Capítulo 68

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          Danielle

      Papai me deixou bem cedo no estúdio. Tirei o capacete e entrei sorrindo no vestiário depois de cumprimentar a Clara, sempre concentrada no monitor da tela do computador que fica na secretaria.

      Formei um bolo disforme nas mãos com a camiseta do Lacrimosa, calça jeans e calcinha, deixando tudo encostado na parede com minhas botas de motoqueira e meu capacete. Quando eu tivesse idade suficiente, teria uma moto tão bonita quanto a que minha mãe teve.

      Cobri minha nudez vestindo o collant preto, sem botar meia calça. O legal da Letícia era que ela entendia que fazia muito calor, por isso deixava a gente ficar mais à vontade.

      Calcei as sapatilhas de ponta, fiz um coque médio.

      Enquanto Letícia não chegava para a minha aula particular, andei até o espelho e achei patético minha cara de garota apaixonada. Por que a gente fica tão boba quando está amando alguém?

     Namorar um cara como o Vítor Hugo só me dava certeza de que teríamos muita emoção, muito amor e claro, muito sexo. Eu não parava de pensar nele. Mesmo nas aulas de balé, conseguia imaginá-lo me olhando com desejo e propondo que a gente saísse pra qualquer lugar onde não houvesse pessoas. Quando o Angel me levantava para cima me segurando pela cintura e pela coxa, com sua mão quase tocando meu sexo, era do calor da mão dele que eu me lembrava.

      Só estava um pouco chateada porque ele não respondeu minhas últimas mensagens de áudio no WhatsApp. As mensagens nem chegaram a cair, o que me fez pensar que ele estivesse sem crédito (coisa que sempre acontecia).

      Espero que crie vergonha na cara e faça uma recarga, pensei.

      Sorri, balançando a cabeça, tentando mandar pra longe esses pensamentos.

      Eu era uma moça objetiva, porra. Precisava manter minha cabeça no balé, pensar de preferência só em pliés, tendus, rond de jambes e sauttes.

      Olhei para trás, a Jordana entrou. Era uma garota linda, de olhos verdes e cabelo ruivo, já preso com coque e redinha. Ela sempre usava saia, por ser crente da Congregação Cristã no Brasil. Hoje ela optou por um vestidinho azul, que lhe descia até os joelhos.

      — Oi — ela acenou, me dando um sorriso lindo e vindo me cumprimentar com um beijo no rosto.

      — Oi, amiga — retribui.

      — Vai fazer aula particular?

      Acenei que sim.

      — Legal. Eu também vou, mas quem vai me dar aula é a Clara.

      — Eu assisti em Ribeirão Preto os vídeos da aula do curso de férias que ela deu. Você tá dançando muito.

      — Obrigada. Tenho que praticar muito. Um dia quero dançar na Companhia Paulistana, junto com as melhores.

      — Você consegue — segurei as mãos da minha colega.

      Jordana era uma das mais bailarinas mais técnicas da nossa escola. Foi uma pena ela não ter ido conosco para Ribeirão Preto, teria aprendido muito. Mas naquele ano, com certeza iria brilhar.

      Ela segurou a barra do vestido e o puxou pra cima, revelando seu corpo perfeito já vestido com um collant. 

      — Eu já tô indo. Você vem? — andei até a porta.

      Jordana se levantou e entrelaçou os dedos aos meus. Entramos fazendo barulho, rindo, na sala vazia com barras embutidas nas paredes. Minha colega ligou o ventilador e nos sentamos de frente uma para a outra com as pernas abertas para os lados em segunda posição. Nos abraçamos, puxando nossos corpos e fazendo com que nossas intimidades encostassem uma na outra.

      — Você tá com uma cara muito feliz — minha amiga observou. — Já sei. Tá pensando no gato do Vítor Hugo.

      — Como você sabe que ele é gato? — arqueei uma sobrancelha.

      — Eu vi na página da Promoarte, ué. Tá cheio de fotos e vídeos de vocês dançando.

      — É… ele é gato mesmo. Tô apaixonada por ele. Vou prestar audição em Londres pra gente poder ficar juntos.

      — Por isso você está fazendo essas aulas particulares?

      — Sim. As audições para escolas inglesas são muito disputadas, por isso preciso ter um bom nível técnico pra conseguir passar.

      Jordana deu um meio sorriso.

      — Vou sentir sua falta.

      Abracei minha amiga com um pouco mais de força, a olhei sorrindo nos olhos.

DanielleDove le storie prendono vita. Scoprilo ora