TRINTA E OITO

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        Acordei com o rosto inchado. A minha vontade era correr para os braços do Kim, naquele momento, e não o soltar nunca mais. Mas será que teria direito de fazer isso depois de tudo que fiz? Teria que voltar no tempo para evitar tudo aquilo. Queria poder viver todas as coisas, que ele descreveu, no último e-mail, ao seu lado. Joguei a água fria em meu rosto, após escovar os dentes, e pude encarar minha expressão de angústia, no reflexo do espelho, estava deplorável. Quantas vezes vou continuar me sabotando? Deveria ter ficando do seu lado o tempo todo. Ele levou um tiro, por minha causa, enquanto fugi, por medo. Tudo que vivi e estava vivendo era as consequências das minhas escolhas, que fiz pensando ser o melhor. Cometendo um erro um atrás do outro.

        Tento não me desesperar para consertar tudo que fiz. Precisava, agir com calma e pensar bastante, antes de decidir o que iria fazer a partir desse ponto. Após tomar uma xícara generosa de café, chequei minha caixa de entrada no e-mail e enviada há duas horas atrás estava a resposta, que tanto esperei estava ali. Era apenas um endereço de um museu e o horário que devia aparecer lá. Meu coração se animou. Aquela seria minha segunda – talvez terceira ou quarta -, para resolver as coisas com o Kim. Faltava menos de uma hora para nos encontrar, então, me arrumo o mais depressa que consigo, colocando um jeans, blusa de lã, calçando um par de tênis e pegando uma pequena bolsinha.

        Chamo um táxi, enquanto trocava mensagens bem animadas com os meus amigos. Não contei para os mesmos o motivo da minha alegria repentina, mas acho que pelos memes e os verdes, que os dois mandavam para mim, ambos poderiam adivinhar o que seria – lembrando, que eles sabiam do meu termino com Jeon.

        Quando menos percebi, já estava entrando pelas enormes portas do museu, do endereço que o homem havia enviado. Andei olhando para todos os lados, admirada pelas obras que me rodeava, o lugar era fascinante. Nota mental: começar a visitar exposições de arte por conta própria. Amaria poder acompanhar o Kim, em lugares como esse. Olhei para minhas roupas em comparação as outras pessoas ali, me sentindo um pouco destoante, por usar roupas tão causais. Deveria ter me arrumando mais. Parei em frente a um enorme quadro com cores fortes. Era como se ele chamasse por mim. Fiquei tão vidrada na obra, que nem percebi quando um homem parou ao meu lado.

        — O pintor sofreu muito pela a perda de sua amada. — Congelei ao ouvir. Eu reconheceria a sua voz em qualquer lugar e tempo.

        — Como sabe disso? — Indaguei sem tirar os olhos da pintura. Tinha medo de ser uma peça da minha cabeça, ou, que se fosse real, chorasse ali mesmo.

        — A forma como a tinta parece ter sido jogada com bastante raiva. É como se o pintor estivesse descontando todas as suas frustrações na tela branca, afim de aliviar a dor no peito. — Senti uma pontada de dor no seu tom de voz, como se identificação com a dor transmitida no quadro.

        — Pode ter sido por algo trivial. Não acha? — Queria que tivesse um clima agradável para conversarmos. Então tentei dar outra interpretação da pintura. — É comum sentirmos raiva, por algo insignificante, como esquecer o guarda-chuva e voltar para casa molhado, ter algum cliente chato ou uma briga com o porteiro. Não precisa ser necessariamente um coração partido. — Tomei coragem e o encarei, o Kim estava tão bonito vestido casualmente e concentrado na tela. Me senti confortável ao seu lado.

        — Talvez. — Deu de ombros. — Mas acredito que seja, por entregar seu coração a alguém que o quebrasse. As cores vivas em vermelho, amarelo e preto em tons fortes transmitem essa sensação. — Voltei meus olhos para o quadro me sentindo pequena demais e por medo de ser pega o encarando. O quanto havia sido babaca com o homem atoa?

        — Namjoon, eu sinto... — Sou interrompida pelo mesmo, quando estava prestes a pedir desculpas e me explicar sobre os motivos de ter me afastando.

Daddy Kink | KNJOnde histórias criam vida. Descubra agora