Capítulo 129 - A Primeira Cartada

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Com a chegada até o vilarejo do Sul, Leo deu uma pausa em sua busca pelos seus tesouros. Suas vestes estavam um trapo, rasgadas em diversas partes, ensanguentadas e não usava nem mesmo uma bota, estando pisando livremente pelo solo.

A dor não mais incomodava, os calos já retirara muito de sua sensibilidade. Caminhar em um solo arenoso ou pedregoso era a mesma coisa. Lentamente, ele caminhou entre os becos, pegando atalhos para não chamar a atenção da população local, e entrou, em uma área mais afastada do centro do vilarejo, em um xale redondo feito de pedra e madeira.

As janelas estavam todas fechadas, o sol sequer ousava penetrar pelas frechas. A escuridão não o atrapalhava tanto, seus olhos brilhavam no escuro, distinguindo a posição de cada mobília, de cada parede.

Caminhando pela sala, Leo passou seu dedo em cima de uma das estantes, retirando a poeira e fazendo uma fina linha no móvel. Se sentou no sofá, após, acariciando seu tecido. Tudo estava sem lugar, como sempre.

O cheiro de guardado era evidente, se misturava com as madeira podre ao seu redor, sustentada pelas vigas de pedra do teto, e se conciliando com o breu. Era calmo, silencioso, era seu antro. O único lugar que a paz não era por meio de sangue ou discursos manipuladores.

Na escuridão, ele permaneceu sentado, apenas apreciando sua solitude. Os músculos de seu braço e perna gritavam para que descansasse, sua mente, entretanto, regava ideias e planos para seu futuro.

Era assim que se sobreviveria.

– Leonardo – uma voz velha e desgastada o chamou de fora da casa. – Abra, sei que está ai, um dos meus meninos me alertou.

Dando alguns segundos, em silêncio, o homem respondeu de dentro, frio e indiferente:

– Está aberta. Empurre.

A porta foi empurrada, lentamente. O velho homem entrou, tossindo e abanando o braço perto do rosto, afugentando a poeira levantada. Em meio a tosse, ele se dirigiu até uma da janelas de madeira e a abriu.

– Esse lugar já foi organizado. Deveria contratar alguém para limpá-lo. – Após se sentar em uma poltrona, ao lado do careca, observou sua tatuagem de cobra espalhada pelo seu corpo, ainda mais forte do que a última vez que o vira. – E então, como foi sua jornada até a Lagoa de Saltus?

– Perda de tempo.

O velho Elfo se ajeitou na cadeira, tentando se acomodar melhor.

– Devia trocar essa cadeira velha, sabia? Não é gentil com as visitas.

– Os livros não estavam com nenhum deles – Leo o interrompeu, seguindo seu fluxo, inusitadamente. – Cada traço de linha que segui, até mesmo os trabalhos que aceitei, não levaram a nada.

– O que está dizendo, Leo? É claro que deram. Você está cada vez mais perto da verdade. Olhe o quanto que caminhou para chegar até aqui, só precisa de mais informações e se achará. Poderá vingar o que fizeram com sua família.

O velho tentou um sorriso modesto, e deu um tapinha na perna do homem, tentando confortá-lo.

– Não precisa se preocupar, sei que conseguirá sua vingança. Não está fazendo isso apenas por você, mas por todos aqueles que tiveram suas famílias retiradas, injustamente.

– O que fizeram com a minha família será pago, aos poucos. Tenha certeza disso. Aquele que organizou tudo, desde a morte dos meus pais até o massacre do meu vilarejo, não será poupado. E o Rei Elfo que se esconde atrás dos seus guardas vai pagar.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora