Prólogo

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No volume anterior
...
Guto estava um pouco alto pela bebida, mas o que realmente lhe incomodava era uma dor na barriga, em seu fígado. Ele foi até a casa de Benê quase sem forças devido a dor. Chegando lá ele encontrou Donatela que abriu a porta para ele.
- Guto menino; o ajuda a entrar - Você não parece bem.
- Liga pro meu... Pai; desmaia nos braços de Donatela.
- Guto! - Benê grita ao ver sua mãe colocando Guto desmaiado no sofá; o que houve com ele mamãe?
- Eu não sei, mas ligue para o seu pai, algo me diz que é muito sério...
Agora...
- Rápido Benê! Guto tá correndo risco de vida menina!
- Tô indo...
Enquanto isso...
- Madame mãe...
- Sabe que não deve me chamar assim; diz Bia irritada - E muito menos vir aqui, lembre do nosso trato...
- Eu nunca me esqueço dele senhora... Vim dizer que dessa vez Silveirinha não vai falhar...
- Para o bem dos dois... É melhor não...
- A madame tia está na cidade pelo que eu soube... Amabilly  está se arricando demais...
- Ela sempre foi um empecilho para os meus planos... Mas madame sub e eu em breve nos livraremos dela para sempre...
O olhar de Bia pousou no relógio acima da mesa de mogno, ambos eram antiguidades que ela gostava de ostentar como parte de sua riqueza que parecia incalculável como as estrelas do céu e os grãos de areia da praia, ou as gotas de água do oceano, mas só parecia. No primeiro andar, assim como ficavam os faraós e grandes governantes antigos, bem acima de seu povo, seus servos. Tudo naquele lugar era sinônimo de poder e soberba, o que se assemelhava muito a sua dona que gostava de ostentar aos quatro ventos o quão grandes eram seu poder e fortuna diante dos 95% que Bia julgava inferior a ela. Seu braço direito, que se escondia sobre a penumbra da sala podia apenas seguir as ordens que saiam daquela que sempre esteve acima dele.
- O que devo fazer agora Bia?
- Aguarde minhas próximas instruções... E fique de olho em Amabilly , não confio nela.
- Como quiser Bia...
Enquanto isso...
Do outro lado da cidade...
Isabella soube através de sua amiga Benê que seu meio irmão Guto está muito mal devido às drogas e a bebida
--Mamãe o Guto foi parar no hospital ele está muito mal!
Isa sempre soube que bebida e drogas não nos levam a lugar nenhum, mas Guto era um garoto teimoso que só acreditava nele mesmo. Chegando no hospital tudo que podiam sentir era uma espécie de agonia que lhes devorava a alma e apertava o coração. Não era o ambiente em si com seus objetos típicos de um hospital que causavam tal sensação, mas as incertezas acerca da saúde de Guto que pelo que ficaram sabendo não era das melhores no momento.
Isa viu Benê e Donatela, ambas estão muito tristes com o que está acontecendo, seus rostos mostravam seus sentimentos mais profundos, o que de muitas maneiras era bastante preocupante.
--Tia Donatela - Isa foi até ela; o que aconteceu exatamente?
- Isa, o Guto... Ele teve um ataque no fígado...
- Vai precisar de um transplante urgentemente; completa Donatela - Só que o Zé não pode doar, são incompatíveis...
Aquela notícia foi como um tapa na cara, só que bem pior, pois nenhuma daquelas pessoas estava preparada para perder um amigo, ainda mais en tais condições. Isa então puxou sua mãe Tosca para o canto.
--Será que o Pascoal pode ajudar mamãe? - Isa cochicha.
Pascoal é o pai biológico de Guto mas o garoto não sabe, poucas pessoas na verdade, sabiam desse segredo, que por ironia do destino, poderia salvar a vida de Guto.
- Não sei Isa, talvez, mas isso não é algo que dependa de nós, entende filha?
--Entendo mamãe,mas podemos tentar
Do outro lado do hospital, Pascoal com dores ,questiona.
--Onde está o Guto?
Seria uma pergunta muito simples se Zé não estivesse tão nervoso que mal pudesse falar e articular seus pensamentos numa ordem coerente o bastante, ele precisava de um tempo que infelizmente não poderia ter agora, a vida de Guto estava em jogo mais uma vez... E mais uma vez ele não podia fazer nada para ajuda - lo. O choque havia sido grande, ele sabia que havia grandes chances de não poder ajudar o garoto que havia criado como filho. Mas a verdade foi pior que mil punhais lhe atravessando a carne, mais uma vez ele se sentia um inútil em relação ao seu filho Guto.
- O Guto está aqui no hospital... Ele precisa de você ou da Vitória...
--O que?
Pascoal ficou nervoso, queria saber de todos os jeitos o que está acontecendo com seu filho, mas seu corpo doía demais e ele mal conseguia se manter sentado sem ajuda.
- Pascoal o fígado do Guto está com problemas devido ao excesso de drogas e ele precisa de um novo... E infelizmente eu não posso ajuda - lo, mas você pode...
Na recepção todos rezavam pelo Guto, as velas não estavam acesas, mas a luz da esperança brilhava em seus olhares bem mais que uma fogueira tremulando no vento numa noite escura de inverno. Flávia chegou no hospital, Isa foi até ela.
--Amiga a situação é muito grave...
- A Benê me contou...
No bairro mais nobre de São Paulo, na nata da nata dos burgueses paulistas a realidade era outra. Restaurantes finos abertos revelando o explendor que somente a riqueza pode proporcionar. Amabilly  e Bia almoçam num restaurante reservado somente para elas, num almoço regado a champanhe e kaviá.
- Amabily  está na hora da segunda parte do nosso plano...
- Mas já? Madame sub sabe disso?
- Ela aprova tudo o que eu digo, está pronta?
- Nunca estive mais pronta...
No interior crianças brincavam descalças no meio da rua, brincadeiras saídas sem muita tecnologia. Dava para se sentir o cheiro do feijão, as lutas de capoeira, os jovens dançavam ou lutavam? Era uma mistura dos dois... Uma mistura tipicamente brasileira igual feijão com arroz. A casa de Glace até que era ajeitadinha, nada tão glamurosa quanto uma mansão, mas poderia se chamar de lar, o que era bem mais importante. Desde a morte de seu irmão ela nunca mais foi a mesma, andava melancólica pela casa, algo que se refletia nas flores quase mortas na janela da frente. Flores antes vivas e cheias de cor, sua tristeza também afetou seu casamento que andava fraco das pernas faz tempo, mas agora apenas se arrastava cada vez mais para a lama.
- Perdi minha mulher; dizia ele para ela - Não sei porque ainda estamos juntos.
- Você quer o divórcio por acaso? Se quiser pode pegar, você nunca me amou mesmo.
- É isso que você quer?
De volta a capital, os médicos faziam de tudo para salvar a vida de Guto, que agora estava nas mãos de Deus, e Benê sabia disso. Numa pequena capela do hospital mesmo, singela, meio escura, com flores num pequeno altar para nossa senhora de Fátima Benê fez sua oração.
- Que o Guto saía dessa meu Deus; diz em pensamento enquanto lágrimas silenciosas desciam de seus olhos juvenis - Eu confio em ti Deus... E em Nossa senhora, e peço - lhes humildemente que o salvem...
Continua...

A menina que sabia sonhar        VOL 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora