Passos Arcanos: Caminho da Honra

Capítulo 98 - Sem Ressentimentos, Apenas Objetivos

Antes do banquete ser servido, os mercenários que se renderam foram amarrados em árvores e presos por correntes. Eles ficariam lá por um dia inteiro e seriam libertos, depois disso, poderiam ir embora para onde quisessem.

Enan não queria que nenhum deles fosse morto sem motivos, e o rancor não fazia parte de sua personalidade. Uma grande mesa foi coberta com um pano branco, e o frango, carne e canecas foram distribuídas para todos.

Algumas horas se passaram. Orion não contou nada a nenhum deles sobre a prisão, ele sorriu, comeu, conversou, ouviu como o velho na cela o ensinou. Cada história, cada contentamento e tristeza. Cada ataque de Galkan e de algumas criaturas nas florestas.

Orion não se sentia confortável para acabar com uma alegria com os dois anos que esteve dentro da prisão. Ovette e Gârno não disseram nada, observavam todos eles falarem tão abertamente com Orion que parecia que o rapaz nunca tinha ido embora.

Estava surpresos por não verem Orion contar, e quando era perguntado o que ele fazia, apenas sorria dizendo: Nada demais. Aprendendo algumas coisas

Nunca que os dois poderiam dizer tais coisas. Eles viram as marcas pelo corpo de Orion, as queimaduras que seu pescoço que seu traje escondia. Os cortes feitas por navalhas esticadas nas panturrilhas.

Como ele poderia dizer que não era nada?

Ambos receberam o olhar do próprio Orion, mas ele apenas sorriu, sem nenhum movimento para se calarem. Estava apenas desfrutando do momento, sem interromper que os irmãos Grolldon ou Joshua e seus irmãos de lua ficassem abalados.

Eles deveriam saborear o momento tanto quanto ele.

– Mas, você voltou apenas para nos salvar? - Joshua questionou, enfiando um pedaço de carne na boca. – Não disse que queria ir para casa? Devia ter aprendido a sair da ilha.

– Estou tentando achar meios para isso – Orion respondeu, comendo devagar. Sua língua ainda estava sensitiva por queimaduras feitas durante as torturas. – Estou indo até o outro lado da montanha para perguntar se algum deles conhece um jeito de eu sair.

– Por isso que está com eles?

– Isso. Não tenho como usar um barco, pelo que Rek disse uma vez pra mim, eu teria que atravessar mais de 40 mil quilômetros para chegar até uma cidade. Não tenho tempo pra isso.

Rek olhou para Enan e perguntou baixo:

– Eu disse isso?

Enan o ignorou, ainda focado em Orion.

– Acho que você deveria pensar na possibilidade de ficar. Sempre terá um lugar aqui, mesmo que fique anos desaparecido. Nós iriamos ficar contentes. Todos nós.

Orion olhou para eles, e sorriu. Jamais pensara em ficar, nem mesmo quando estava preso. A única coisa que o movia era conhecer, e ali, apenas duas coisas importavam: Lácrinas e o que elas guardavam.

Ainda assim, os rostos esperançosos lhe doíam. Estava esperando uma resposta confirmando sua estadia permanente.

– Eu gostaria, de algum dia, trazer meu pai para ver esse lugar – Orion desviou seu olhar para a comida e garfou um pedaço de carne. – Ele adoraria. Mas, para isso, eu tenho que ir embora.

– Então, prometa que vai voltar – Joshua apontou para ele, falando alto. – Prometa que vai voltar para nos ver.

Orion concordou, levantando a mão direita. Os demais assentiram, era uma promessa com todos eles.

– Eu prometo.

***

– Por que quer ir embora? - Ovette se sentou em um tronco, afastado do acampamento, ao lado de Orion. Seus cabelos viviam caídos em frente ao rosto, e não era diferente daquela vez. – Por que quer tanto voltar?