou asssustado, sem entender nada. Peguei a toalha que estava em cima da cadeira da escrivaninha e joguei nele também.
-Vamos, vai tomar banho. Você vai para Night of City comigo. -falei já começando a arrumar aquela zona que estava o quarto dele.
-O quê? Por quê?... -disse ele visivelmente confuso.
-Sem perguntas -O interrompi- Vai tomar banho enquanto eu limpo essa bagunça.
Ele levanta e vem em minha direção para tentar me abraçar, mas eu desvio do abraço engolindo em seco e ele entende a mensagem. Ainda é cedo demais.
Então ele entra no banheiro e dois minutos depois ele liga o chuveiro. Olho ao meu redor, parecia que um furacão havia passado naquele quarto.
-Acho que vou precisar beber uma água antes de começar a limpar isso aqui! -Eu disse- Talvez algo mais forte! -Eu grito.
Vou para a cozinha, a senhora S. já não está mais lá, devia ter saído. Pego a vodka estrategicamente escondida bem atrás do armário onde guardam as ervilhas. Ninguém ali gosta de ervilhas, então ninguém mexe ali. Pego um copo e despejo a bebida pensando se devia mesmo fazer isso.
A porta se abre sem se quer alguém tocar a campanhia ou simplesmente bater. Aisha entra com aquele ar de triunfo que ela sempre tem, tinha um pouco de inveja pelo modo como ela tinha esse ar de triunfo em qualquer situação, seja ela boa ou ruim.
-Millizinha! Esperava encontrar você aqui! -disse ela com um tom de diversão na voz.
-O que você quer? -retruquei com tom de desprezo, colocando o copo na bancada.
-Sabe, no começo, eu fiquei intrigada, queria saber o que você tinha que o atraía tanto. Mas depois de um tempo pensando, observando, eu entendi tudo -ela falava realmente sério, se fosse uma mentira ela era realmente uma boa atriz.
-Aisha, você andou bebendo?
-Você, infelizmente, é um mal necessário Millizinha. Não posso te matar agora, uma pena, mas vai ser muito prazeroso te torturar enquanto o rei não chega de viagem -ela diz se aproximando do balcão e batendo palmas de felicidade.
Solto uma gargalhada.
-Você é patética garota. E está maluca, devia procurar um.... -antes que terminasse a frase braços fortes se entrelaçaram em meu pescoço me obrigando a ficar parada e tirando um pouco do meu ar enquanto o mesmo colocava um pano sobre minha boca. Estava começando a perder os sentidos, tentava gritar mas o pano abafava meus gritos fracos. O homem ficou pressionando até o último momento, sem deixar nenhuma brexa de escape. A última coisa que eu ouvi foi a risada de Aisha, apaguei em um sono profundo.
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A Hallen Perdida
Dla nastolatkówComo você lida com uma mentira? Seria capaz de perdoar uma mentira vinda da pessoa que você mais ama? Mas o quê você faria se descobrisse que toda sua vida não passou de uma mentira?