Capítulo 12

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Acordo com o barulho de panelas batendo, abro os olhos e vejo Chloe em cima de uma cadeira batendo duas panelas uma na outra e gritando alguma coisa, Mary ao seu lado,  no chão, revirando os olhos e Louise sentada na mini cama da minha janela com as mãos nos ouvido enquanto gritava "Para! Por favor, para!"  Finalmente minha alma volta ao corpo e eu me sobressalto na cama dando espaço a toda gritaria que antes eram só vozes abafadas.
-Vocês estão loucas?! -grito colocando a mão sobre os ouvidos. Chloe continua "cantando" a canção irritante e batendo as panelas uma na outra, enquanto Louise gritava para ela parar. Mary continuava revirando os olhos e observando a cena. Comecei a gritar junto com a Louise para a Chloe parar mas ela parecia não nos ouvir.
Me levanto e tiro as panelas da mão dela, a assustando e fazendo ela cair em minha cama. Não pude deixar de gargalhar, eu chorei de tanto rir.
-Mi-Millena, não vi que você tinha acordado! -gagueja Chloe.
-Você ficou louca?! -perguntei rindo.
-Primeiro dia de aula! -ela fala sorrindo envergonhada e balançando as mãos no ar, meu sorriso desaparece na hora, eu tinha me esquecido dessa droga!
-Sério? -pergunto decepcionada, e ela assente.
-Vamos logo, você está atrasada! -fala Mary finalmente me puxando da cama e me levando para o banheiro ela me joga lá dentro, sai e fecha a porta, eu a tranco e tomo um banho rápido, saio no banheiro e vou para o closet onde há algumas roupas que são minhas em cima do estofado que está no meio da salinha. Uma calça de moletom branca e uma blusa de manga comprida verde militar bem colada. Saio do closet e vejo as três me esperando com o meu café.
Elas me dão o café da manhã e ficam me observando para ver se eu como tudo, só podiam ser ordens do Blake, ridículo! Elas me levam para uma sala mais afastada onde uma senhora me espera impaciente. Eu me apoiei em uma das cadeiras e as três se retiram.
-Você está atrasada! -diz a mulher irritada.
-É, eu sei, eu...
-Não quero suas desculpas! Não chegue mais atrasada! Onde está seu senso de responsabilidade? -meu Deus que mulher grossa, eu só cheguei atrasada! Não ia deixar ela me tratar assim!
-Na Terra! -digo em tom de deboche e ela me olha estremamente irritada, meu Deus eu só fiz uma brincadeira e ela está mais vermelha que o cabelo da Chloe!
-Você vai levar isso a sério! Se não  você vai se ver com Vossa Alteza! Agora sente e preste atenção para ver se aprende alguma coisa! -sentei, a sorte dela é que Marta me ensinou a respeitar os mais velhos!
-Então, em uma antiga Villa... -ela só pode estar de brincadeira comigo!
-Ah não, você está mesmo me recitando uma historinha para dormir?! -perguntei pasma.
-Vocês humanos são insignificantes mesmo, não servem para nada! -ela exclama com raiva, aquela foi a gota d'água! Estava cansada dessa palhaçada!
-Não servimos para nada?! -explodi levantando da cadeira e batendo com as mãos na mesa- Bem, duvido que você diga isso quando acende as luzes do seu quarto à noite para ler um livro, porquê sabe quem inventou a electricidade?! Os humanos! -ela não falou nada então eu continuei- Sabe quem inventou a arte, os filmes, os livros, a música e os instrumentos que vocês tanto apreciam?! Humanos! Vocês nos julgam tão inúteis! Mas na hora de assistir TV e tocar um instrumento vocês não nos acham tão inúteis assim, não é?!
Ela ficou me olhando com aquela cara de sonsa, vermelha de raiva, apenas pegou suas coisas e saiu com o rabinho entre as pernas. Sentei na cadeira tentando acalmar minha respiração ofegante, aquela mulher me deixou com muita raiva, eles despresavam tanto os humanos, mas na hora de roubar as coisas que nós descobrimos nós não nos tornávamos tão inúteis assim. Eles eram ridículos! Todos eles!
Blake entra na sala vermelho de raiva, me levanto voltando a ter raiva de tudo, a culpa disso era dele! Para quê me colocar nessas aulas?! Ele sabe muito bem que eu não faria nem um esforço para aprender nada, por quê insistia tanto?!
-Qual é o seu problema?! -pergunta quase gritando.
-Vai saber, tenho tantos! -digo sarcástica.
-Bem, sabe qual é o meu problema? -pergunta se aproximando- Você!
-Ah é?! Duvido você adivinhar qual é o meu problema! -digo com raiva, ele fica calado o que só me deixa com mais raiva- Vocês se acham tão melhores que os humanos, não é?! Somos inúteis perto de vocês! Vocês se acham superiores só porquê tem poderes?! Bom, nós temos a Internet! Sabe quem inventou a matemática?! Te garanto, não foi o seu avô! -digo batendo  o indicador em seu peito, o fazendo revirar os olhos- Eu já estou cansada de dizerem que humanos são inúteis e não servem para nada! Sabe quem inventou os instrumentos que vocês tanto amam?! Olha que choque, não foi o seu...
-Meu avô?! -ele me interrompe- Meu pai?! Eu sei que não foram eles, e eu nunca disse que os humanos eram inúteis! Falei que você era inútil! E pode me odiar e me culpar o quanto quiser, não vai mudar a realidade! Essa é sua vida agora! Não pedi para logo você ser a Hallen Perdida!
-E você acha que eu pedi isso?! -grito furiosa, quem ele pensava que era para me dar um sermão?!- Eu queria nunca ter esbarrado em você naquela boate!
-Você acha mesmo que eu esbarrei em você naquele dia sem querer?! Foi tudo planejado! Acredite, se eu pudesse evitar ter te conhecido, eu teria evitado! -grita parecendo magoado pelas minhas palavras.
-Eu odeio você! -grito, meu rosto estava muito quente, eu devia estar parecendo um pimentão de tão vermelha.
-É, você já disse isso, e sabe que o sentimento é recíproco! -diz se aproximando para mais perto de mim, tanto que para olhá-lo teria que levantar a cabeça para olhar para cima.
-E eu vou continuar dizendo até....
-Já chega! -ele grita com muita raiva, me olhando nos olhos, faço questão de olhar em seus olhos que agora estão parecendo o oceano à noite, escuro, sombrio e lindo, como se estivesse te convidando para se afogar.
Ele me pega pelas pernas me colocando sobre seu ombro e sai me arrastando pelos corredores, tento me soltar diversas vezes mas é inútil, não que tenha me impedido de xingá-lo e chutar nele diversas vezes pelo caminho. Ele me leva ao ringue de luta e me arrasta para dentro do ringue.
-John, venha aqui, por favor! -ele grita, mas não com raiva, estranho, porque ele me olha como se estivesse prestes a me matar, o que não é expressado em sua voz.
Um homem muito grande e forte vem até nós e faz uma breve reverência ao Blake.
-O quê deseja, Alteza? -diz se pendurando nas cordas do ringue.
-Posso? -Blake pergunta pegando no braço musculoso do homem, o que me faz duvidar um pouco da sua masculinidade. O braço do homem começou a brilhar e a mão de Blake também, quando Blake o soltou, ambos pararam de brilhar. Eu dei meia volta para sair do ringue, mas Blake murmurou:
-Pare! -ele ordenou, e meu corpo obedeceu. Eu não conseguia me mexer! Eu tentava mas meu corpo não respondia a nenhum dos meus comandos! O que esse idiota fez comigo?!
-Se vire e fique parada -ele ordenou novamente e meu corpo obedeceu aos seus comandos, eu tentava contrariar mas não dava certo. Ele olhou para o meu rosto cheio de raiva e sorriu. Se virou saindo do ringue e depois voltou usando dois protetores de punho, e com mais dois em mãos.
-Estenda as mãos -ele ordena novamente e meu corpo obedece.
-O quê fez comigo? -pergunto com raiva.
-Roubei um pouco do poder do John, esse é o meu poder -diz enquanto coloca os protetores em mim.
-Por quê isso? -perguntei tentando conter a minha raiva.
-Não precisa mais obedecer aos meus comandos, Millena -diz olhando em meus olhos e se dirigindo ao outro lado do ringue- Não me odeia tanto? Então vai, me bate!
-O quê?! -pergunto confusa, isso era bom demais para ser verdade.
-Vai, esvazia toda essa raiva dentro de você, desconta em mim! -diz se movendo como um lutador profissional e fazendo sinal para que eu me aproximasse com as mãos.
-Isso é ridículo, Blake! -disse dando meia volta para sair do ringue, mas antes que eu pudesse sair ele agarra em minha cintura e me vira fazendo-me ficar cara a cara com ele.
-Você não vai a lugar nenhum -diz segurando mais forte em minha cintura me puxando para mais perto, enquanto eu tentava acalmar minha respiração ofegante- Precisa aprender a se defender, e também precisa esvaziar essa raiva -diz em sussurro, me soltando e se afastando um pouco.
-Blake, eu...
-Vai! Me bate, desconta em mim! -me interrompe- Bota toda essa raiva para fora! Não deve ser tão difícil! Eu menti para você, te enganei, estraguei sua vida! Por minha causa seu único amigo humano não se lembra de você!
A raiva me preencheu, como ele podia falar dessas coisas com tanta normalidade?! Me aproximei e dei um soco em seu peito e ele nem se mexeu. Dei outro e mais outro e ele não saiu do lugar.
-Deixe os pulsos retos -ele ordenou sério enquanto eu o socava mais e mais- Afaste mais as pernas! Movimente o quadril!
Eu continuava socando ele, então ele enganchou sua perna atrás da minha e me derrubou no chão ficando com suas pernas uma em cada lado da minha cintura e prendendo meus braços ao lado da minha cabeça. Ficamos naquela posição pelo que pareceram horas.
-Nunca subestime seu inimigo -ele disse por fim.
Olhei para ele ofegante com cara de quem ia começar a chorar e sussurrei com voz de choro:
-Desculpa -ele amoleceu na hora a pressão sobre meu quadril e meus braços, então chutei suas joias reais e ele se contorceu de dor me soltando. Troquei a posição ficando em cima dele e prendendo suas mãos do lado de sua cabeça, ele poderia se soltar a qualquer momento porquê ele era mil vezes mais forte que eu, mas estava surpreso demais para sequer se mexer.
-Nunca subestime seu inimigo -falei saindo de cima dele, tirando as luvas e jogando em cima dele que ainda estava deitado no chão.
Saí do ringue e fui andando pelos corredores agradecendo a todos aqueles filmes e séries violentos. E Marta dizia que aquelas séries não serviam para nada.
Acabei me perdendo no meio dos corredores, eu tinha certeza de que era pela direita! Que droga! Será que eles tinham GPS nessa dimensão? Porque com certeza eu precisaria de um! Andei e nenhum corredor me deixava mais perto do meu quarto, não vi nehum guarda ou criada nos corredores, tinha que achar meu quarto sozinha.
Depois de andar muito acabei entrando em uma porta dupla que dava ao que parecia a cozinha devido ao tanto de pessoas de toca, fogões, e panelas. Um homem com aqueles chapéus de chefe gritava ordens para as outras pessoas em volta. Uma mulher me olhou assustada, e fez uma exagerada reverência, os outros estranharam até que me viram na porta e fizeram o mesmo que ela. A tal mulher se aproximou de mim perguntando:
-O quê faz aqui, Alteza?
-Me chame de Millena, por favor -sorri para a mulher- Aqui é a cozinha, não é?
-Sim, estamos preparando o jantar, temos mais algumas horas para deixar tudo pronto e servir à você, à família real e aos convidados -diz a mulher com orgulho.
-Posso ajudar? -perguntei animada, Marta havia me ensinado à cozinhar, e eu amava fazer bolos, sopas, e tudo que envolva fazer comida. Embora eu não fosse boa nisso, mas elas não precisavam saber.
-A senhorita sabe cozinhar? -pergunta outra mulher que cortava legumes como uma profissional.
-Eu tento! -digo rindo fazendo-as rir também- Ainda não sei seu nome! -digo para a mulher a minha frente.
-Me chamo Marta, Alteza -ela diz sem graça.
-Marta? -perguntei surpresa.
-Sim, e essa é Jane, Alteza -ela responde apontando para a moça que perguntou se eu sabia cozinhar.
-Pode me chamar de Milli, é meu apelido -digo para as duas e elas sorriem assentindo.
Fiz um coque e ajudei a cortar os legumes para a sopa que seria o prato de entrada. Depois as ajudei com as sobremesas e dei a ideia de fazer um bolo enorme para todos da cozinha comerem, eles adoraram a ideia mas não tanto quanto o chefe que disse que era seu aniversário e gostaria muito de comemorar com seus amigos da cozinha.
Fizemos um bolo enorme, como um bolo de casamento, cantamos parabéns para o chefe que aparentemente se chama Louis, depois todos demos um abraço nele e começamos a comer o bolo.
-Parabéns chefe! -diz Marta enquanto Louis se aproximava.
-Louis, Marta, por favor! -diz Louis com um sorriso bobo no rosto.
-Okay, então, Louis parabéns! -Ela diz o abraçando, quando o abraço acabou os dois ficaram se encarando, depois Louis conseguiu abrir um sorriso maior do que o que já estava em seu rosto, o que eu achava impossível até então, ele deu um beijo no rosto de Marta e foi cumprimentar um homem que o chamava.
-Eu senti um clima, e você? -pergunto cutucando Jane.
-Isso não foi um clima, foi quase um casamento! -ela exclamou rindo.
-Ele estava quase comendo ela com os olhos! -exclamo gargalhando e Jane me acompanha nas gargalhadas. Marta pedia para rirmos baixo mexendo as mãos compulsivamente, o que só nos fazia rir mais.
Nós todos conversamos e rimos muito, eles eram como uma família. Muitos, inclusive o chefe Louis, me perguntaram o que eu havia colocado na cobertura do bolo que estava deliciosa. Expliquei a elas a receita que minha avó havia me ensinado, e então Blake entrou na cozinha com uma cara furiosa, estava começando a achar que aquela era sua cara normal, ele nunca mudava de expressão, ele sempre estava irritado, comigo, pelo menos, ele estava sempre irritado.
-Você ficou maluca?! -ele entrou gritando de raiva.
-Ele está falando comigo, não está? -perguntei para Jane num tom debochado, mas ela estava ocupada fazendo uma reverência, todos na cozinha faziam uma reverência, menos eu, não daria esse gostinho a ele.
-Eu te procurei por todo esse castelo! Mandei todos os guardas procurarem por você! O que estava passando em sua cabeça, quando decidiu sumir assim?! -ele diz se aproximando de mim, enquanto todos os outros se afastavam, não queriam ficar entre mim e a fúria do futuro rei.
-Desculpa! -gritei no mesmo tom de raiva- Eu me perdi e acabei vindo para cá! Eu pedi para ajudar, não é culpa deles!
-Eu te conheço o suficiente para saber que não é culpa deles! Você não pensa nas consequências dos seus atos?! -ele continua gritando comigo.
-Por quê tem tanta raiva de mim?! Por quê grita tanto comigo?! O quê eu fiz para você me odiar tanto?! Quer saber?! Não importa! Porquê eu também odeio você! -grito com voz de choro, precisava segurar aquelas lágrimas, eu não iria chorar na frente dele. Corri para fora da cozinha sem saber para onde estava indo.
Esbarrei em alguém, me virei para trás para pedir desculpa e vi Blake na minha frente, mas como?... Espera! Aqueles olhos.... Não eram....
-Quem é você?! -perguntei assustada dando um pulo para trás com a respiração ofegante.
-Espera! Como sabe que eu não sou o Blake?! -diz o homem a minha frente que era idêntico ao Blake.
-Os olhos, os olhos são diferentes?! -digo ainda assustada.
-Não são, não! -ele exclama curioso e cruza os braços esperando uma melhor resposta.
-Os olhos do Blake são azuis escuro, as vezes, quando ele está com raiva, preocupado ou com medo, seus olhos ficam de um azul quase preto, quando ele fica feliz ficam como o mar no final de tarde com a luz do por do Sol revelando um brilho que poucos conseguem ver, e quando está magoado ou aflito, seus olhos ficam como o céu em um dia de chuva. Os seus olhos estão mais para um azul piscina -termino ofegante por ter falado tudo de uma vez só. Ele sorri, e eu tenho a completa certeza de que não é o Blake.
-E o sorriso, o sorriso dele é completamente e totalmente cínico, o que te deixa incapaz de odiar ou amar aquele sorriso -completo o que só faz ele aumentar o sorriso, olho por além dele e vejo o par de olhos que eu acabei de descrever me observando no final do corredor, será que ele ouviu o que eu falei? Eu precisava sair dali, rápido! Saí correndo pelos corredores e quando ouvi que eles estavam correndo atrás de mim tentando me alcançar eu corri o mais rápido que pude, mas eu era fraca, e sedentária, me cansaria rapidamente, então abri qualquer porta daquele corredor e entrei dentro do quarto que parecia ser de uma mulher. Parei no meio do quarto apoiando minha mão em meus joelhos tentando recuperar o fôlego. Me levanto e vejo Maya e Mr. Marshall em cima da cama se beijando, com cobertas os tampando, e pelas suas roupas jogadas no chão arrisco dizer que eles fizeram algo um pouco além de se beijar. Todas as peças se encaixaram, o Mr. Marshall era o cara misterioso com quem ela vinha saindo. Mr. Marshall também não era humano?! Por isso ela não havia me contado?! Tento sair do quarto em silêncio mas acabo esbarrando em uma cadeira, a fazendo cair no chão junto com o resto da minha dignidade, os dois pulam na cama se cobrindo rápida e desesperadamente.
-Millena?! O quê faz aqui? -Maya pergunta confusa em cima da cama olhando para mim e para o Mr. Marshall repetidamente.
Por quê isso sempre acontecia comigo?!

Sei que demorei um pouco mais que o combinado, tive um problema na net e só consegui postar agora, e se você está lendo isso agora é porque provavelmente a Internet não falhou e eu consegui postar o capítulo!
Espero que gostem do capítulo❤

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