Capítulo 15

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          Vítor Hugo

      As palavras do Léo me deixaram bolado, mas deixei pra lá. Pelo menos por enquanto. Mas depois ele teria que me explicar, nem que eu tivesse que forçá-lo a isso.

      Fomos todos para uma padaria, na Avenida São Sebastião. O café da manhã que eles serviam era ótimo, o pão de queijo lembrava muito o das padocas  mineiras, mas o que influenciou na escolha da Agatha foi o bom atendimento que os funcionários dispensavam aos clientes, como se cada um destes fosse especial. Todo mundo gosta de ser bem tratado.

      Gosto da boa educação das pessoas. De modo geral, o povo do interior de São Paulo é muito educado, eles tem um sotaque bem legal, com o “r” puxado.

      Juntamos duas mesas, fizemos os pedidos. É incrível como o pão na chapa é o queridinho no café da manhã, com um bom café com leite, e um cesto com pães de queijo. Micaela, que gostava de se destacar e ser a diferentona da turma,  pediu capuccino.

      — O que acharam das danças ontem? — Agatha perguntou, e o desdém com que Micaela processou a pergunta me desagradou.

      — Foi legal — ela respondeu. — Os bailarinos da Letícia Ballet foram bem ontem, com a Danielle em primeiro e a Duda em segundo. Mas isso não serve de parâmetro.

      — Por quê? — eu a desafiei.

      — Boa parte das bailarinas top estão de férias. Na praia ou na Europa, curtindo a neve. Elas estão fora de forma, enferrujadas e gordas.

      — Uau, você tá menosprezando o festival, as competidoras, é isso? — continuei.

      — Dá um tempo, Vítor Hugo. Não está levando essa competição à sério, né?

      — Eu estou — tive vontade de beijar o rosto da Ana. — Não obtive colocação ontem, mas fiquei feliz por dançar. Pra mim, não importa o palco, o sentimento de amor é o mesmo em todos eles.

      Micaela a fuzilou com os olhos. Um dia sua língua solta lhe causará problemas.

      — A Ana está certa. Quem dança não escolhe palco — Agatha empregou um tom que fez sua principal bailarina se encolher.

      — A Danielle deu uma aula de balé ontem — nossa professora continuou— Mostrou uma entrega que só vejo em artistas de altíssimo nível, e fez uma coisa que eu não via há muito tempo: emocionou o público do começo ao fim. 

      — Eu ainda acho a Duda melhor — Léo opinou.

      — A Duda tem mais experiência, mas a Danny não está nem aí pra isso. A Danny não liga para disputas com colegas. Ela só quer dançar melhor que ela mesma. Ontem ela foi a melhor. Não importa se as outras solistas da Alliance ou da Promoarte estão na praia, na Europa, na Disney ou na lua.

      Léo e Micaela anuiram em silêncio, e sorri satisfeito.

      — E o seu resfriado, Vítor Hugo? — Agatha segurou minha mão.

      — Está melhor hoje. Não há necessidade de me consultar com um médico, como minha mãe sugeriu.

      — Ótimo.

      Pagamos nossa conta e saímos, com a Agatha “puxando o bonde”. A escola ficava perto dali.

      Estava quente e abafado, mas o azul do céu se preenchia pouco a pouco de nuvens brancas. A loura antipática do noticiário da manhã previu chuva para o dia seguinte, em quase todo o interior de  São Paulo. Quem sabe o ar ficaria melhor, se chovesse um pouco.

      Agatha e as meninas atravessaram o semáforo, deixando o Léo e eu para trás.

      — O que você pensa da Danny? — perguntei.

      Meu colega estranhou a pergunta, mais do que eu imaginaria.

      — Bom — ele pensou —, ela é muito gata, embora eu goste de boys. Uma princesa. Gentil, doce com todo mundo, uma máquina de girar fouettés. Por quê?

      Dei de ombros.

      — Só uma pergunta aleatória.

      — Você tá a fim dela?

      Balancei a cabeça para os lados e ri.

      — Que nada a ver. Ela é legal. Gosto dela como pessoa, nada de mais.

      — É bom. A Danny não deve ser boa pra namorar.

      Namorar?

      Estranhei a opinião do meu amigo.

      — Por quê? — insisti.

      — A mãe dela é a falecida Françoise, certo? E ela era ruiva, de olhos azuis e sardas.

DanielleDonde viven las historias. Descúbrelo ahora