Capítulo 64 - Tenra e Vento

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Sua mais nova descoberta e experiência com o Fogo rendeu pensamentos tão fervorosos que sua mente estava prestes a explodir dentro do quarto. Ele não demorou para se levantar, sentar na cadeira e começar a escrever tudo o que se passou dentro do mundo Desértico.

Mesmo que os outros não pudessem compreender completamente, sua mente estava clara o suficiente para que jamais deixasse esse sentimento escapar. Escrever foi como revivê-lo, segundo atrás de segundo, encarando os olhos azulados, o mar em chamas, da mulher representada por Vieszk.

Permaneceu escrevendo como um louco, esperando o dia clarear. Lia o livro de Termologia, deixando suas experiências ditadas pelo livro de lado, poderia muito bem ocasionar em um incêndio caso não as dominasse perfeitamente.

E Carla o ajudava a montar os textos escritos. Ela era boa com caligrafia, e separar conteúdos e alternar modificações nas palavras era sempre um jogo para ela. Os dois continuaram por horas daquela forma, encaixando palavras atrás de palavras, criando o sentimento único que Orion sentira do outro lado.

Mesmo que Carla estivesse curiosa sobre o tal 'Mundo Desértico' descrito, não questionou. Alguns tipos de segredos deveriam ser decifrados e não falados abertamente.

***

Antrax e Gidrin estavam sentados em um banco, no meio da praça, às oito horas da manhã. Encaravam o começo do dia, e o vento mudava a direção das nuvens no céu, incluindo uma grande massa cinzenta que se deslocava em sua direção.

Por maior e mais densa que fosse, a nuvem não deixou nenhum temor nos rostos velhos dos dois. Antrax segurava um pequeno pergaminho enrolado, mas seu selo estava quebrado, ainda olhando para cima, ele esticou o papel para seu amigo, o deixando pegar e abrir antes de começar a falar.

- Parece que Tenra não é a única que está procurando por você, meu amigo. - Ele abaixou a face, procurando uma resposta definitiva nas rugas e no sorriso quebrado de Gidrin, mas encontrou apenas o mesmo de sempre: o brilho nos olhos e as pequenas manhas abaixo deles. - Por que eles estão te caçando, Gidrin?

Desistira da sua formalidade completa. Mesmo que tentasse, poderia não dar em lugar nenhum.

- Antrax, por que se preocupa tanto com seu velho mentor? Eu sempre dizia para deixar seu nariz longe de coisas perigosas, mas olhe o que se formou – e sorriu, sua voz era gentil e calma, mesmo com certas preocupações. - Um Alquimista e Mestre Arcano. Duas das piores profissões para uma vida saudável.

- Sabe muito bem o porquê de minhas escolhas serem essas. No caso, eu ainda quero saber o porquê eles estão vindo atrás de vocês. O que fizeram?

- Antrax...

- Não minta, Gidrin. - Antrax o olhou de lado, atento. - Essas crianças que estão aqui merecem uma vida segura. Mesmo que Tenra esteja passando por uma política bruta e extremista, eu devo saber porque estão caçando alguns dos seus.

- Mesmo que seu nariz não busque por encrencas, a encrenca parece seguir seu nariz. Por isso, ele é grande desse jeito. Agora, faz sentido a causa de ter o apelido de 'Antrax Narigudo'.

- Acredito que seja por motivos bem mais simples, mas continue.

Gidrin não possuía uma escolha. Um beco sem saída e se tentasse escapar pela única via, iria dar de cara com Antrax. Suspirou olhando para o meio da praça, para onde a fonte estava. A água levantava com pequenas flutuações, e retornava para o solo, para os canos transparentes que deslizavam entre o solo.

Não só a fonte, ele percorreu seu olhar ao redor, para as casas, para os centros de treinamento, para a enorme parede que cobria suas costas, os protegendo. Um lugar calmo e suave até mesmo para a mente mais barulhenta.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora