– Não irei esconder nada de vocês – Orion reuniu Enan, Rek e Joshua para conversar, e mesmo que ainda fosse horas após o almoço, ele não poderia deixar sua chance escapar. – Ovette me disse que conhece a passagem até o topo da montanha, e não irei deixar a chance escapar.
Negando com a cabeça a ideia da partida, Rek segurou o ombro de Orion, concentrado.
– Francamente, por que quer tanto aquele caco de vidro? Você já ouviu as histórias dela, não já? São uma fonte que não devemos mexer. Temos que viver sem tocá-las, morrer sem tocá-las.
– Concordo com ele – Enan cruzou os braços, ainda desconfiado de tanta perseguição por aqueles pequenos pedaços de vidro. – Não devemos provocar uma força desconhecida.
– É exatamente por isso que estou indo para lá, para estudá-la. Meus amigos, os Zilianos tentaram pegar uma das Lácrinas que está em um vale, e estão a mais de dois anos sendo atacados. Eu não posso deixar que nenhum curioso faça o mesmo e vocês fiquem em perigo.
– Isso é uma desculpa para você ir – Joshua apontou, falando alto.
– Sendo uma desculpa ou não – Ovete se aproximou, tendo escutado tudo – ele não deixa de estar certo. Muitas pessoas sofreram por conta das Lácrinas. Vocês conhecem histórias antigas, mas não entendem que o poder dela é suficiente para arrasar uma cidade inteira, se não mais.
Os três não enfrentaram a Exilada. Alguém do outro lado da montanha era bem oculta e misteriosa. Até mesmo as piores histórias contadas pelos Exilados eram feitos de contos antigos, retratando um imenso apresso ao simbolismo.
Ninguém ousava ir contra preces e rezas, não as que os Exilados guardavam.
– Confio em Orion para que ele estude a Lácrina, mas também, nós iremos voltar. Meu irmão não está em condição de andar, e gostaria que cuidassem dele até que eu voltasse. – Ela abaixou a cabeça, em respeito. – Serei grata se fizerem isso por mim.
Orion também se curvou.
– Eu também.
Não foi mais preciso de mais nenhum comentário. Enan e Rek aceitaram, mas Joshua ainda estava descontente com a ida de Orion. Mesmo que estivesse tentando dizer que não queria que ele se fosse, não conseguia.
Travava sempre que podia, não conseguindo sequer liberar uma palavra. Quando Orion e Ovette acenaram de longe, ele só conseguiu acenar, com pesar em seu coração.
Tome cuidado, irmão. Foi o que conseguiu pensar.
**
Correr não era a parte mais difícil do processo, enfrentar a escuridão, sim. Mesmo penetrando os túneis ainda de manhã, o sol não refletia por dentro. A escuridão da montanha só poderia ser dissipada pelas tochas, mas estavam todas apagadas.
O cheiro de sangue seco e até mesmo o mofo das paredes era insuportável. Ovette estava acostumada com o cheiro, mas Orion elevava as narinas, era tão angustiante que o fazia remexer o corpo.
Eles atravessaram os túneis primários, uma subida em linha reta. Orion deixara acender uma parte de seus braços, criando luminosidade suficiente para atravessar a escuridão e chegar do outro lado. Eles pararam na parte de cima, em curvas irregulares criadas por picaretas e pás.
As ferramentas estavam jogadas no chão, e até mesmo carrinhos de mão feitos de Íbrio estavam largados de cabeça para baixo, manchados de sangue. O cheiro não era tão forte quanto na subida, mas todos os caminhos criados sopravam ventos quentes.
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Passos Arcanos: Caminho da Honra
FantasíaCaveleiro e Escolástico desde sua infância, Orion Baker é membro de uma família desonrada de Magos. Sua história é regida por leis naturais, querendo desvendar o mundo a sua maneira, não limitado pelas leis. A Igreja e a Ordem conjuram suas forças...