Capítulo 64

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Minha cabeça estava latejando. Mal conseguia pensar direito. Ainda sentia Blake sugando meus poderes e tudo que existia dentro de mim.
Eu estava sem algemas, não precisavam delas para me conter, estava tão fraca que fiquei surpresa por ter acordado. O casamento deles seria em uma semana. Eu precisava de um plano, e rápido. Onde está Joe quando preciso dele?
Como se ouvisse meus pensamentos, Joe entrou pela fresta da minha cela em forma de uma borboleta negra.
Ele se transformou em homem na minha frente e se abaixou ao meu lado, com uma expressão preocupada.
-Blake me mandou para ver como você estava. -ele falou, me analisando para ver se eu estava inteira.
-Eu estou bem, só um pouco cansada! -falei, sentando em minha caminha.
-Bem? Ele quase matou você, Millena!
-Ninguém pode me matar! -menti. Blake era o único capaz de me matar, é tão irônico que se não doesse tanto, eu riria- Eu preciso que faça algo por mim!
-O quê? -ele perguntou, pronto para atender meu pedido.
-Preciso de quatro pedaços de papel e uma caneta! Pode trazer isso para mim? -perguntei, com um sorriso fraco no canto da boca.
-Você tem um plano! -ele afirmou, abrindo um sorriso, que respondi apenas assentindo.
Ele foi embora em forma de borboleta e voltou não muito tempo depois com o que eu pedi.
Escrevi os quatro bilhetes e os entreguei para ele. Cada um com destinatários diferentes.
Ele leu o bilhete que escrevi para Blake e me olhou ansioso.
-Acha que vai dar certo? -ele perguntou.
-Estamos mortos se não der! -falei sarcástica e vi Joe estremecer.
Ele foi embora, carregando os bilhetes com meu plano. Só espero que não caíam na mão da pessoa errada.

Dois dias depois os guardas vieram me buscar, para me levar a sala do trono. Faltavam três dias para o casamento, que seria no sábado.
Toda a realeza havia sido convidada, claro, no intuito de manipular a mente de cada um, para que ela pudesse se tornar a rainha de toda a dimensão celestial.
Eu não usava algemas, não que precisassem delas para me deter. Não sentia nenhum de meus poderes, e fraca como estou, não conseguiria levantar minha mão sequer para socar alguém. Eu era inútil.
Entrei na sala do trono e troquei um olhar de cumplicidade com Blake. Ele parecia preocupado, aflito. Mas ele saberia o que fazer. Não estava muito no clima para sentir tanta dor de novo, mas era necessário.
Encarei Madson, que não parecia muito feliz. Ela olhou para Blake e fez sinal para que ele se aproximasse de mim.
Blake quase pulou do trono e veio até mim, apressado.
Ele pegou meu rosto entre as mãos e fechou os olhos, parecia estar sentindo mais dor que eu.
-Por favor, não me obrigue a fazer isso. Por favor! -ele suplicou, mais para mim do que para Madson, que se levantou e veio até nós, com puro ódio estampado na cara.
Não entendia o porquê de estar tão irritada. Ela tinha tudo que podia querer. Bom, menos uma coisa: o amor de Blake.
-Você não liga para a forma habitual de tortura, querido! A única forma de torturar você é fazê-lo machucar as pessoas que ama. E essa garota patética parece ser a coisa que você mais ama, não é? Seu novo brinquedinho! Pelo menos até você trocá-la por outra, como fez comigo! Agora pare de ser fraco e acabe com isso de uma vez.
-Por favor. -ele implorou, enquanto olhava dentro dos meus olhos, era como se ele estivesse olhando dentro de mim. Sempre foi assim.
-Blake... -sussurrei seu nome, em uma súplica.
Ele fechou os olhos e começou a me atingir com seu poder. Doeu mais do que a primeira vez e não demorou muito tempo para eu estar caída no chão.
Não desmaiei dessa vez, essa versão do seu poder deve ser diferente da outra. Mas fingi que estava desacordada, e senti sua mão acariciar meus cabelos.
Ouvi passos de guardas se aproximando, mas Blake soltou um forte "Não!", E os passos pararam.
-Vou levar ela até o quarto! Se quiser ela viva para testemunhar o casamento não pode deixar que ela fique naquela cela! E nem sem comida! -ele falou, claramente irritado.
-E o que vai acontecer se eu decidir matar sua garota preciosa? O que vai fazer? -Madson perguntou em desdém. Senti os braços de Blake me levantarem do chão e tentei parecer o mais morta possível.
-Vou tirar de você a única coisa que te resta! -ele falou com aspereza.
-E o que seria isso? -ela perguntou, e pude detectar algo parecido com esperança em sua voz.
-A única pessoa que ainda se importa com você. Eu. -meu coração literalmente parou ao ouvir essas palavras saindo da boca de Blake, e um sentimento de posse e raiva me atingiram com força.
Como ele podia ainda se importar com ela? Como ele podia dizer aquilo? Minha cabeça estava a mil e a raiva me consumia a cada segundo. Ele estava blefando, mentindo. Só podia estar mentindo. É tão bom nisso que poderia enganar a qualquer um. Mesmo uma pessoa que saiba a verdade. Mas qual é a verdade?
Blake andou comigo nos braços até um quarto. Meu quarto, pude identificar quando senti o cheiro forte de café.
Blake me colocou na cama e começou a se afastar, mas quando ele foi encostar a mão na maçaneta estendi minha mão e fechei a porta usando meus poderes.
Ele respirou fundo e se virou para me encarar.
-É muito arriscado! -ele falou, controlado, mas julgando por sua carranca, sabia que ele estava irritado. Bem, eu também estava irritada.
-Você fala como se tivéssemos outra opção, Blake! -olhei para ele, enquanto ele passava a mão nos cabelos, outro sinal de que estava irritado.
-Temos outra opção! -ele falou, dirigindo seu olhar a mim.
Balancei a cabeça em negação quando entendi o que estava querendo dizer com aquilo.
-Não! -falei baixinho mas depois, olhei para ele e falei com mais força:
-Não, Blake!
-Não me diga que nunca pensou em voltar para a Terra! -ele afirmou, sério. Eu não queria acreditar que ele estava falando aquilo de verdade.
-Está mesmo pensando em se casar com ela? -perguntei, com lágrimas nos olhos. Ele desviou o olhar para o chão e eu contive um soluço.
-É o único jeito de garantir que você fique segura! -ele se limitou a murmurar.
Isso não podia estar acontecendo. Ele me disse. Ele olhou dentro dos meus olhos e falou que nunca se casaria com ela. Ficou irritado com o simples fato de eu ter cogitado a ideia. Então pensei no que ele havia acabo de dizer para Madson.
-Você ainda a ama? -perguntei e ele me olhou irado.
Ele me pegou pelos pulsos e me puxou para junto dele.
-Como pode me perguntar isso? -ele me olhou com puro ódio no olhar.
-É melhor você ir. Ou ela vai aparecer por aqui procurando por você. -falei, tentando ignorar a dor que consumia meu coração e as lágrimas que ameaçavam cair.
-Amor...
-Todos já sabem do plano! Vamos seguir em frente; com ou sem você. Não pode tomar essa decisão por mim, não dessa vez. -falei, calma por fora, mas por dentro eu estava gritando, de ódio, de dor, de raiva.
-Millena, por favor. Não faz isso! -ele pediu, forçando as nossas testas uma contra a outra, sem deixar que eu me afastasse. Senti as lágrimas quentes descerem pelo meu rosto.
Madson estava errada. Eu não sou a coisa que Blake mais ama. Ela é. E ela sempre iria ser. Ela ganhou. Mesmo que consigamos derrotar a vadia, ela havia ganhado. Como deixei Blake me machucar assim?
-Pode se casar com ela se quiser. -falei, dilacerando meu coração eu mesma, antes que Blake terminasse de fazê-lo por conta própria.
-Achei que já tínhamos conversado sobre isso, Millena. -ele falou, com nítida dor na voz.
-E eu acho que você conversou sobre isso com a garota errada! -falei, finalmente conseguindo me afastar dele.
Ainda estava um pouco fraca, então me deitei na cama. Fechei os olhos com força quando ouvi a porta batendo. E deixei que as lágrimas e a tristeza tomassem conta de mim até eu cair no sono.

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