Capítulo 37 - Nobre Donzela?

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Orion estava com um olhar inusitado, segurando um pequeno pedaço de carne de coelho depois de assá-lo na fogueira que preparou. Estava com fome, bastante, mas vendo a mulher dos cabelos vermelhos mastigar a carne com tanta ferocidade, repensou um pouco o que era estar faminto.

Ela mastigava, puxando a carne, não fazendo nenhum tipo de decoro, sem ao menos se importar com quem estava ao seu lado, e saboreava do sabor da gordura entre seus dentes, fechando os olhos e se deixando levar com um suspiro.

Eles não disseram nada, ainda não estava de noite, então a sonoridade era apenas dos pássaros e do vento. Mas, Orion ainda estava impressionado pela velocidade que aquela mulher comia, e não demorou para devorar mais da metade da segunda remessa.

Quando estava limpando os palitos com a língua, tentando encontrar restos da comida, ela se tocou de onde estava e com quem estava. Parou, rapidamente, e desviou o olhar para o outro, incomodada.

- Agradeço pela comida – conseguiu dizer, ainda baixo, querendo que o agradecimento não fosse ouvido.

- Não precisa agradecer. - O Cavaleiro cutucou a brasa da fogueira, diminuindo seu volume, não a deixando escapar do círculo. - Então, eu tenho que perguntar, não posso ficar quieto.

Envergonhada, completamente, ela se virou, ainda com a cabeça abaixada. Estava prestes a responder as perguntas lascivas e as comuns chantagens. Era natural.

- Qual o seu nome e quem te jogou no buraco? - Ele jogou o graveto no foco e pegou a sua segunda carne de coelho, a girando acima das chamas, a torrando um pouco mais. - Sei que você estava com fome, então não perguntei antes. É falta de educação fazer perguntas no meio de uma refeição.

Inesperadamente, ela tentou dar um sorriso, mas parou no meio do caminho, ainda estava dolorida do ultimo encontro com seu agressor. Passou a mão um pouco no rosto, o esticando e concordou em responder as questões.

- Me chamo Hana Jionita – e olhou para ver qual seria a reação de Orion. Nada surgiu. - Sou filha de um Lorde, chamada para ser a primeira da linhagem dos Jionita, levando em consideração que toda a minha família é parte de um governo central em Archaboom.

O outro apenas concordou, sem nada a acrescentar. Hana continuou, nervosa:

- Lupus Ambus foi o homem quem me jogou no buraco. - Dizer tais palavras a fez estremecer um pouco, fechando a mão e afastou os braços do peito, para as pernas, a segurando com força. Seu olhar se centrou nas chamas, quase que as fitando completamente. - Ele deveria ser considerado meu marido, na verdade, um pedaço de merda que apenas quer o trono do meu pai.

- Eu esperava por isso – Orion riu. - Dizem que um homem que joga mulheres no buraco é um homem sem senso de direção.

- Aonde ouviu isso? - o tom distraído retornou a ela, desaparecendo com o assombro segundos atrás. Ela sequer notara.

- É um ditado popular que... eu inventei – e deu uma risada, arrancando uma também da mulher. - Eu não tenho como ficar simplesmente falando para alguém o que acho, mas esse cara não parece ser muito bem da cabeça.

- Ele é um maluco lunático que acredita que minha família guarda um segredo que ninguém de fora sabe. - Hana encolheu o ombro, sem ao menos fazer pressão para Orion – Homem ambicioso, tão merda quanto a própria bosta de um cavalo.

- Deveria dizer isso para ele.

O silêncio ponderou novamente. Orion começou a comer a carne nada incomodado, mas a cada segundo que passava, enquanto nenhuma das vozes se elevava ou o som da crepitação da brasa ou o balançar das copas não fosse maior que seus pensamentos, ela começava a tremer.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora