Capítulo 60

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          Danielle

      O tempo tinha passado rápido e nem percebemos. Estávamos felizes, prontos para viver aquele sentimento nascente e explosivo, tão forte, livre. O primeiro amor. E que eu queria que pudesse ser o único.

      Não tínhamos mais urgência de fazer as coisas às pressas, uma vez que o tempo agora nos pertencia. Eu queria viver cada minuto, cada segundo, cada microsegundo junto com ele e fazer planos como todo casal faz. Queria entrar na aula de balé no dia seguinte de mãos dadas com ele para que todos soubessem que agora éramos um casal.

      O fluxo cada vez menor de carros que passava em frente ao banco em que estávamos sentados, mais a queda brusca da temperatura, nos dava sinais de que era tarde e precisávamos nos recolher. Porém, eu não queria me separar do Vítor Hugo. Eu estava curtindo ter minha boca explorada pela língua dele, se aventurando por cada parte minha e me incitando a ficar com ele o máximo de tempo possível.

      Até que uma notificação apareceu na tela do meu celular após o mesmo vibrar. Era a Nicole me pedindo para lhe mandar o vídeo que eu baixei da Promoarte com quatro bailarinas dançando o Pas de Quatre. Só podia ser brincadeira que minha amiga me pedisse isso num momento em que Vítor Hugo e eu não queríamos ser interrompidos.

      — Acho que você precisa ir — o lembrei.

      — Mas está tão bom — a cara de pedante dele foi bem fofa.

      — Você tá cansado, amor, precisa guardar energia para o ensaio de amanhã.

      Avaliei com calma o rosto anguloso do bailarino, o canto esquerdo levemente tortinho da boca sexy que servia de moldura pra seu sorriso carinhoso.

      Dizem que uma pessoa se apaixona de verdade por nós quando nos vemos em seus olhos. Meu rosto se refletia nos olhos de Vítor Hugo. Eles não eram espelhos d'água que muitas vezes enganam, mas duas esferas brilhantes, vivas e incandescentes, que faziam meus sentimentos aflorarem e o chão sob meus pés sumir.

      Se antes eu tinha dúvidas e medos, isso não existia mais. O que tinha ficado pra trás já não tinha importância. Minha vida e a vida do Vítor Hugo eram agora uma página em branco pronta pra que escrevessemos uma história de amor, linda, com seus desafios, problemas, coisas pelas quais todo casal passa.

      Só que por mais que fazer planos faça parte, eu só queria estar ali com ele, sem pensar no próximo passo a ser dado.

      — Não vou conseguir dormir esta noite — confessou.

      Entrelacei meus dedos aos dele, sorrindo.

      — Amor, você precisa. Tem aula e ensaio amanhã.

      — Não vejo a hora disso tudo acabar — ele suspirou tediosamente.

       — Nunca acaba — fiz um cachinho nos cabelos negros dele. — Somos bailarinos.

      — Somos — um beijo estala em meus lábios. — Queria que fôsse você a minha partner, como na noite de gala no último domingo.

      — Eu também queria. Mas se frustrar faz parte da nossa profissão, né? A gente tem que aceitar que nem tudo é como devia ser. Quem decide é o diretor. Mas a Duda é uma ótima bailarina. Vai ficar incrível.

       O rosto dele se contraiu de forma brusca quando pronunciei o nome da minha colega de balé. Não entendi o porquê.

      — O que foi?

      — Nada — atalhou me tomando de novo pela cintura e me beijando.

      Separamos nossos corpos, ele andou um pouco de costas ficando a uma distância de mais ou menos dois metros de mim. Um sorriso afetuoso embelezava seu rosto.

      — Tenho mesmo que ir — disse.

      Anui com um fiozinho de tristeza.

      — Durma bem, meu amor — pedi.

      — Você também.

      Enquanto Vítor Hugo se distanciava andando meio de lado, meio de costas, diminuindo aos poucos nosso contato visual, fez um coração com as mãos, imitando um dos meus gestos preferidos. Ri balançando levemente a cabeça em negação, acenei com os dedos.

      Quando a escuridão da noite o absorveu, tomando-o pra si, suspirei e andei em direção ao hostel sorrindo como uma boba apaixonada.

      Ao pisar no último degrau, parei diante da porta ao ouvir um som. Fiquei paralisada de espanto. 

      Eu só podia estar escutando demais, não podia ser.

      A música que entrava nos meus tímpanos era de um violão de cordas de aço. 

DanielleWhere stories live. Discover now