O dia amanheceu muito mais rápido do que os outros, fora pelo fato de que a maioria das pessoas estava bêbada e não percebeu, fosse pelo fato de que boa parte deles caíram depois da música de Hana, sendo atirados em sonos profundos e carregados pra casa.
De qualquer jeito, Orion já estava acordado, sentado em uma das mesas, sozinho, comendo o que era seu primeiro café da manhã. Ovos, muito bacon e linguiça torrada junto com queijo, alguns pedaços de pão e sua caneca era enchida quase que a todo momento, bebendo água.
Do balcão, Mauro e Prisma o encaravam com certo espanto. Ele devorava a comida feito um animal selvagem.
- E eu pensando que ele não estava com fome – Mauro recostou o braço na bancada, dando uma risada leve. - Ele sequer pediu a comida, só aceitou porque oferecemos.
- Ele parece estar com fome ainda, tio.
- Então, pegue mais para ele. Vai, vai.
A comida foi reposta e Orion continuou comendo, como se não tivesse fundo. Depois de negar o terceiro prato, ele agradeceu, suspirando e tocando a mão na barriga, estufado.
- Fazia muito tempo que eu não comia assim.
- Por quê? - Prisma se sentou do outro lado, na cadeira.
- Eu caminho muito, ando por muitos lugares – e olhou para a janela, para o lado de fora. - Não gosto de ficar muito tempo parado.
- Então, o senhor não vai ficar? - e enfiou a mão entre as pernas, resoluta. - Por que não pode ficar? Gostamos tanto do senhor e da senhora Hana.
- Hana é uma mulher – parou para pensar na palavra certa – compromissada. Ela tem deveres um pouco longe daqui, e eu não irei ficar com ela para sempre, também tenho os meus.
Prisma se remexeu na cadeira, um pouco chateada, um pouco ressentida.
- Sempre vejo as mesmas pessoas, todos os dias, fazendo as mesmas coisas. Arrumar a casa é uma aventura, mas para receber sempre as mesmas pessoas é chato. Eles só bebem e ficam gritando que querem mais bebidas.
Emburrou a face, cruzando os braços, fazendo um biquinho. Orion deu uma risada.
- É o que eles gostam. Se você tiver algo que goste de fazer, nunca vai achar que é sem graça.
- Gosto de aprender – sua luz voltou tão rapidamente que nem deu tempo de Orion contemplar sua seriedade. - Meu tio diz que os Anões, Elfos e até mesmo os Gnomos falam línguas inteiras diferentes.
- Ele não está errado. Varfar, lomus ne mar, Prisma.
Os olhos da jovem brilharam.
- O que significa?
- Vamos, pergunte que língua é, Prisma.
Os dois deram risadas.
- Essa é a língua Élfica, mas tem um pouco de sotaque comum. Tem essa: Ziser pop aw e me. Significa: Acalme a mente. É bem antiga, dos Subterrâneos.
- O senhor fala tão bem, mas sabe elas completa, ou apenas algumas frases?
- Sei completa, aprendi quando era menor. Existe uma profissão de linguística, se algum dia você aprender 3 línguas diferentes, pode se tornar uma diplomata – e passou a mão no fundo do prato, pegando a gordura do bacon e comendo. - É bem interessante.
- Deve ser incrível – mas seu sorriso murchou, feito as flores no inverno. - Mas, não tenho como aprender, não aqui. Nosso vilarejo não tem escolas, nem mesmo uma única pessoa para ensinar.
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Passos Arcanos: Caminho da Honra
FantasyCaveleiro e Escolástico desde sua infância, Orion Baker é membro de uma família desonrada de Magos. Sua história é regida por leis naturais, querendo desvendar o mundo a sua maneira, não limitado pelas leis. A Igreja e a Ordem conjuram suas forças...