Capítulo 40

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          Danielle

      Meu pai foi aplaudido pelos cursistas e posou com eles para fotos de recordação. Meu coração balançou de verdade por saber que eu fui um dos motivos dele não ter desistido de seu sonho e do quanto mamãe e eu éramos importantes em sua vida.

      Me aproximei do Daniel quando vi que todo mundo havia garantido uma lembrança com ele, ficando frente à frente com o homem que me deu tudo de eu preciso para ser uma mulher de valor, e dei a ele o sorriso mais carinhoso que eu podia dar. Ganhei um meio sorriso e um abraço.

      — Obrigada, pai — fiquei feliz de verdade.

      Ele assentiu e saímos da sala ao lado um do outro. Éramos os únicos remanescentes. Os outros alunos haviam saído pra comer.

      — Não há de quê. Foi um prazer dar aula pra vocês — ele me puxou mais pra si.

      — Acho que nunca te vi falar tanto assim. Você disse coisas muito bonitas. E fortes. Tenho certeza que mexeu com todo mundo.

      — Se minhas palavras tocaram o coração de apenas um de vocês, então valeu a pena.

      Torci para que esse apenas um de vocês fôsse um certo garoto caipira, e que o mesmo tomasse uma atitude que o fizesse se orgulhar de si mesmo.

      O rosto dele estava tão cheio de aflição durante a conversa que meu pai teve conosco. Eu queria ir pra perto dele e olhá-lo bem dentro dos olhos, dar uma chacoalhada em seus ombros e dizer você ouviu o que meu pai disse e sabe o que tem que fazer, então tome logo uma decisão.

      Suspirei.

      As coisas não são assim. Eu podia dar carinho a ele, ser amiga dele, companheira. Mas eu não tinha o direito de me meter na vida de ninguém. Nem da minha eu sabia cuidar.

      Só me restava ter fé.

      Papai e eu nos sentamos em uma mesa próxima ao balcão e pedi um sanduíche de atum com um copo grande de suco detox de cenoura. O aconchego do ambiente e a simplicidade de tudo tiraram de mim um sorriso, tudo muito bem feito.

      Nicole, Duda, Alice e a bailarina loura de mecha rosa estavam sentadas à nossa esquerda, conversando barulhentamente. Todas nós, meninas, ainda usávamos collants e sapatilhas, já que depois da refeição teríamos aula de pontas com a professora Teodora.

      Imaginei o quão engraçado seria se todas nós entrássemos num restaurante chique da Haddock Lobo logo após uma aula. Seríamos sensação. Soltei um risinho baixo, percebido pelo meu pai.

      — O que está pensando, Danielle Raluca? — as sobrancelhas dele se juntaram formando um vinco.

      — Só viajei pensando numa coisa idiota.

      Pensei em mais coisas idiotas como um recurso pra fugir de preocupações. O curso de verão seguiria com as atividades programadas; as meninas fariam aula de pontas, os meninos iriam para outra sala, para uma aula de hip-hop. 

      Enchi minha garrafa no bebedouro para voltar para a aula, e dei de cara com a Duda. 

      — Vamos? — ela disse.

      — Cadê a Nicole?

      — Conversando no celular com um cara chamado Aliocha — a primeira bailarina olhou para o alto ao responder.

      — Jura? Puxa, então ele ligou mesmo pra turquinha?

      O olho azul e o castanho da Nicole brilhavam quando ela falava o nome do músico da missão ortodoxa de que participamos ontem de manhã.

      — Só eu que não fiquei com ninguém até agora — Duda fez um beicinho.

      — Não ficou porque não quis.

      — Eu queria um bailarino.

      — Meio difícil aqui. São todos gays.

      — Um é bissexual.

      Meus olhos se arregalaram enquanto o último gole d'água descia pela minha garganta.

      — Quem? — perguntei.

      Duda inclinou a cabeça para um lado, um sorriso travesso em seu rosto.

      — Quem? — insisti.

      — Bom. O Vítor Hugo gosta de meninos e meninas, né?

      Não sei dizer o que senti naquele instante, mas as palavras não ficaram presas na minha garganta.

      — Você tá gostando do Vítor Hugo, Duda?

      — Não viaja, Danny. De onde tirou essa ideia?

DanielleDonde viven las historias. Descúbrelo ahora