Capítulo 95 - Sopro de Dois Pontos

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Durante 1 ano, Orion continuou sendo torturado. Ele passou por provações com o aço, chamas, navalhas e até mesmo cicatrizes que a pomada, que aprendeu a fazer com outros prisioneiros, não conseguia curar.

Com pouco de paciência, aprendeu a ouvir os guardas e também os prisioneiros. Todos eles possuíam uma história a ser contada, algo que alimentasse sua cabeça, mas que o permitia não ser dominado.

Cada história tinha um preço, e o preço de cada uma era ouvir e entender os detalhes. Esse era o básico, e para escutar até mesmo os homens que falavam uma vez por semana era interessante. Lidar com marginais, posições de uma faca, alguns dos homens que estavam em celas do lado contavam quando estavam caçando ou como identificar um mentiroso apenas por uma precisão do olhar.

Eram ensinamentos de homens que estavam ali por coisas que os Zilianos achavam errado. Uma cultura opressora que mandava para caldeia aquele que atrapalhava seus métodos de conquista ou sua cultura.

De uma forma ou de outra, os Zilianos também sobreviveram por um ano ao ataque das criaturas. Orion não estava tão amedrontado quanto antes, os ensinamentos dos homens e mulheres que viviam ao seu lado era reconfortantes.

Eles contavam sobre sua famílias, sobre seus amigos e amores antigos. Sobre aventuras, sobre eventos passados, sobre a grandiosidade da natureza e até mesmo contos do sobrenatural; bestas que viviam além da montanha, sobrevoando e guardando tesouros inestimáveis.

Para Orion, aqueles homens e mulheres se tornaram parte de sua família, e desde então, quando um deles era enviado para ser torturado, os outros rezavam por ele. Partilhavam da pasta um com outro, riam quando os guardas não estavam por perto, contavam sobre o que ouviam das notícias enquanto eram torturados.

E no fim, eles agradeciam por Orion que tanto perguntou a eles. Seus companheiros de cela não aguentavam, morrendo cerca de 1 a 2 semanas depois de serem enviados. E então, Orion buscou a ajuda dos outros.

Um homem que sabe sobreviver é um homem cheio de vida.

Quando o dia caía, e os guardas subiam para o segundo andar, para a ala onde os piores prisioneiros eram guardados, eles conversavam sobre a floresta e sobre as figuras que viveram em Ibizu. Quando perguntados sobre o Exílio, eles respondiam ser uma terra de pessoas que foram mandadas embora por não serem de Ibizu.

Mas, sobre as Lácrinas e o poder que alimentava as bestas, nenhum deles costumava responder. Não por medo, mas não saberem.

Um ano encarcerado fez de Orion mais esperto. Ele reconhecia um oficial dos Zilianos, como também de vários dos homens e mulheres que eram importantes; nobres que visitavam atrás de um belo show de tortura.

As feridas e cicatrizes pelas costas e peito de Orion não eram nada além de uma pequena ramificação passada, que sequer ardia mais. A pomada que usavam era de uma qualidade estranhamente alta, mas ninguém sabia de onde vinha, apenas recebiam em suas celas depois de um dia de tortura.

O velho dizia a Orion que roubava, mas agora o homem duvidava. Com seus 21 anos, a única coisa que realmente acreditava era que deveria meditar para encontrar o que seu amigo tanto pediu. Um pouco de paz em si.

Durante um ano, tentava entrar no Deserto. Suas falhas acumularam como moedas empilhadas, a cada dia, uma delas era posta sobre a outra. Um ano e um mês, dois meses, três meses. Os prisioneiros apenas comentavam sobre os guardas e quem gostariam de socar por ter batido mais forte do que habitual neles.

Nada de histórias, apenas uma amizade pequena.

O Deserto ainda estava longe para Orion. Um ano e quatro meses, cinco meses. As dores faziam parte de sua respiração. Sem ter como raspar o rosto, ele estava volumoso, uma barba pesada e um cabelo que teve que amarrar por um elástico dado por uma das mulheres presas.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora