Capítulo 9 - Seleção

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- Infelizmente, seu teste não resultou em nada além de um simples foco de determinação. Seu pensamento em não pensar como saltar, o porquê de estar ali e motivos aparentes de se jogar fizeram com que a pontuação diminuísse cada vez mais. Mesmo para um teste, existe um limite de se entregar, e você extrapolou completamente esse limite.

Orion ouvia um dos Anciãos falar, continuava com seu queixo erguido, um olhar feroz. Ele estava ouvindo que seu próprio salto foi algo sem sentido, sem nada demais. Ele se deu completamente para o teste, e ainda assim, não era suficiente para aquelas pessoas.

- Sua pontuação foi cerca de-

- O nome do teste é de coragem, certo? - Orion o cortou, elevando sua voz para todos os demais que estavam a sua volta ouvirem. Fosse Ancião, convidados ou até mesmo outros participantes do testes, todos eles viram uma ação desonrada.

- Não deveria cortar um Ancião quando ele está se dirigindo a palavra, rapaz. Ainda carece de educação, mais do que eu pensava, pelo visto.

- Ainda não respondeu a minha pergunta, senhor. - Orion não se deixou abalar. O que mais ele poderia perder agora? - A coragem é um salto, uma espécie de se jogar quando ninguém mais quer. Determinação não tem nada a ver com esse tipo de coisa. As duas são puro jogo mental, um gatilho para-

- JÁ CHEGA.

E, dessa vez, Orion deu um passo para trás, e caiu no chão. A energia liberada do interior do Ancião foi surpreendente, lançando até mesmo alguns outros participantes para trás, mas como seu foco era Orion, apenas o rapaz caiu sentado.

- Suas palavras não são nada além de uma simples formiga enfrentando uma montanha? Quem é você, rapaz? Não existe um limite para calcular coragem, para determinar uma emoção. Você não está pronto, esse foi o veredito. Deve se concentrar em fazer o que faz de melhor.

O rapaz se silenciou, mas não ficou no recinto. Ele se levantou, limpou um pouco das suas vestes e virou as costas para o Ancião, deixando até mesmo Arauto, no fundo, um pouco precipitado. Era um sinal claro de desonra.

- O que está fazendo, Orion Baker?

- Indo para o único lugar que eu sei fazer alguma coisa.

Sem se importar com família, Ancião, convidado, ou até mesmo se alguns membros famosos dos Vidian ou de outras famílias estivessem presentes. Ele continuou seu caminho para fora do salão, deixando as injurias do Ancião morrerem no seu silêncio.

Alguns convidados como a mulher ruiva e o Cavaleiro se entreolharam, deixando um pouco de suas intenções presentes, um para o outro. O Ancião, cansado de gritar para Orion palavras ofensivas, retornou para Arauto com ferocidade.

- Esse é o garoto que você estava desenvolvendo? Ele é uma espécie de rato qualquer que não sabe o seu lugar.

- Orion é um dos poucos capazes de escrever Arcanismo Avançado de sua geração. Ele tem idade suficiente para ser um Cavaleiro, tem uma memória surpreendente e consegue mesclar qualquer estratégia de batalha, além de saber mais de dois idiomas diferentes do comum.

Arauto continuou firme em sua posição, olhando para seu irmão.

- Coragem e Determinação são contados no teste, mas eu sei que vocês não quiseram o passar por um motivo simples. O garoto tem fibra, mais do que muitos presentes aqui dentro.

- Horivaldo decidiu.

- Horivaldo é um velho que escolhe números avulsos. Ele não possui mais capacidade de raciocinar, lembre-se da última vez que ele disse algo que conseguia completar uma frase, irmão Agero.

Os outros Anciãos vieram em resgate do mais novo. Arauto era um dos mais velhos e também dos mais importantes, mas Agero era diretamente ligado com Horivaldo. Uma palavra contra Horivaldo era como estar batendo contra mais de 4 Anciãos ao mesmo tempo.

- As palavras do irmão Horivaldo são um destino, e seu julgamento é simples, mas concreto.

- Então, me falem sobre Rarior Vidian, Omar Baker e Ior Germaco?

Ninguém esperaria que Arauto iria dizer o nome de três pessoas cuja fama eram altas, mas não para o lado do bem. Arauto continuou vendo os rostos pálidos dos Anciãos começaram a escurecerem. E com um gesto de mão, se dirigiu a palavra.

- Vamos, estou esperando.

- Não devia jogar sujo contra seus próprios irmãos, Arauto – Agero apontou para ele. - São casos isolados que juramos nunca mais mencionarmos.

- Se vocês não querem mencionar, eu menciono.

Os aprendizes, calados e observando atentamente a confusão gerada pelo aprendiz anterior, engoliram o seco. Esses nomes eram um tabu, um no qual não poderia ser mencionado, nem mesmo como brincadeira.

- Chega, Arauto. - Agero brandiu o braço. - Não posso deixar que fale abertamente sobre um problema tão diferente da situação atual.

- Diferente? - ele deu um passo em direção aos Anciãos, elevando sua voz. - Diferente? Aquele rapaz é uma joia, uma na qual poderia nos ajudar, em todas as Escolas Arcanas, e vocês, por ordem de um número, tiraram ele do caminho correto. E se aquele garoto não receber essa ordem como algo bom? E se estiver agora fazendo algo que irá nos colocar em perigo?

- Não podermos correr o risco de mais um Baker virar para o outro lado.

- Não fale que a família dele é desonrada por causa daquele rapaz. Se fosse assim, os Vidian e os Germacos também seriam.

E antes que qualquer membro dos Vidian fizesse seu movimento, Arauto mirou seus dedos para eles, os mandando ficar parados, calados.

- Anciãos são pessoas que nutrem os mais novos, lapidamos essa joia para que façam um bem maior ao mundo, nunca para nós mesmos. Estando simplesmente apontando o dedo e negando alguém cujo potencial ultrapassa suas compreensões é como... é como negar que os mais novos irão nos passar. Criamos pessoas, não maquinas, e por isso, eles devem decidir o caminho, não serem vedados deles.

- Você não entende nada do que está falando. Idealista até mesmo agora, depois que atrocidades nos fizeram mudar o método de escolha.

Arauto recuou, ficando ereto, deixando o pingo de raiva sumir entre seus dedos. Dissipando a magia, respirou fundo.

- É capaz que eu nunca entenda.

Caminhando, Arauto deu as costas para todos os outros, saindo do salão.

***

A lâmina dançava contra o boneco de treino. Seus riscos eram rápidos como o vento, centrados como uma montanha, e mudando de postura a cada segundo, era como estar vendo um espadachim dançando entre uma floresta de bambus.

O último movimento, segurando o cabo com as duas mãos, girando e encontrando a costela do oponente criou um estalido na madeira e também na lâmina. Orion soltou um urro dolorido, jogou a espada no chão e começou a socar o boneco.

Sua raiva era canalizada, mas sua mente trazia mais emoção do que se dissipava. Os Anciãos estavam errados, ele podia fazer mais pelo mundo, poderia entrar em uma Escola, ser um Guardião, no futuro.

Ele podia crescer, ser mais forte do que qualquer um, poderia retirar Megan das garras de um casamento que ela não estava disposta a lutar contra. Nem mesmo os agudos gritos de uma águia vindo do céu o acordavam.

Fora apenas quando suas unhas enfincaram na palma de sua mão que ele soltou um urro. Seu punho bateu contra o boneco, o fazendo se mexer um pouco, mas voltando a posição inicial.

Ele caiu ajoelhado, deixando seus braços cansados jogados por cima de sua coxa. Abaixou a cabeça e limpou os olhos com as costas da mão. Ele não iria ficar parado, não mais.

A primeira chance que tivesse, a primeira chance que aparecesse, ele sairia.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora