Capítulo 148 - A Guardiã do Vale Xama

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Deslizando pela terra, o Cani-Dirus pousava suas garras por um único segundo nas paredes rochosas antes se alavancar para uma próxima. Não tocava o chão de modo algum, esperando que o Humano em suas costas reclamasse ou a confrontasse.

A calma de Orion irritava a criatura. Ele estava segurando os pelos grossos, protegendo sua cabeça contra os ventos fortes e as pedras que subiam com a chicotada das patas do Cani. Com a postura mais curvada, olhava para o interior do vale, para escuridão que o cercava mesmo sendo dia, ainda impressionado por estar tão perto do abismo e a temperatura abaixar ainda mais do que seu corpo conseguia segurar.

Mesmo usando Temperatural Inatural, ainda resguardava dos ventos frios pelas costas e pernas, balançando seu manto e adentrando, eriçando os pelos de sua nuca. Era um frio mortal.

Um dia inteiro de caminhada pelas Terras Queimadas deixaram as panturrilhas de Orion bem tensas, parou por horas, aliviando a carga da Cani-Dirus e bebendo um pouco de água que levava consigo.

O trajeto inteiro era repleto de sons estranhos, vindo de longe, como sopros estranhos, rodeando ambos. A Cani retraía o focinho sempre que os sopros chegavam mais perto, e mesmo assim, quando Orion tentava acalmá-la, a cabeça dela abaixava ainda mais.

Por mais que estivesse tão perto da posição indicada por Tavios e Ming Du, a névoa que via no horizonte não desaparecia ou chegava perto. Era mais densa do que uma pedra, como uma muralha gigante.

Sentado em uma das pedras na direção da muralha cinzenta, mais um dos sopros chegou arrastando gravetos e pedras. Múrmuros de lamentação, providos de uma sensação assombrosa de arrepios. Orion teve que esticar a mão na direção do focinho da Cani para protegê-la.

Quando os sussurros se foram, levantou-se, batendo as botas duas vezes antes de levantar o capuz e chamar sua montaria. Era escuro quando pararam novamente, em uma área mais aberta, uma espécie de retorno circular, era a parte mais ampla que encontraram até o momento.

Antes mesmo de pararem, Orion não deixou que faltasse luz. Por mais amedrontador que fosse para um Cani-Dirus, iluminou o local incendiando o próprio braço, usando Controle Abstrato, das chamas.

Sentados e partilhando da companhia um do outro, a dupla ouvia o vento colidir contras as bordas e paredes do vale, dos gritos de dor e lamento, tão altos que pareciam estar ali, dos seus lados. Algumas vezes, a voz era tão forte que Orion erguia os braços, assustado.

Aquele lugar era assustador.

"Fuja. Fuja, como sempre fez".

Orion levantou-se, no meio da noite. Sua cabeça fez caminho de um ponta a outra na área circular.

– Pai?

"Se esconda. Se esconda".

Um vulto voou tão rápido por cima de Orion que ele levou a mão a espada, pronto para sacá-la. As chamas do seu braço esquerdo estava se apagando, e ele balançava fortemente, tentando mantê-la ativa.

Estava sendo drenada.

Aos poucos, ela tornou-se uma fagulho, como uma vela, e os ombros do Mago tensionaram. Duas grandes mãos esqueléticas repousaram sobre seu corpo, o puxando para trás, para a escuridão. Ele prendeu a respiração.

- Controle Inatural: Segundo Estágio.

A pequena fagulha nos meios dos seus dedos apagaram, o deixando por um segundo inteiro no breu. Seus olhos viam apenas o brilho das estrelas enquanto estava sendo arrastado para a morte. No instante seguinte, suas costas explodiram com chamas azuladas.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora