Capítulo 1

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Boa leitura!

Saori

O dia está lindo hoje, com um sol abundante lá fora. O verão é a estação mais aguardada do ano pelos russos e, céus, eu tenho que concordar: sentir o calor do sol depois de meses de um frio intenso e gelo por toda parte é maravilhoso. Me afasto da grande janela de vidro e me concentro em me preparar mentalmente para começar o dia.

Me formei em Jornalismo aos vinte e dois anos, na cidade onde cresci, Moscou. Durante a faculdade, trabalhei meio período como modelo para uma revista, para ganhar meu próprio dinheiro e conquistar, aos poucos, minha independência. Atualmente, trabalho para um telejornal conhecido na cidade e moro oficialmente sozinha, graças aos meus esforços e, principalmente, aos meus pais, que sempre me apoiaram em tudo. Quando eu digo "tudo", é tudo mesmo – no curso de inglês, no balé, na natação, nas aulas de russo, entre outros. Eu era a louca dos cursos, talvez porque queria descobrir no que realmente era boa. Por fim, optei pelo jornalismo, que hoje é a minha paixão, e em todas essas tentativas, meus pais sempre me apoiaram e incentivaram.

Na época, meu pai recebeu uma ótima oferta de trabalho em Moscou e, sem pensar duas vezes, aceitou. De uma hora para outra, nos mudamos; eu tinha cinco anos quando isso aconteceu. Tive que aprender outro idioma, outros costumes e socializar com pessoas bem diferentes do que eu estava acostumada. No começo foi difícil, mas me adaptei bem, e hoje sou grata por isso. Amo este país e tudo o que conquistei aqui, e por enquanto, não penso em voltar ou viver no Japão. Alguma coisa me diz que ainda tenho assuntos pendentes por aqui.

Meus pais tiveram que voltar para minha cidade natal há um ano, para cuidar dos meus avós, que já são idosos e um pouco debilitados para continuarem morando sozinhos.

Não deixo passar um dia sem ligar ou mandar uma mensagem para saber como estão. Normalmente, conto sobre meu dia de trabalho ou sobre os vários "nadas" que faço quando estou em casa. Conversar com eles me dá a sensação de proximidade, de cuidar e ser cuidada, e isso não tem preço.

Suspiro, tentando focar no que estou fazendo. Cruzo os braços enquanto estou com a toalha enrolada na cabeça e, em frente ao meu armário, procuro uma roupa apresentável para o trabalho. Afinal, hoje é um dia importante. Meu chefe me ligou mais cedo informando sobre um novo caso e, digamos assim, é algo grande, eu sinto. Meu coração dá um salto com tamanha ansiedade.

Eu gosto de ação, de colocar as mãos à obra, como dizem. Prefiro trabalhar nas ruas, indo atrás dos fatos, e não esperar que eles venham até mim; assim, perderia toda a graça da profissão. Sendo assim, meu chefe me passa os casos mais complexos. Isso me excita de uma maneira inexplicável.

Escolho um conjunto formal e ao mesmo tempo despojado: uma calça creme com um blazer na mesma cor, uma blusa branca um pouco justa e um salto plataforma curto e confortável, nada muito chamativo.

Pego minha bolsa, confiro se está tudo em ordem e dou mais uma olhada no espelho, checando minha maquiagem e meu cabelo, que agora estão úmidos e soltos pelos ombros.

Vamos ver o que o dia de hoje reserva para mim.

— 大丈夫だよお嬢さん! (Vai dar tudo certo, garota!) — digo, olhando meu reflexo.

Opto por pegar um táxi; não quero que nada estrague meu dia, principalmente o trânsito estressante dessa cidade.

Ao chegar ao trabalho, vou direto para minha sala, cumprimentando algumas pessoas no caminho. Enquanto meu chefe, senhor Dimitri, não me chama para a próxima reunião, aproveito para organizar minha agenda e algumas pastas.

Minutos depois, vejo a ruiva abrir rapidamente a porta de vidro e se apoiar na mesma, me fitando com um olhar um tanto cansado.

— Com licença, Sah, Dimitri está te esperando na sala de reuniões. — "Sah" é o meu apelido aqui na corporação. Lara, minha secretária e amiga, não para de me chamar assim, então o apelido acabou pegando.

— Já estou indo. Obrigada — digo, guardando alguns documentos na gaveta da mesa. — Você está bem? Sua cara não é das melhores hoje.

— Eu dei uma olhada nesse novo caso que o Dimitri vai te dar... e não sei se é uma boa você se envolver nisso — diz, preocupada.

— Eu vou ver do que se trata, está bem? Se eu me interessar pelo caso, talvez eu o pegue. Não se preocupe, sei me cuidar, Lara — digo, dando um beijo em seu rosto e tentando transmitir a serenidade que eu não tinha. — Bom trabalho. Eu te ligo mais tarde para irmos almoçar, está bem?

— Perfeito, boa sorte. Nosso papo sobre isso ainda não acabou. — Reviro os olhos, e ela dá um sorriso, saindo da sala.

Pego minhas coisas e vou ao encontro do meu chefe. Próximo à sala de reuniões, avisto Dimitri sentado, revisando alguns documentos. Dou umas batidas na porta, avisando sobre minha presença.

— Bom dia, como vai, Saori? — ele pergunta, simpático.

— Bom dia, senhor Gusev, vou bem, obrigada — digo, me sentando. — O que tem para mim hoje?

— Não vou demorar. Vou ser direto com você. — Ele pega uma pasta que estava separada em sua mesa e coloca no meu campo de visão. — É sobre o policial Yure Vasiliev, um típico policial corrupto. Porém, não para por aí. Algumas pessoas do seu meio acham que ele está envolvido com tráfico humano. Eu não duvido; ele é influente, tem contatos e, há alguns anos, foi exposto em um escândalo na mídia que o ligava à máfia. Pesquisei mais sobre esse caso antigo, e a jornalista responsável por publicar a matéria e o detetive do caso desapareceram de uma hora para outra. Depois que o caso foi abafado, ninguém mais voltou a falar sobre isso.

Enquanto Dimitri fala, leio os relatórios sobre o policial. Atualmente, ele está aposentado, o que é estranho, já que, por lei, ele teria mais cinco anos de contribuição pela frente.

— Eles desapareceram do nada? — pergunto, assustada.

— Sim, não acharam corpos, rastros, nada.

— Esse caso já está morto há anos. Por que mexer nisso agora? Sou jornalista, não detetive, Dimitri.

— Se nossas investigações estiverem corretas e conseguirmos provas dos podres desse policial, seremos o primeiro jornal a revelar tudo ao país. O caso foi arquivado, e o público ficou com um ponto de interrogação sobre essa história. Se voltarmos com essa matéria completa, nosso ibope vai às alturas, Saori. E Deus sabe o quanto precisamos disso; o jornal não é o mesmo de antes, estamos em baixa. Você é a melhor em descobrir as coisas por aqui; preciso do seu talento nisso.

— Desculpe se vou soar um pouco rude agora, senhor Gusev, mas isso pode nos meter em apuros, e o senhor sabe muito bem disso.

— Nossos advogados estão prontos para qualquer eventualidade; não se preocupe, nada respingará em você.

Droga — resmungo em pensamento.

Respiro fundo e volto meus olhos para Dimitri.

Meu peito se aperta, e sou obrigada a engolir em seco. Meu pressentimento sobre isso não é dos melhores, mas, ao mesmo tempo, o sentimento de dever me toma. Preciso pensar muito sobre isso. Dimitri parece ansioso e até um pouco desesperado pela minha resposta.

Se eu disser "não", ele pode encontrar outra pessoa e me passar para trás em outros casos importantes como este. Em contrapartida, se eu disser "sim" e conseguir algo que ajude o jornal a alavancar o ibope, minha carreira pode alcançar outro patamar.

Volto a olhar para a foto do policial Yure Vasiliev, encho meus pulmões e finalmente consigo dizer:

— Tudo bem, eu fico com o caso — digo, confiante.
❣️❣️

Conheçam um pouco mais de Saori.

Espero que gostem!

Até mais 💛

Russel Rurik - Chefes da máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora