Capítulo 6 - Lembre-se

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A sede dos Conselho Continental dos Magos era um dos maiores eventos recorridos, mesmo que fosse uma ação perigosa por conta da Igreja e seus devotos, os Magos jamais dariam as costas ao seu povo, o mesmo povo que um dia os acolheram e os esconderam.

A reunião era feita anualmente, sendo sua data revelada uma semana antes do ocorrido para todos aqueles que eram famosos ou reconhecidos para participarem. E no ano de 5622 AR, a reunião era apenas um punhado de pessoas.

O local, revelado também uma semana antes, sempre era diferente, assim, a igreja nunca poderia tentar infiltrar seus servos. Mas, naquele ponto, não era mais necessário fazer alarde contra ataques dos servos de Deus, eles estavam ocupados demais. Na verdade, os dois lados estavam ocupados demais.

Sentados à mesa, um grupo de 7 pessoas, todos eles já esperando o mais novo anfitrião, estavam impacientes quanto a demora. Mesmo que o palácio do Duque de Ronasville fosse um homem ocupado, a demora acentuada era um insulto a todos os membros da reunião.

Um evento cujo respeito deveria ser maximizado estava sendo registrado com uma espera indeterminada.

A Maga de Ferro suspirou mais alto que os demais. Ela se levantou, deixando seus cabelos ruivos caírem por cima do ombro direito e todo o seu robe roxo balançar ao seu movimento.

- Irei tomar um pouco de café – e olhou as faces indiferentes dos demais -, se alguém quiser, por favor, indiquem ao mordomo do Duque.

E a tensão da demora foi dizimada por um único pedido de café. Rosana Felix, a Maga de Ferro, era uma verdadeira guerreira, e mesmo que um único pedido de café fosse irrelevante, ela não estava a vontade com tantos olhares frios e rígidos dos outros buscando mais do que a demora para saírem da sala.

A reunião era importante demais, e para ela, uma vanguardeira da posição de Ribellos, era ainda mais extremista. Aquela era a reunião que iria marcar uma nova Era de combates, e que poderiam ser levados levianamente ou um sangrento.

Afastada dos demais, Rosana segurou o copo, mas não o levou a boca. O líquido negro dentro do copo estava inerte, mas, aos poucos, começou a balançar. Ela teve que segurar o antebraço com a outra mão, respirando fundo.

- Vejo que ainda possuí um pequeno choque por causa da mana, Rosana.

Ela virou a cabeça por cima do ombro, dando um sorriso aberto, amigável.

- Duque Daniel. - E repousando o copo de volta para a pequena mesa, fez uma reverência longa e arrojada. - É uma prazer estar novamente em sua presença, senhor.

O Duque, vendo os movimentos de formalidade de sua aliada, rapidamente balançou os braços, chegando perto e a segurando pelos ombros, um pouco envergonhado.

- Depois do que fez por mim no Forte Waternal, a senhora não deveria se curvar a minha pessoa. Eu quem deveria estar agora com a cabeça baixa.

- São apenas trocas casuais de formalidade, Daniel – e toda a formalidade se fora quando os dois sorriram para o outro. - Vejo que sua demora foi por um bom motivo, está bem suado.

Passando os dedos na testa e depois encarando o suor escorrido, ele franziu a testa.

- Existem muitas variantes dentro e fora dessa guerra, e não podemos ficar parados, não é mesmo?

- Sim. Creio que podemos começar a reunião agora, os outros estão bem impacientes quanto a sua demora.

O Duque fez menção para que Rosana caminhasse ao seu lado, retornando para a sala.

- Sei que eles possuem suas próprias ambições, mas não podemos correr mais riscos, não agora que temos problemas suficientes nos entalando até a goela.

- Deveria dizer isso para os meus superiores – a maga suspirou, cansada. - Eles não conseguem ouvir nem metade do que tenho para falar sobre as próximas batalhas, ainda engajados dentro da luta sem sentido deles.

- Acho que não tem pontos certos ou errados nessa história, não acha? - O Duque puxou a porta, deixando sua amiga entrar e seguindo logo atrás. A sala estava mais animada do que antes, os magos agora conversavam entre si, e alguns até mesmo riam de histórias contadas. - Esses sorrisos, eu odeio ter que estragar isso, Rosana.

Ela deu um tapinha no ombro dele e continuou a caminhar.

- É uma ação necessária, meu caro. É uma ação necessária.

O Duque caminhou até o centro, deixando sua presença chamar atenção dos demais magos. Eles se sentaram, voltando ao silêncio mortal e as faces indiferentes. A animosidade anterior sumiu como uma brasa molhada por um balde de água.

O retorno da tensão era um significado simples: Risadas não ganhavam a guerra.

- Boa tarde, senhores. Peço desculpa pela demora, estive com um problema, e creio que poderemos nos resolver agora que tenho informações que poderão nos levar a um patamar mais elevado ou um declínio inesperado. Por favor, peço que me ouçam com bastante atenção agora, senhores.

***

- Orion, você consegue enxergar que cada parte do Arcanismo é derivado de uma linhagem mais antiga, certo? Estamos solucionando cada vez mais partes, e suas pesquisas foram além da nossa expectativa.

O velho Arauto segurava os papeis. Na segunda semana que Oliver Baker foi para os Vidian, Orion passou mais uma semana estudando os mais avançados tipos de Arcanismos Multiplos, tentando reconhecer as fontes primárias e secundárias dos símbolos de cada runa.

Era uma missão complicada, mas com o tempo determinado a lembrar e repassar as runas em sua memória, elas foram se encaixando, formulando mais e mais teorias da verdadeira função dos símbolos.

Diferente de antes, ele não repassou essas teorias para o papel, ele iria levar consigo.

- Eu já fiz o que pediu, senhor – e apontou para uma pilha de papeis no canto da sala, ao lado de outras dezenas de pilhas. Ele estava focado em conhecer o interior do mundo do Arcanismo, e mesmo agora, ele não se desconcentrava. - Pensei que iria gostar de ler sobre os Métodos Científicos do Arcanismo Antigo.

Impressionado, o velho Arauto caminhou até a pilha e a pegou, dando uma lida.

- Incrível, realmente está bem feito.

Orion descansou o lápis de riscar o papel e esperou as próximas palavras do velho.

- Irei levar para os outros Anciãos.

E então, o rapaz aproveitou a chance. Se virou e levantou, não dando tempo para Arauto sair.

- Senhor, eu quero fazer um pedido.

A determinação estava estampada na face do rapaz, Arauto conseguia ver a chama acessa dentro de seus olhos. Por mais que o pedido fosse repentino, ele já estava esperando por aquilo fazia alguns dias.

- Sente-se, Orion.

O rapaz o seguiu, sem entender o real motivo do pedido. Quando o velho se sentou também, ele continuou:

- Sei que você irá fazer um pedido um tanto quanto impossível para mim, e digo que não tenho como fazer. A filha do Mestre Vidian é uma das mais talentosas nobres e está muito perto de se tornar uma Maga Aprendiz na sua escola.

- Mas, senhor-

- Sabe muito bem a posição de sua família, certo, Orion? Sei que ela é sua amiga, e que pode estar insatisfeita pelo controle de seu pai, mas você, amigo dela, está preocupado com seu bem estar.

- Sim, senhor – ele abaixou a cabeça, indeciso do que poderia fazer. - Ela é a minha melhor amiga, senhor, mas não tenho poder nem influência para intervir.

- Existem muitos poderes no mundo, meu rapaz. A fama é apenas um deles, outros como Reconhecimento, Capacidade, Magia, Mana, Escolástica e Hierarquia são disputadas e estão lado a lado. - Ele se levantou dando um tapinha nas costas de Orion e um sorriso quebrado se alargou em seu rosto – Sei que está chateado por conta dela estar envolvida com alguém que não quer, mas para o bem de uma família, sacrifícios devem ser feitos. Lembre-se bem disso.

Ele assentiu com a cabeça.

- Sim, senhor. Me lembrarei.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora