Capítulo 67

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          Vítor Hugo

      Meu pai quase quebrou minhas costelas com seu abraço bruto e amoroso, dizendo que adorou assistir o vídeo da nossa apresentação. Minha mãe, mais discreta, contou que chorou ao me ver dançando com a Danny.

      Aproveitei os dois dias de descanso que a Agatha nos deu pra fazer coisas que eu estava sentindo falta, como andar de bicicleta por Jundiaí, tomar sorvete com amigos de escola e passear no shopping.

      A saudade da Danny batia forte. Eu pensava nela a todo momento, às vezes telefonavámos um para o outro até cinco vezes no dia, sem falar nas mensagens de whatsapp que trocavámos.

      Ela falava que sentia minha falta e que logo viria me visitar, o que me deixou feliz e ansioso esperando por esse dia. Nas nossas conversas, entre outras coisas, ela contou que as aulas haviam recomeçado já na terça, que estava sendo um saco ter de olhar para a cara de ressentimento da Duda, que a Letícia iria criar um solo contemporâneo para ela dançar em Frankfurt.

      E que tinha algo muito importante para me dizer, mas tinha que ser pessoalmente. Conhecendo o temperamento fechado da minha namorada, eu sabia que ela não contaria mesmo que eu insistisse.

      Deixei todas as coisas arrumadas antes de disputar o festival de Lausanne e antes de embarcar com a Micaela, fui ao hospital visitar meu primo Júlio. Ele não estava tão mal como eu imaginava. Tinha perdido o cabelo, emagrecido um pouco, mas a risada fácil ainda brincava em seu rosto.

      — Como você está? — batemos soco com soco.

      — A comida daqui é insossa — ele fez graça. — Mas vou sobreviver.

      Deixei meu corpo cair na cadeira ao lado da cabeceira do leito em que ele estava deitado.

      — Minha mãe me contou em Ribeirão Preto que você estava internado. Eu não sabia. Por que não me contou?

      — Achei que não era grave. Que era só hemorragia. Só fiquei sabendo uma semana antes de você ir para lá.

      Mordi o lábio inferior, pensativo.

      — Você vai sair dessa, primo — toquei-lhe o ombro.

      — Deus te ouça — ele suspirou.

      Tivemos uma conversa agradável e o pus a par dos acontecimentos em Ribeirão Preto. Contei do meu namoro com a Danielle, que eu não iria mais para Londres a fim de ficar aqui pra poder namorar com ela e que pretendia me mudar para São Paulo.

      Ele não escondeu a surpresa pela reviravolta dos meus planos.

      — O tio João e a tia Carmem sabem?

      — Eu ainda não tive presença de espírito de contar. De qualquer forma, vou esperar o fim do Prix de Lausanne.

      — Você é bem corajoso. Ou louco. Deixar escapar uma chance dessa...

      Podia ser. Mas minha decisão já estava tomada.

      — Tudo por causa dessa garota — ele ironizou. — Ela deve ser mesmo especial, pra virar a sua cabeça desse jeito.

      — Ela é tudo pra mim — minha cara devia estar parecendo a de um bobo apaixonado.

      Tirei amostras de sangue para a tipagem. O resultado só ficaria pronto na semana seguinte, e com sorte, eu era um doador compatível.

      Desembarcamos em Lausanne sob um céu cinza. Que diferença de Ribeirão Preto. As pessoas andavam nas ruas com grossos casacos, botas e cachecóis. Agatha ficou hospedada no mesmo hotel que a Micaela e eu, e tivemos a honra de conhecer alguns dos melhores bailarinos do mundo. Antonella Carrascosa também iria competir, com uma variação clássica e um solo contemporâneo.

      Tirei várias fotos e as enviei para a Danny. Ela adorou. Confessou que estava com um pouquinho de inveja por eu estar numa cidade tão linda, charmosa e rodeado de bailarinas lindas.

      — Amor, eu posso ter olhos pra todas elas, mas meu coração é só teu — tentei parecer romântico.

      — Seu bobo — ela riu.

      O que mais tinha naquela cidade suíça era bailarinas lindas. Americanas, coreanas, russas, finlandesas, sul africanas. Mulheres de olhos azuis, verdes, escuros. Altas e baixas. Encantadoras. Mas nenhuma delas se igualava à Danny.

      Micaela e eu voltamos com a sensação de dever cumprido. Não conquistamos medalhas, mas representamos bem nosso país, e outras oportunidades surgiriam de novo. De qualquer forma, estávamos felizes só por termos participado de um dos mais importantes festivais de dança do mundo.

      — Estou orgulhosa de vocês — Agatha nos abraçou com um grande sorriso de gratidão no rosto assim que desembarcamos no Aeroporto Internacional de São Paulo.

DanielleWo Geschichten leben. Entdecke jetzt