Capítulo 35

446 63 1
                                    

                      Tudo começava a fazer sentido. Cada letra de música, cada mudança de personalidade, cada briga. Ele ficou cada fez mais agressivo e impaciente. Saber disso me deixou com mais raiva ainda. Como a mídia podia fazer isso com ele? Criar essa imagem horrível dele, quando na verdade ele precisava de ajuda, não de julgamento. Também não pude evitar de pensar: se ele escondeu tanto sobre isso, por que ele me contou? Eu sou praticamente uma estranha para ele, mas ele confiou em mim para confidenciar algo tão importante.

— Por que você me contou isso? - tive que perguntar, fazendo ele ficar um tempo pensando antes de responder.

— Não sei. Na verdade, até hoje a única pessoa que sabia disso era o Adam. Não tive coragem de contar para ninguém. Acho que tinha medo de que me julgassem. A minha consciência pesada já era demais para mim.

— Eu nunca te julgaria. - assegurei.

— É. Acho que de alguma forma eu sabia. - deu um meio sorriso, mas logo começou. - Mesmo você sendo muito chata. - completou rindo.

— Por que você sempre fala isso? Eu nunca te fiz nada.

— Vou ter que te listar o que você já fez para mim?

— Tirando ter te chutado, eu não fiz mais nada.

— Que tal começarmos com você batendo suas asas de fada molhando o meu banheiro inteiro?

                        O que?

— Ou melhor, quando você me puxou para dentro da banheira quando eu ainda estava de roupa.

— Do que você está falando?

— De como o álcool revela o que tem dentro de cada pessoa. Olha, nunca gostei de ficar perto de bêbados quando estou sóbrio, mas você... Ganhou o prêmio de maior revelação.

— Aí meu Deus! - ele continuava rindo, mas eu só queria cavar um buraco no chão para enfiar minha cara. Não sabia que era possível sentir vergonha de algo que nem sabia que tinha feito. - Eu fiz mais alguma coisa? Se bem que não, não quero saber. Só sei que nunca mais vou beber na vida.

— Poxa! Mas aí eu não vou mais ter do que rir. - revirei os olhos e comecei a olhar pelo quarto procurando o meu vestido. Peraí...

— Você que me trocou de roupa? - bateu um desespero de imaginar que ele possa ter me visto sem roupa. Ainda mais porque agora eu não estava usando nem a minha roupa íntima, então em algum momento tive que ficar sem.

— Tecnicamente não.

— Tecnicamente? - repeti, sentindo-me nada aliviada com a resposta.

— Bom, acho que você não vai querer saber os detalhes. Mas o importante é que enquanto você vestia isso. - ele apontou para roupa que eu estava usando. - Eu estava de costas, então não vi nada. Demais. - completou e eu não sabia o que isso queria dizer, mas se pelo menos ele não me trocou já podia ficar tranquila. Eu acho.

— Onde estão as minhas coisas?

— Lá no banheiro. - assenti indo para lá.

                        Meu vestido e minha bolsa estavam na quina da banheira, mas minha calcinha e sutiã estavam pendurados e úmidos. Isso não fazia sentido. Por que meu vestido também não estava molhado? Se ele disse algo sobre banheira e ter puxado ele com roupa. A não ser que... Não! Não podia ser. Ele não teria tirado meu vestido. Pelo menos eu espero que não. Podia sentir minhas bochechas queimarem só de imaginar isso. Não podia ter ficado tão exposta assim.

                        Droga! Eu não conseguia me lembrar de forma alguma. Sério, eu nunca mais vou beber! E o pior é que eu não tinha coragem nem de perguntar mais detalhes para ele. Iria explodir de vergonha só de falar sobre isso. Preferia ficar na dúvida do que ter certeza do que aconteceu. Pelo menos teria uma chance de ter acontecido outra coisa. Depois de me trocar, voltei para o quarto e Kyle estava deitado na cama mexendo o celular.

A única estrela no meu céu [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora