Capítulo 57

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          Vítor Hugo

      — Muito melhor agora! — Carlos Amaral bradou, batendo as mãos com energia.

      Duda se adiantou a mim, fez quarta posição de pernas, e assim que segurei a cintura dela, a fiz girar pirouettes.

      Nossos passos evoluíram para saltos, giros e elevações, até que a garota repousou aparentemente morta, o corpo esticado mas quase caindo, a cabeça muito baixa, sendo segurada por meu braço.

      Meus dedos quase se soltaram das costas dela, porém a segurei, e fiquei empolgado que enfim nosso ensaio tivesse agradado o exigente diretor.

      — Obrigado — ele agradeceu neutro.

      Os cantos da boca dele se arquearam levemente pra cima, quase sorrindo.

      Duda e eu batemos as palmas das nossas mãos no ar em comemoração.

      — A gente arrasou, Vit — ela deu pulinhos.

      Ao me abraçar, senti seu gostoso cheiro de suor, muito bom, e a soltei prontamente.

      — Com uma bailarina tão talentosa como você como parceira, não tem como não ficar bom — respondi com sinceridade.

      — Ah, pára, vai — a garota revirou os olhos, inclinando levemente a cabeça para o lado. — Nós dois somos talentosos. Somos uma dupla.  

      Sorrio concordando. Era verdade.

      Duda não me soltou do abraço e seus olhos negros como uma noite escura cheia de perigos se fixaram nos meus. Um sorriso adorável brincou na boca carnuda da garota.

      — Você quer comer? — ela perguntou.

      — Oi? — viajei.

      — Quer sair pra comer alguma coisa? As meninas devem estar jantando num restaurante, eu acho que a gente podia fazer o mesmo.

      Minha carteira tinha ficado na escola. Foi a Danny quem pagou minha conta na padaria de manhã, e eu estava faminto.

      Merda! E se meu dinheiro não estivesse mais lá? A única chave da sala ficava com a Micaela, então nem seu Inácio podia entrar, mas minha desconfiança era muito forte pra não acreditar que alguém arrombasse a porta com pé de cabra e roubasse nossos pertences.

      Dissipei na hora esse temor ridículo. As únicas coisas que supostos ladrões achariam eram collants suados das meninas, cuecas e calcinhas sujas esperando por uma lavanderia.

      — Eu tô sem dinheiro — confessei vexado. — Foi a Danny que pagou o pão na chapa e o café que eu comi hoje cedo.

      — Não tem problema. Eu pago.

      — Duda, eu não posso aceitar.

      — Deixa de ser orgulhoso. Você tá com fome, não pode ficar sem comer nada.

      — Nem tô com tanta fome assim — menti, mas meu estômago protestou roncando. 

      — Eu não aceito não como resposta. E depois, não fica bem uma garota jantar sozinha.

      — Mesmo assim…

      — Vítor Hugo, eu tenho dinheiro — a garota pontuou a palavra dinheiro. — É o dinheiro do meu patrocínio, o mesmo que paga minhas viagens pra dançar no exterior. Olha só, tem um restaurante que serve comida mineira aqui perto, eu tô louca pra comer feijão tropeiro. Topa?

      Ao ouvir feijão tropeiro, meu estômago deu uma cambalhota.

      — Tá bom. 

      — Legal, me espera no corredor, que eu vou tomar banho. Quer tomar junto comigo?

      Meu cenho franziu em estranheza à pergunta.

      — Brincadeirinha — ela passou o indicador na ponta do meu nariz e saiu saltitando.

      O collant dela estava todo dentro da bunda, redondinha e bem feita. Por não ser alta, o corpo da Duda tinha curvas graciosas, sedutoras aos olhos de qualquer homem.

      Juntei minhas coisas: toalha, garrafa de água e fui ao vestiário masculino, que por sorte não tinha mais ninguém. Tomei um banho longo e demorado, sentindo toda a sujeira do meu corpo descer pelo ralo com meu cansaço.

      A sensação de relaxamento se completou assim que passei o antitranspirante no corpo e me vesti.

      Esperei mais ou menos uns quinze minutos até a Duda descer. O par de botas de cano alto que ela usava a deixou bem sexy, com as curvas visíveis graças a calça justa.

DanielleDonde viven las historias. Descúbrelo ahora