Vítor HugoO festival de dança de Ribeirão Preto terminou de forma apoteótica, com Daniel e Maria Luíza Pomini dançando O Quebra Nozes. A técnica perfeita e as linhas harmoniosas de seus movimentos mostraram o enorme abismo que existe entre bailarinos profissionais e amadores e o quanto de aula teríamos que fazer para chegar ao nível deles.
Me senti honrado por dividir o palco com artistas de nome, e acredito que gratidão era o que definia a todos nós.
Depois de uma semana de danças e aulas, tínhamos recuperado nossa forma física, e dançamos muito melhor. Micaela e Duda deram show de técnica. Lindas. Sem querer parecer convencido, mas causei ótima impressão no público, sendo inclusive chamado para uma conversa com um diretor de uma escola americana. Todo bailarino fica feliz quando recebe elogios.
Danielle viveu um mundo à parte. Dançou como uma fada. Leve, livre, sorridente e graciosa. Um cisne batendo asas para voar em direção às estrelas a que estava destinada a alcançar.
A garota foi quem mais dançou. Paquita, a dançarina espanhola; Diana, a deusa grega da caça; O solo neoclássico; O Cisne Branco. Bastava ela começar a girar e a mexer os braços para o público ficar fascinado.
Dançar era uma coisa que eu amava fazer, não tinha todas as palavras para definir o sentimento de saltar, girar, e talvez eu nunca tivesse. Mas ver Danny dançando era algo único, nunca me cansaria de assisti-la.
Desisti de tentar entender como uma bailarina podia ser tão amada. Talvez ela tivesse um brilho que nenhuma outra tinha e que iluminava as pessoas, levando-as a sentir esperança e a acreditar que a vida podia ser bela, mesmo com tudo apontando para um não.
Ou ela era uma princesa de outro mundo. E nesse mundo não podíamos pisar.
O balanço do corpo dela declamava um lindo poema, ora alegre, ora triste, ao toque da música de Tchaikovsky. Seus gestos sinceros sem nada dizer pediam uma resposta minha, decisiva, algo que lhe desse esperança de ser liberta e viver um amor eterno.
Eu me comportei como um babaca com ela. Por duas vezes. Eu não tinha direito de obrigá-la a gostar de mim. O problema é que eu não conseguia mais esconder que a Danny estava se tornando importante pra mim de uma maneira que eu não podia ficar um dia sem vê-la.
Era pra ter sido só algo casual. Dois jovens querendo testar seus limites, nada mais. Eu não queria me interessar por ninguém, porque balé é uma arte que não aceita competir.
Terminada nossa apresentação, conduzi o Cisne Branco para perto daquelas pessoas emocionadas para que a saudassem com palmas. Lágrimas desciam pelos cantos do rosto delicado dela. Prestei uma reverência à minha parceira, e depois de tirá-la do palco, agradecemos um ao outro por aquele momento que vivemos juntos. Formamos o melhor binômio do festival. Os mais mais lindos Siegfried e Odette.
Meu coração pulava com brutalidade dentro do meu peito e as palavras se acumulavam na minha garganta. Meu corpo sentia falta do corpo dela junto ao meu. Do cheiro de flores, tão delicioso, que o corpo dela tinha. Do calor do seu abraço. Dos olhos azuis dela, tão puros e ao mesmo tempo perigosos.
Era quase como uma dependência química, uma droga que eu precisava ter de qualquer jeito.
Mesmo que ela me repelisse, não podia deixar passar aquele momento, em que estávamos frente à frente, felizes. E, vendo aqueles olhos doces, aquela boca me atraindo como um ímã, não pensei em mais nada. Puxando seu corpo para junto do meu, a beijei.
Sei que não devia, que era puro atrevimento, mas o fiz. Acho que ela gostou. Não, tenho certeza que ela gostou. O sorriso dela disse.
— Danny, eu…
Ela entreabriu os lábios, esperando que eu terminasse. Mas antes que as palavras saíssem da minha boca, a garota tornou a sorrir.
— Não diz nada — pôs o indicador nos meus lábios —, por favor.
— Por que a gente sempre termina assim? — questionei, muito mais à mim mesmo do que à garota.
— Porque temos uma química legal, quem sabe? — ela deu de ombros.
— Ou porque gostamos de ser irresponsáveis e fazer o que bem queremos.
Danielle riu, e esse riso me deu paz. Foi também um lembrete de que eu devia fazer algo.
— Me desculpe por eu ter falado com você daquele jeito ontem no barzinho. E por hoje de manhã. Você tem toda a razão de estar chateada comigo.
Danny sustentou meu olhar no dela. Seu sorriso insistia em ficar, e entrelaçando nossos dedos, tocou a maçã do meu rosto com seus dedos delicados.
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Danielle
RomancePara Danielle, nada é mais importante do que o balé. Seu sonho é dançar nos maiores palcos do mundo e superar sua mãe, a lendária Françoise Shushunova, o Cisne Branco, um mito da dança clássica. Durante uma competição de dança em Ribeirão Preto...