Capítulo 46 - Lunático Imperfeito

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Olhando para o céu, um brilho escarlate emergiu como uma fagulha, e se expandiu como uma tufão gigantesco. As bordas laterais das chamas queimavam com se estivesse prestes a domar o cenário ao seu redor.

Os morros acinzentados foram levemente iluminados, mas Atala continuou observando as chamas, admirando completamente o poder que emanava de seu interior. Ainda que focasse seus sentidos, o o paradeiro do criador era desconhecido.

Se sentou, balançando sua cabeça de um lado para o outro, deixando que a imagem do imenso tufão, que girava lentamente, fosse cravado em suas memórias.

- Vieskz, o Fogo.

***

- Vieskz? - Ao lado de sua mentora, Carla olhava para frente, ainda confusa com o que estava ouvindo. - Não consigo compreender os termos corretos do Fogo.

A mulher, com seus 60 anos, caminhava lentamente, arrastando mais os pés do que o levantando. Seus cabelos eram cacheados, amarrados em tranças atrás da cabeça. Sua roupa era um feito de pano gross, em uma coloração avermelhada descendo em degrade com o azul, sendo cortada na diagonal até a cintura.

A mulher mirou seus dedos para frente, desenhando a pronuncia no ar.

- Está errando na pronuncia. Quando usamos palavras, temos o poder necessário para ativá-la, utilizando ela mesma, em si. Não é comum que muitas pessoas comecem seus treinos gritando a mesma coisa, mas nunca conseguem achar nada.

- Foram seus antigos alunos? - Carla a olhou, curiosa. - A senhora nunca conta muito deles.

- Alguns, sim. Muitos que são encaminhados para a Pronuncia chegam de famílias nobres, acreditando que seus potenciais são completamente ilimitados, que poderiam cruzar os mares e voar pelos céus.

- Eu não acredito nisso.

- E nem deveria – concluiu, sabiamente. - Não digo que alguém, algum dia, conseguiria, mas aqui, em Juntorill, não treinamos as palavras para nos satisfazerem. São elementos confusos que guiam ao redor do mundo, esperando para serem clamadas.

Carla assentiu, deixando a informação cravar em si, e respirou fundo, parando. Fechou os olhos, deixando apenas a imagem do fogo em si recobrar seus sentidos. Porém, a única coisa que veio em sua mente era a lembrança de dias atrás, quando um outro lado gritava de dor, emanando uma estrutura em chamas tão terrível que dizimou parte de uma floresta antes de se extinguir.

Ao abrir os olhos, com um estalo de um sino, Carla estava sentada em uma pedra, olhando para uma parede, ainda estava no meio da floresta, em Juntorril, o Reino dos Anões, mas a parede não era sua realidade.

Confusa, encarou ao redor, esperando que alguém aparecesse, mas nem mesmo um único som se propagava. Caminhou até a parede de apenas dois metros quadrados, e tocou sua superfície. Estava fria, a obrigando retirar a mão.

- Então, Grilho retornou ao lar – a voz se enfatizou, vindo por trás de Carla, a fazendo se virar. - Calma, calma. Não se assuste, eu só estou de passagem. Senti você querendo chamar o Fogo, mas não entendi muito bem o que estava imaginando.

Era um homem barbudo, com um equipamento de caça completo, comia frutas e com algumas armas ao redor do corpo. Ao dar uma dentada na pera, demorou um pouco para continuar.

- Olhe, eu sei que você é meio nova e tudo mais, então, eu não tenho muito interesse em te caçar. Não sou como os outros e espero que entenda isso. - Pegou a pera e quebrou com a mão. Era forte, músculo e alto, seus olhos penetravam nos de Carla e não a deixava desviar. - Está em Juntorill para aprender? Isso é bom, mas não se deixe levar pelos ensinamentos dos tampinhas.

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora