Capítulo 63

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Sinto o chão gelado da masmorra se chocar contra minha pele quando me jogam para dentro de uma cela.
Essa é mais escura que as outras, sem janela, a porta feita de ferro, sem grades. Isso é uma solitária. Perfeito!
-Droga! Droga! Droga! O que eu faço? O que eu faço? -perguntei ao vazio da minha cela, sentando no chão.
James! Levantei rapidamente, tocando na minha marca de nascença obscura por debaixo do vestido. Nada. Ela não brilhou, não era para ela brilhar?! James disse que funcionaria mesmo sem meus poderes. Será que não estava funcionando? Será que algo havia acontecido a ele? Não! Ele é esperto! Além do mais, vaso ruim não quebra, certo?

Sentei e esperei. Não sei por quanto tempo, talvez horas, talvez dias! Havia apenas um feixe de luz, vindo de um buraco da parede.
Quando o sol desaparecia no horizonte, tudo ficava escuro e assustador.
A impaciência e ansiedade me consumiam a cada hora que passava. A luz já havia ido embora e voltado três vezes. As algemas anti-poder apertavam meus pulsos. Nada de James, nada de Madson, nada de Blake. Apenas as visitas regulares de um homem, um guarda, que vinha me trazer comida, se não estou enganada, sempre ao meio dia, quando a luz estava mais forte.
Apenas uma refeição por dia, não o suficiente para me manter saudável, mas o suficiente para que eu não morresse. Mas era isso o que ela queria, me manter fraca. Se continuasse assim, em pouco tempo ela não precisaria nem das algemas anti-poder para me deter.
Pelo menos eu tinha água a vontade, que vinha de uma pia, e um pequeno sanitário ao lado da mesma.
Será que ela havia hipnotizado todo mundo? Ela não poderia hipnotizar o Blake, então o que será que ela fez com ele?
Ela nunca o machucaria, disso eu sei, mas...
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta da cela se abrindo, mas ainda não era meio dia.
Um homem, que eu não reconheci, me algemou pelo pescoço, como se estivesse em uma coleira, e me arrastou para fora da cela.
A masmorra estava lotada de nobres. Várias pessoas em uma só cela. Dividas de forma confusa e apertada. Rei Marc pulou nas grades quando me viu.
-Você tinha razão! -ele falou, a barba branca por fazer e as olheiras cravadas em baixo dos olhos- Ela conseguiu hipnotizar todos os guardas e funcionários! Colocou todos contra nós! Ela vai hipnotizar todos os reis e rainhas, até virar rainha de toda a dimensão!
A voz dele se perdeu enquanto o guarda me carregava para fora da masmorra. Meus olhos arderam quando vi a luz. Eu estava fraca, mas isso pouco importava para o guarda que me acompanhava.
Chegamos a sala do trono e eu me deparei com a cena mais perturbadora que já havia testemunhado.
Madson, sentada no trono, carregando a coroa na cabeça. Com Blake ao lado dela, também usando uma coroa.
Blake arregalou os olhos quando me viu, tentou me alcançar, mas Madson o interrompeu.
-Se ajoelhe perante sua rainha! -ela falou alto, com um tom de superioridade.
Deixei uma gargalhada escapar, e comecei a ter uma crise de riso. Não conseguia parar. Todos estavam me olhando como se eu estivesse louca; e talvez eu estivesse mesmo.
-Desculpa! -falei, após ter me acalmado- Mas prefiro me ajoelhar perante ao diabo! O que vai fazer? Me matar?
-Não. Vou fazer algo muito melhor! -ela falou, com um sorriso maligno na cara, e eu me concentrei para não demonstrar medo.
-Madson, você me prometeu que não iria machuca-la! -falou Blake, pegando no braço dela. Eu evitava olha-lo. Afinal, foi ele quem me mandou para aquele lugar.
-Mas eu não vou machuca-la, meu amor! Eu só vim convida-la para ser a madrinha do nosso casamento! -ela falou, triunfante.
Minha visão ficou turva, e o restante da conversa parecia muito distante para mim.
Eu concentrei todas as minhas forças em não chorar, não daria esse gostinho a eles.
Blake havia me traído. Ele não podia estar hipnotizado. Ela poderia estar chantageando ele. Não. Foi ele mesmo que se livrou de mim. Eles deviam já ter tudo planejado. E a palhaça aqui caiu direitinho no jogo deles. Não. Não pode ser.
Levantei meu olhar para Blake, em busca de algum sinal, de que tudo isso não passava de um plano, de que ela estava apenas brincando com os meus sentimentos. Mas Blake encarava o chão, ele não tinha coragem de me olhar. A culpa pesava os ombros dele.
Então era verdade, Blake iria se casar com Madson.
-Muito obrigada pelo convite! Mas eu dispenso! -falei, com a voz seca e a expressão impassível.
-Você não tem escolha, Hallen! Até porquê, se não fosse por você, nada disso estaria acontecendo! -ela falou, ainda com um sorriso no rosto- Podem leva-la, ela já está me irritando!
Os guardas me seguraram e me tiraram dali. Eu mal conseguia andar, e no meio do trajeto convenci um dos zumbis sem expressão a me carregar pelo resto do caminho.

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