Capítulo 41 - Canção de Lenda e Escória

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Banho era uma das poucas coisas na qual Orion poderia dizer que adorava. Estava encarnado em sua pele, em seus ossos, e talvez ainda mais fundo do que isso, lhe fazendo suspirar quando o vapor da água subia e relaxava, gradualmente.

Ele demorou um pouco mais do que a permissão de Mauro, mas não interferiu em muita coisa, no fundo, tanta sujeira para arrancar de meses no meio da floresta, enfrentando criaturas e pessoas, acumulara sujeira em partes de seu corpo que nem ele achou que existia.

E arrancar tudo com uma esponja feita de aço era como coçar ferimentos e arrancar a pele, não definindo qual era a ordem certa.

Peças de roupa nova, porém, feitas de batalha foram dadas a Orion. Ele as vestiu após, olhando sua textura, dando um leve toque, passando a mão. Uma vestimenta limpa. Era reconfortante estar vestindo algo que não estivesse manchado ou de sangue ou de lama.

Arrumou o cabelo, fora a primeira vez que notou que seu cabelo estava muito mais comprido, levando em consideração nunca deixá-lo maior do que a altura dos olhos por conta dos seus antigos treinos.

Arrastou a mão por eles, limpos, lavados e perfumados. Deu um sorriso.

Saiu da casa de banho, subiu um par de escadas, chegando até onde seu quarto foi designado. Adentrou. O cheiro de poeira era claro, mas era reconfortante. Uma cama, um pequeno gabinete e um tapete cobrindo todo o chão.

A poeira era por conta das janelas fechadas, então, sentado na ponta da cama, as abriu. A rua larga do lado de fora estava muito mais movimentada, alguns comerciantes ambulantes passavam gritando seus produtos, e as crianças se sentavam em caixotes de madeira em outro canto para ouvir histórias do passado.

O bar estava movimentado ao ponto dos urros e risadas estarem na mesma medida que a cantoria e dos instrumentos. A música poderia estar 10 vezes mais alta, estourando o tímpano e os fazendo sangrar, Orion riria.

Ele se deitou e dormiu.

***

-... depois disso, ele me prendeu em um buraco qualquer no meio da floresta – Hana erguia o corpo, com água dessa vez, e suspirava para Ohana e Mauro, ambos ouvindo atentamente, com suas bocas semiabertas.

- A senhora não ficou assustada? - A jovem perguntou, tão curiosa e admirada quanto os jovens garotos de rua ficavam ao ver um general.

Hana lhe lançou um sorriso quebrado, erguendo uma das sobrancelhas, e piscou um dos olhos para ela.

- Um Jionita permanece firme até o final.

E ao beber novamente, virando seu rosto para o palco, onde um dos músicos começava a tocar, seus olhos perderam a cor, ficando completamente negros. Se fingir de forte e ser forte eram diferentes, e para uma nobre, fingir era sempre mais fácil.

- E Orion a achou? - Mauro questionou, sabendo metade da história, perdendo apenas o fato de que fora Lupus quem atirara sua esposa em uma armadilha. - Como ele conseguiu?

Ela deu uma risada, virando-se.

- Essa parte é engraçada.

- Do jeito que você conta, todas elas parecem engraçadas – não muito longe, a voz se elevou.

Orion estava parada, com os braços cruzados e encostado em uma das pilastras de madeira, com uma maça mordida ao lado, em cima do balcão.

- Ai está – Mauro acenou, fazendo toda uma mensura risonha, mirando os braços para o Cavaleiro. - Um salvamento e tanto, não foi?

- Senhor Orion – Ohana se aproximou, ainda com seus olhos vidrados, brilhantes quanto estrelas -, é verdade que defendeu um Canis no meio da floresta? A senhora Hana me contou de manhã, no banho, mas...

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora