Capítulo 150 - Pai, Mestre e Deus

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A estátua era muito mais do que um pedaço de pedra erguido, não mostrava apenas a face, o tamanho, a postura de um homem que se foi. Olhava com respeito, como se fosse alguém vivo, e seu ângulo perfeito parecia levar os olhos da estátua a encarar o Mago.

Ainda debaixo, Orion reverenciava, sentado, a imagem do Elfo. Nunca ouvira sobre os Elfos Negros, a não ser Azrael Fance. A história que contavam sobre os Elfos eram que eram divididos, os Xamas e os Elfos Brancos, tratavam Hemilyn de sua própria maneira.

Os Xamas eram considerados donos das Terras Queimadas, utilizando seus próprios métodos de pesquisas, como Limpeza de Terra e Liquefação dos Gases, para tentar renutrir o solo. Se olhasse ao redor, daria para entender que não fazia efeito.

Os Elfos Brancos deixaram de lado as Terras Queimadas, usufruindo ao máximo do que restavam diretamente dos Campos Dourados. Orion observava com certa relutância, se o próprio Shi-vius, um grande Elfo Negro, como dizia Louise Frent, a mulher que guardava a estátua.

Essa divisão criada pelos Elfos deu a Orion percepções de limitações. Eles estavam fora de sintonia, enquanto um abusava do que restava, o outro tentava achar a solução para reaver suas terras.

Se ambos os lados buscassem uma forma de ajudar o outro, Hemilyn poderia se erguer. Orion não conseguia enxergar a finalidade de tanto conflito, e quanto mais pensava, mais dor de cabeça atraía.

Com os dedos forçando a testa enrugada, soltou um gruído baixo, pensativo. Louise deu a rir, não muito distante, ainda de costas, recolhendo uma das plantas que boiavam no pequeno trecho quadricular que cercava a plataforma.

– Costuma pensar muito nos problemas dos outros? - perguntou, já com a pequena flor em mãos. Tirou Orion de seu transe, erguendo sua cabeça. – Ficará duas vezes mais velho se continuar pensando de maneira tão destrutiva.

– Desculpa. Não queria incomodar. Eu estava pensando sobre tudo isso. Queria ajudar de alguma forma, mas não consigo me ver além da inteligência dos Elfos. - Orion se levantou e andou para perto da mulher esverdeada, ela brilhava como uma joia, com os reflexos das luzes no teto. – Senhora Ming não me disse que tinha uma irmã.

– Ela não contaria – riu. – Ninguém sabe, na verdade. Eu contei porque você tem de conhecer o máximo de pessoas possíveis. Sou a irmã mais velha, por incrível que pareça.

As sobrancelhas de Orion se ergueram junto de seu silêncio.

– O que foi? - Louise sorriu para ele. – Eu pareço tão velha assim?

– Não, não, senhora. Eu só estava impressionado. A senhora não parece... como a Rainha Xama.

– Aqui. Segure para mim. Não tape a luz, ela precisa disso para sobreviver. – Louise e Orion subiram as escadas que davam até a estátua de Shi-vius, e se ajoelharam diante dela. – Coloque aqui, e feche seus olhos. Deixe os antigos deuses falarem com você.

– Deuses?

Louise não respondeu. Seus olhos se fecharam e sua respiração recaiu, mesmo assim, no silêncio atual era como um trovão, sendo tão alto quanto. Orion esperou por mais algum tempo, mas ela não espreitou nem mesmo o confrontou, continuou em silêncio.

Decidiu acompanhá-la. A flor depositada agarrou suas raízes nos pés da estátua e se enroscaram. Orion fechou os olhos e respirou fundo. Meses se passaram desde que respirara com calma ou sem um propósito, as batalhas e sua mente confrontavam cada vez mais, erguendo camadas de problemas atrás de problemas.

E o que ele deveria fazer? Nunca conversou com um deus, falar com entidades era coisa do Clero. Como poderia ir contra o que seu pai e toda a vida o ensinou?

Passos Arcanos: Caminho da HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora