A única estrela no meu céu [CONCLUÍDA]

Capítulo 2

⚠️ Contém temas sensíveis que podem servir como trigger para algumas pessoas.
Só mais um dia. Só mais um dia. Só mais um dia. Fiquei repetindo enquanto a água gelada escorria pelo meu corpo. Tentei criar algum entusiasmo, apesar da angústia e do mau pressentimento que estavam presos ao meu peito. Vesti meu moletom largo e deixei meu cabelo de qualquer jeito, evitando o espelho ao máximo. Na verdade, no meu quarto já não havia um sequer. Quebrei todos.

Nem sei mais ao certo como é minha aparência mais. Só sei que emagreci, porque as roupas estavam cada vez mais largas, mas é assim que eu gosto. Só quero vestir meus panos gigantes e que no fundo sei que são feios, mas só assim me sinto confortável. Como se as roupas fossem uma proteção, afastando todos que possam me machucar. Além de que não quero que vejam meu corpo.

Logo na entrada da escola, deparei-me com o grupo dos populares. A maioria deles também está no último ano do colegial e já estudava comigo quando tudo começou. São os que mais conhecem minha história. Ou acham que conhecem. Por que nunca me viram como realmente sou. Só me reconhecem como a "Alicia vadia" que a escola toda fala.

Há quase dois anos atrás, em Agosto do ano retrasado, estava neste mesmo lugar. Chegando pela primeira vez naquela escola, com aquelas expectativas de todo aluno novo. Essas pessoas que antes eu queria que me notassem, hoje quero mais do que tudo que me ignorem. Enquanto me aproximava, as risadas e cochichos começaram.

— É o último dia de aula, amanhã já é o baile. Eles não podem fazer nada. A gente tem que aproveitar e fazer hoje. - a garota do cabelo perfeito reclamou já irritada.

— Melhor a gente deixar para amanhã. - um dos garotos cochichou, quando eu cheguei mais perto deles do que antes.

— Ei, bonitinha! - o moreno falou olhado na minha direção. Olhei para trás, para ver com quem ele estava falando, mas não tinha ninguém. Devia ser só mais uma piada sem graça como sempre. - Você vai no baile amanhã? - perguntou enquanto as meninas visivelmente tentavam segurar a risada. Por que isso tem que ser tão engraçado pra eles?

— Não. - respondi antes de entrar no portão da escola, deixando o grupo para trás, mas continuei prestando atenção no que eles falavam.

— Até que ela não é tão burra.

— Falei que ela não viria! Para hoje só tinha o aquecimento.

— Vamos ter que fazer tudo hoje mesmo.

— Quanto mais melhor. Ela nem imagina o que está por vir!

Ao ouvir essa frase meu corpo travou. Senti cada pêlo se arrepiar e um frio passar pela minha espinha. Eu queria acreditar que era só uma coincidência e que eles não estavam falando de mim, mas não tinha outra alternativa. No fundo sabia que eles tentariam fazer alguma coisa. Quis acreditar que era só um mau pressentimento, mas eles não perderiam essa oportunidade. Ainda mais hoje, que é meu último dia aqui. Além de que amanhã completa um ano que tudo começou, não deixariam esse dia passar em branco sem me lembrar do por quê de tudo. Achei que o dia de hoje seria o melhor de todos, o dia que me livraria de tudo isso. Parece que será mesmo um dia memorável, mas não por um bom motivo.

Logo em direção ao meu armário, vi que ele não estava igual. Além de estar todo pichado com xingamentos de todos os tipos, ele estava destrancado. Ao abrir, dezenas de fotos despencaram de dentro dele. Fiquei por alguns segundos, que pareceram uma eternidade, olhando aquelas fotos de uma época que eu queria esquecer, mas eles insistiam em me lembrar dela todos os dias. Ver aquilo foi como se eu estivesse vivendo tudo de novo. Como se deixasse de ser uma memória distante pra se tornar uma realidade atual.