Vítor Hugo
Meu pai quase quebrou minhas costelas com seu abraço bruto e amoroso, dizendo que adorou assistir o vídeo da nossa apresentação. Minha mãe, mais discreta, contou que chorou ao me ver dançando com a Danny.
Aproveitei os dois dias de descanso que a Agatha nos deu pra fazer coisas que eu estava sentindo falta, como andar de bicicleta por Jundiaí, tomar sorvete com amigos de escola e passear no shopping.
A saudade da Danny batia forte. Eu pensava nela a todo momento, às vezes telefonavámos um para o outro até cinco vezes no dia, sem falar nas mensagens de whatsapp que trocavámos.
Ela falava que sentia minha falta e que logo viria me visitar, o que me deixou feliz e ansioso esperando por esse dia. Nas nossas conversas, entre outras coisas, ela contou que as aulas haviam recomeçado já na terça, que estava sendo um saco ter de olhar para a cara de ressentimento da Duda, que a Letícia iria criar um solo contemporâneo para ela dançar em Frankfurt.
E que tinha algo muito importante para me dizer, mas tinha que ser pessoalmente. Conhecendo o temperamento fechado da minha namorada, eu sabia que ela não contaria mesmo que eu insistisse.
Deixei todas as coisas arrumadas antes de disputar o festival de Lausanne e antes de embarcar com a Micaela, fui ao hospital visitar meu primo Júlio. Ele não estava tão mal como eu imaginava. Tinha perdido o cabelo, emagrecido um pouco, mas a risada fácil ainda brincava em seu rosto.
— Como você está? — batemos soco com soco.
— A comida daqui é insossa — ele fez graça. — Mas vou sobreviver.
Deixei meu corpo cair na cadeira ao lado da cabeceira do leito em que ele estava deitado.
— Minha mãe me contou em Ribeirão Preto que você estava internado. Eu não sabia. Por que não me contou?
— Achei que não era grave. Que era só hemorragia. Só fiquei sabendo uma semana antes de você ir para lá.
Mordi o lábio inferior, pensativo.
— Você vai sair dessa, primo — toquei-lhe o ombro.
— Deus te ouça — ele suspirou.
Tivemos uma conversa agradável e o pus a par dos acontecimentos em Ribeirão Preto. Contei do meu namoro com a Danielle, que eu não iria mais para Londres a fim de ficar aqui pra poder namorar com ela e que pretendia me mudar para São Paulo.
Ele não escondeu a surpresa pela reviravolta dos meus planos.
— O tio João e a tia Carmem sabem?
— Eu ainda não tive presença de espírito de contar. De qualquer forma, vou esperar o fim do Prix de Lausanne.
— Você é bem corajoso. Ou louco. Deixar escapar uma chance dessa...
Podia ser. Mas minha decisão já estava tomada.
— Tudo por causa dessa garota — ele ironizou. — Ela deve ser mesmo especial, pra virar a sua cabeça desse jeito.
— Ela é tudo pra mim — minha cara devia estar parecendo a de um bobo apaixonado.
Tirei amostras de sangue para a tipagem. O resultado só ficaria pronto na semana seguinte, e com sorte, eu era um doador compatível.
Desembarcamos em Lausanne sob um céu cinza. Que diferença de Ribeirão Preto. As pessoas andavam nas ruas com grossos casacos, botas e cachecóis. Agatha ficou hospedada no mesmo hotel que a Micaela e eu, e tivemos a honra de conhecer alguns dos melhores bailarinos do mundo. Antonella Carrascosa também iria competir, com uma variação clássica e um solo contemporâneo.
Tirei várias fotos e as enviei para a Danny. Ela adorou. Confessou que estava com um pouquinho de inveja por eu estar numa cidade tão linda, charmosa e rodeado de bailarinas lindas.
— Amor, eu posso ter olhos pra todas elas, mas meu coração é só teu — tentei parecer romântico.
— Seu bobo — ela riu.
O que mais tinha naquela cidade suíça era bailarinas lindas. Americanas, coreanas, russas, finlandesas, sul africanas. Mulheres de olhos azuis, verdes, escuros. Altas e baixas. Encantadoras. Mas nenhuma delas se igualava à Danny.
Micaela e eu voltamos com a sensação de dever cumprido. Não conquistamos medalhas, mas representamos bem nosso país, e outras oportunidades surgiriam de novo. De qualquer forma, estávamos felizes só por termos participado de um dos mais importantes festivais de dança do mundo.
— Estou orgulhosa de vocês — Agatha nos abraçou com um grande sorriso de gratidão no rosto assim que desembarcamos no Aeroporto Internacional de São Paulo.
DU LIEST GERADE
Danielle
RomantikPara Danielle, nada é mais importante do que o balé. Seu sonho é dançar nos maiores palcos do mundo e superar sua mãe, a lendária Françoise Shushunova, o Cisne Branco, um mito da dança clássica. Durante uma competição de dança em Ribeirão Preto...