Capítulo 3

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⚠️ Contém temas sensíveis que podem servir como trigger para algumas pessoas.                                
                    Fui para a sala de achados e perdidos. Depois de vasculhar nas caixas papelão e descobrir que as pessoas perdem coisas muito bizarras, peguei umas roupas masculinas, já que eram as maiores que achei. Respirei fundo e fui para o auditório, ignorando meu coração ainda acelerado e angustiado.

                     Entrei pela porta lateral, ficando ao lado de alguns professores, que estavam de pé assistindo a cerimônia e falando mal dos alunos. Nos minutos que fiquei ali escutei coisas que nem imaginaria, já que não tinha nenhum amigo para me contar as fofocas. Até porque normalmente era eu quem fazia parte delas. Era até estranho ver alguém falando mal de alguém que não fosse eu.

                     A coordenadora ainda estava no palco chamando os alunos. Ela examinava a plateia como se procurasse alguém, provavelmente eu. O olhar dela cruzou com o meu, sorrindo em seguida e confirmando o que eu pensava.

— E a última, mas não menos importante... - meu coração começou a acelerar e minhas pernas ficaram bambas. Era agora. - Alicia Evans!

                      Fiquei alguns segundos paralisada. Sabia que teria que fazer isso, mas não imaginava que sentiria tanto desespero. Estava com uma sensação ruim. Um medo. Uma ansiedade.

— Sua vez, querida. - encorajou uma das professoras me tirando de meus pensamentos.

                       Subi no palco e lá de cima podia ver os rostos de todos os alunos. Todos que já me feriram. Tudo parecia estar em câmera lenta. Minha cabeça conturbada por vários pensamentos, memórias e sentimentos. A coordenadora se aproximou, dando-me um abraço e entregando meu diploma. Depois eu assinei os papéis, colocando um ponto final nesse capítulo da minha vida. Finalmente sentia uma esperança.

— É assim que você gosta, né?! - meu corpo inteiro se enrijeceu. Reconheceria essa voz em qualquer lugar, mas achei que nunca a ouviria de novo.

                       Puxei o ar desesperadamente para dentro dos meus pulmões. Nem tinha percebido que tinha prendido a respiração. Olhei para trás e não pude acreditar no que estava vendo. O vídeo que queria ter queimado. Não só o vídeo, mas toda aquela memória. Apagar tanto da minha cabeça quanto da cabeça de todos que viram.

                       Voltei meus olhos para plateia, todos eufóricos e rindo. Senti meu corpo ficando pesado e meu coração batendo cada vez mais rápido. O ar parecia inexistente e meus pulmões se pressionavam contra minha caixa torácica, que parecia capaz de explodir a qualquer momento. Minha visão estava turva e lenta, enquanto as vozes e risadas estavam abafadas e distantes.

— Alicia? - uma voz me chamava, ecoando na minha cabeça. Estava tão fora de mim que nem consegui responder. - Desliguem isso! - a voz gritava e agora pude reconhecer que era a coordenadora, mas ainda não conseguia me mover. - Agora! Querida, você está bem?

— Me tira daqui, por favor! - supliquei enquanto tampava meus ouvidos. As lágrimas tomaram conta do meu rosto como uma barragem que foi rompida e impossível de se controlar. Meu corpo inteiro tremia, junto aos meus batimentos acelerados.

— Vem, por aqui! - ela me guiou até uma porta no fundo do palco, enquanto me apoiava pelo braço, já que minhas pernas não me obedeciam mais.

                       A saída dava direto no corredor e mesmo já estando fora do auditório, podia ouvir toda a bagunça que continuava. Tudo rodava como um filme na minha cabeça e não aguentava ficar nem mais um segundo naquele lugar. Aquele foi o meu limite. Tirei energia sei lá de onde e comecei a correr até a porta de entrada da escola.

A única estrela no meu céu [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora