Danielle
Nicole, Alice, Duda e eu andávamos pela calçada movimentada, conversando sobre coisas de garotas e rindo alto. Olhei por sobre meu ombro quando passamos por um grupo de rapazes que nos chamaram de gatinhas. Me virei mostrando a língua para eles.
Eu usava jaqueta e uma calça jeans justa, com botas de cano alto. Nicole e Duda usavam o mesmo calçado que eu, mas estavam de camisetas de manga curta. Já a ruiva mal humorada vestia roupa preta, com coturnos.
Escolhemos uma lanchonete onde era tocada uma música da Clarice Falcão, e mesmo não sendo tão fã, o som do violão fazia o programa valer a pena.
Era para o Angel ter vindo também, mas ele estava ficando com um bailarino e ameaçou matar todas nós se mandássemos mensagem ou se ligássemos para ele.
Nos sentamos no balcão da lanchonete, já que todas as mesas estavam ocupadas.
Pensei então no Vítor Hugo, na atmosfera de dor e purgação em volta dele. Era impressionante o quanto ele mudava quando ficava triste. Sombrio. Sem brilho.
Queria poder fazer alguma coisa para ajudá-lo, sem parecer intrometida. Decidi tocar no dia seguinte sobre aquele assunto de novo assim que o visse na aula. Nem que ele me mandasse à merda, me ouviria.
A verdade é que eu fiquei chateada por Vítor Hugo não ter ido falar comigo depois da cerimônia de premiação. Puxa, não custava nada...
Tirei o iPhone do bolso de trás da minha calça e esbocei teclar uma mensagem pra ele e perguntar se estava bem. Mas não o fiz.
Passei os dedos no meu cabelo, completamente entregue às minhas inquietações enquanto as meninas continuavam rindo.
— Aquela garota que está com a tanga azul aparecendo? — alguém perguntou atrás de nós.
Meu rosto deve ter ficado vermelho de vergonha, ao me tocar que a garota de tanga à mostra era eu, a burra que estava usando uma calça jeans apertada e de cintura baixa, e que ao sentar no banco, tudo ficou aparecendo.
— Merda! — grunhi.
— O que foi? — Duda me questionou, bebendo sua garrafa de coca, com um hambúrguer à sua frente.
— Não... nada — sorri, tentando disfarçar meu embaraço.
Olhei discretamente por sobre meu ombro. Três rapazes conversavam numa mesa com garrafas de Smirnoff Ice no meio. Um deles era o Odin, o cara que assistiu ao meu ensaio com o Vítor Hugo hoje à tarde. Não foi dele, obviamente, o comentário nada discreto sobre mim, já que a voz do modelo era diferente, mas do amigo com cabelo raspado e com uma camiseta do Guns N' Roses.
O filho da Tânia Dressler sorriu pra mim no momento em que o olhei. Um sorriso provocativo, com uma expressão de malícia e bem atrevida.
— Uau! Que gatinho — Nicole pôs a mão no meu ombro. — E tá olhando pra você, amiga.
— Pára — pedi, olhando pra frente.
— Sabem quem ele é? — perguntei. — O Odin Dressler, filho da Tânia.
— O modelo? — Alice levou a mão à boca.
Assenti.
— Ele assistiu meu ensaio com o Vítor Hugo. Veio com o Beto — a pronúncia desse nome deixou um gosto amargo na minha boca.
Um dos rapazes surgiu ao lado da Duda.
— Oi — disse com uma garrafinha de Smirnoff Ice na mão. — Não querem sentar na mesa com a gente?
Preguei um olhar inquiridor no cara, fazendo com a cabeça um aceno sutil que não. Olhei também para as meninas, e fiquei chocada por ver a rápida troca de olhares entre a Nicole e a Duda aceitando o convite do desconhecido.
— A gente topa — a bailarina de olhos bicolores disse com entusiasmo.
— Como é que é? — perguntei.
— Ah, deixa de ser empata, Danny — Duda me segurou pelo ombro, me ajudando a ficar em pé. — Só vamos trocar uma ideia.
Bufei resignada, olhando para o alto.
— Você vem, Alice? — Nicole se dirigiu a ruiva com tatuagem de borboleta na nuca.
Esta negou com um aceno.
— Eu tô sobrando aqui. Podem ir.
Andamos as três em direção à mesa onde os rapazes estavam sentados. Sorri sem querer para eles, enquanto nos apresentávamos, sem saber porque eu sempre me deixava ser manipulada pelas minhas amigas.

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Danielle
Roman d'amourPara Danielle, nada é mais importante do que o balé. Seu sonho é dançar nos maiores palcos do mundo e superar sua mãe, a lendária Françoise Shushunova, o Cisne Branco, um mito da dança clássica. Durante uma competição de dança em Ribeirão Preto...