Vítor Hugo parte 3
Sentado à mesa da praça de alimentação do shopping, girei o canudo do copo de suco e sorvi um gole enquanto tentava processar tudo o que havia acontecido há pouco.
Cara, eu havia mesmo mandado o Beto Corrêa à merda?
Não sei de onde tirei coragem pra dar aquele murro nele. Talvez eu tivesse sido imprudente, e de repente, pensar com calma tivesse sido melhor antes de um ato tão extremo. Mas estava feito.
O relógio do meu celular marcava 13h30. Faltava meia hora para começarmos as marcações de palco.
Um delicioso perfume de flores entrou nas minhas narinas, e eu reconheceria essa fragrância em qualquer lugar. Era da única pessoa capaz de me fazer sorrir.
Ela passou ao meu lado e se sentou na mesma mesa que eu, com uma bandeja com um prato de arroz e filé de peixe, e um copo de suco de laranja. Obviamente, sem açúcar.
— Oi — ela sorriu.
— Oi — meus lábios delinearam um meio sorriso.
— Tá tudo bem?
Segurei uma das mãos dela, dando de ombros.
— Não sei — respondi.
Danielle mexeu a cabeça sutilmente, me olhando tão diretamente nos olhos como se procurasse algum segredo inconfesso dentro de mim.
— Mas por telefone você disse que estava bem — ela lembrou.
— Eu disse — admiti.
A garota levou o garfo com um pedaço de peixe à boca, me fixando com seus olhos azuis e doces.
— Eu fui ao hotel onde o Beto está — deixei de lado os subterfúgios.
Danny semiabriu os lábios, seu rosto ganhando uma tonalidade pálida.
— Terminei tudo com ele — me apressei em dizer antes que ela pensasse que fui dar pra ele.
O relaxamento súbito no semblante da garota me tranquilizou. Ela me deu o mais adorável dos sorrisos, me fazendo sentir bem.
— Tô orgulhosa de você, Vítor. Sério. Você precisava fazer isso — senti o calor da mão dela se espalhar pelo meu corpo ao ter minha mão segurada.
— Mas ainda não é o bastante — ela emendou.
— Não? — balbuciei.
— Parar de se encontrar com o Beto não muda o fato de que ele cometeu um crime. Você tem que denunciá-lo.
— Denunciar o Beto?
A loura suspirou, abrindo e fechando os olhos, mostrando nitidamente impaciência e incredulidade, e também companheirismo.— É o que falta ser feito — respondeu.
Balancei a cabeça negando.
— Você acha que é tão fácil assim, Danny? — minha voz saiu irritada.
— Não sei porque parece tão difícil pra você. Um cara cometeu abuso sexual contra você, Vítor Hugo. Ele tem que pagar.
— Eu não posso.
— Por quê? Por acaso você tem medo?
Não consegui responder à pergunta dela e abaixei a cabeça, vexado.
— Tudo bem — ela levou a mão ao cabelo louro, pondo uma mecha atrás da orelha. — Não é problema meu, não é? Eu não tenho o direito de te obrigar a fazer uma coisa que não quer.
Quando abri a boca pra falar, meu corpo gelou ao ver Beto Corrêa se aproximando da nossa mesa. Por que logo agora?
— Que bosta! — murmurei.
Ele nos olhou com um sorrisinho provocante. Usava óculos de sol e estabeleceu um contato visual com a Danny, que empalideceu por se sentir intimidada por um homem de semblante duro e porte agressivo. Mas a garota não desviou o olhar, desafiando-o visualmente.
— Vítor Hugo — o Beto começou, tirando o Rayban, encarando a Danny. — Agora entendo porque você está jogando sua carreira fora. Sua namorada é muito linda.
Arregalei os olhos, impactado. O filho da puta estava se insinuando para a Danny na minha frente? Ele era mais doente do que eu imaginava.
— O que você quer? — perguntei com toda petulância, sem medir as consequências das minhas palavras.

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Danielle
RomancePara Danielle, nada é mais importante do que o balé. Seu sonho é dançar nos maiores palcos do mundo e superar sua mãe, a lendária Françoise Shushunova, o Cisne Branco, um mito da dança clássica. Durante uma competição de dança em Ribeirão Preto...