Capítulo 15

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— Nada demais, só um corte que não cicatriza logo. - esclareci levantando de pressa.

— Deixa eu ver melhor. Acho que está inflamando. - contestou sério.

— Não precisa, está tudo bem.

— Alicia, olha isso! Não está nada bem. - ele apontou para minha blusa que estava cada vez mais vermelha.

                        Só queria deixar isso de lado, mas ele era estudante de medicina e devia saber do que estava falando. De qualquer forma, esse corte era realmente pior do que todos que tive na vida.

— Vem, tenho um kit de primeiros socorros no meu quarto. - ele começou a andar pelo corredor e eu o segui. - Pode sentar. - ele apontou para cama.

                       Desconfortável era pouco para definir como eu me sentia por estar no quarto dele, mas pelo menos a porta estava aberta. Calma, Alicia! Ele só quer te ajudar. Levantei a blusa só o suficiente para ele ver o corte e pela careta dele não estava nada bem.

— Há quanto tempo você fez isso?

— Acho que uma semana. - respondi fazendo ele me olhar completamente espantado. - Eu estou tomando cuidado. Todo hora higienizo e ponho o curativo, mas ele não cicatriza logo.

— Você precisava ter dado ponto, parece ter sido profundo. Você até que deu sorte, era para estar bem pior. - ele passou um algodão com iodo, fazendo-me retrair a barriga, mas não por dor e sim pelo toque. Depois passou uma pomada e colocou um novo curativo. - Bom, ainda não inflamou, mas estava começando. Continua higienizando e pode colocar curativo, mas é bom deixar a pele respirar um pouco. Passa essa pomada também, ela vai ajudar a cicatrizar mais rápido. - entregou-me um tubinho.

— Obrigada. - abaixei minha blusa no mesmo segundo.

— Como você se machucou assim?

                      Merda! O que ia falar agora? Ah, meu pai bêbado estava quase matando minha mãe drogada, então eu fui ajudar e ele tentou enfiar uma faca em mim?!

— Eu sou meio desastrada. - dei um meio sorriso, mas ele continuou sério. Pois é, além de desastrada sou uma péssima mentirosa. - É... A gente pode deixar isso entre a gente? Não queria que as meninas ficassem sabendo disso.

— Tem certeza que não aconteceu nada?

— Sim, eu só não quero que elas saibam... Você sabe... Para elas não se preocuparem a toa. Não foi nada.

— Tudo bem. - cedeu depois de um tempo pensando. - Mas você tem que começar a confiar na gente. Não faz bem ficar guardando tudo para você. Se você precisar de alguém para conversar, você tem meu celular.

                       Ele parecia ser um cara legal, ainda achava estranho estar nesse quarto sozinha com ele, mas ele fazia parecer tão natural. Ele me lembrava da Rachel, uma pessoa toda carinhosa e gentil.

— Você ainda não se formou, mas parece entender bem disso. - falei qualquer coisa só porque me toquei que fiquei muito tempo perdida nos meus pensamentos.

— Morar numa república cheio de moleques que estão sempre aprontando acaba me dando um pouco de prática - ele fez uma pausa e completou. - Mas não passo pomada na barriga deles. - riu, mas senti minhas bochechas queimarem.

— Estou atrapalhando alguma coisa? - Lauren perguntou um pouco ríspida.

— Oi, amor. - ele se levantou indo até a direção dela. - Estava ajudando a Alicia. - ela me olhou por um tempo, mas depois sorriu sem mostrar os dentes.

— Você viu a Angelina? - perguntei, já que precisava sair logo dali.

— Ela acabou de descer com o Daniel.

— Ah... Obrigada. E obrigada pela ajuda, Andrew. - falei e sai rapidamente do quarto, antes mesmo que eles respondessem. Se eu já achava que ela não gostava de mim, imagine agora.

                        Estava no começo da escada, mas já podia ouvir uma gritaria e ver uma movimentação no meio da sala. Cheguei mais perto, onde Angelina gritava enquanto o Daniel a segurava. Do outro lado estava a menina da boate, que descobri que se chamava Amber e estava sendo segurando pelo seu namorado, Tyler.

— Não acredito que um dia pude te chamar de melhor amiga. - Angie gritava. - Me solta, Daniel! Eu vou quebrar a cara dessa vagabunda. Vou deixar tão feia por fora quanto é por dentro. - ela se debatia, visivelmente bêbada.

— Pode vir. Você vai perder, assim como perdeu o Tyler para mim.

— Vadia! - lançou-se com tanta força que escapou dos braços do Daniel.

                        Ela acertou um soco na Amber e depois subiu encima dela. Amber puxava os cabelos de Angie, mas ela continuava dando soco após soco. Daniel não tentou impedi-la, então foi Tyler quem tentou puxa-la, mas só recebeu um soco como resposta.

— Não me toca! Você não! - sua voz sai arranhada da sua garganta. - Você... Você me deixou no momento que eu mais precisava de você.

                        Agora seus olhos não estavam mais cheios de raiva, mas de dor. Pela primeira vez vi Angelina chorar. Pela primeira vez seu rosto ensolarado tomado por lágrimas que não paravam de escorrer. Senti um aperto no coração, porque apesar de conhecê-la a pouco tempo ela se transformou no mais próximo de família que eu já tive. A Amber começou a se levantar do chão, então achei melhor intervir antes que aquilo piorasse.

— Vem, Angie! Vamos para casa. - envolvi meus braços ao seu redor. Ela relutou no começo, mas depois aceitou e saímos do meio daquela multidão.

— Não acredito que pude ter sido tão idiota. Como achei que aquela vagabunda era minha amiga?! Ela morava com a gente, exatamente no mesmo quarto que você dorme hoje. - falava entre lágrimas, mas parecia mais um pensamento alto do que uma conversa. - Ela era como uma irmã para mim! Caralho, como eu queria voltar no tempo para poder socar minha própria cara. Eu praticamente dei ele de bandeja para ela. Eu que me afastei dele. Ai, como eu sou uma idiota!

— Não fala isso!

— Enquanto estava trancada no quarto chorando, ele devia estar lá transando com ela no quarto ao lado. Ai, que raiva! E tudo por culpa minha. Por culpa dessa merda de vida. Essa merda de destino. Porque não posso fazer o meu?!

— Você pode, Angie! Você sempre me disse que só a gente tem o controle sobre o que acontece na nossa vida.

— Não sobre tudo.

— A gente pode mudar o destino. - tentei incentiva-la, apesar de não acreditar muito nessas palavras.

— Você pode, eu não.

— Como assim? - ela não me respondeu, então continuei. - Não é você que fala que não podemos deixar os problemas nos cegarem para as coisas boas?

— Você não entende. - ela já estava soluçando. - É muito mais do que uma traição de um namorado.

                         Esperei ela continuar mas ela não disse mais nada. Queria perguntar mais, tentar entender sobre o que ela falava, mas ela estava arrasada. Já tínhamos chegado em casa, então a ajudei a subir para o quarto dela.

— Dorme comigo hoje? Não quero ficar sozinha. - assenti e me deitei na cama com ela.

                         Para mim a Angelina sempre foi um exemplo de menina feliz e forte, então vê-la frágil desse jeito era como arrancar um pedaço do meu coração.

A única estrela no meu céu [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora