Eu entendo você

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Sakura pov

— Eu não quero suas desculpas, 'pra mim elas não servem de nada! — A raiva já tinha me dominado a bons minutos, eu passei por tanta coisa, passei por cima do preconceito de muita gente para vir alguém me dizer como eu devo viver a minha vida. — Você é um babaca e já vi que nunca vai mudar!

— Eu não sou hétero! — Sasuke gritou e o silêncio dominou o ambiente. — Me desculpa, por favor... — Ele cobriu o rosto e me pareceu estar chorando. Eu estou perplexa tentando assimilar a informação. — Eu não sei me aceitar como você se aceita! — A raiva foi aos poucos se esvaindo do meu corpo, agora tudo fazia sentido. — É a primeira vez que digo isso em voz alta. Tentei negar para mim mesmo durante anos, mas ver você tão feliz com sua sexualidade me deixou com... inveja! — Era por isso? Era isso que passava na cabeça dele? Raiva e inveja por eu ser quem eu sou? Tudo que ele sentia era que queria ter a coragem que eu tenho? Dei passos lentos em sua direção e o envolvi em meus braços.

— Está tudo bem, Sasuke. — Senti o choro dele se intensificar e vi Naruto abaixar a cabeça. "Eles tiveram algo? Por isso a briga na festa?" Sinto a relutância dele em me abraçar, então peguei seus braços e coloquei em volta da minha cintura. As lágrimas dele molhavam meu ombro, senti todo o peso dos ombros dele deixarem seu corpo ao sentir seu relaxamento, ninguém melhor do que eu para entender a dor que ele está sentindo nesse momento. Pois se assumir na frente de todos e principalmente do irmão, não é nada fácil. Me afastei e segurei a mão dele. — Vem.

— Sakura. — Itachi me chamou.

— Por favor, me deixem ficar a sós com ele. — Nos dirigimos ao meu quarto, fechei a porta atrás de mim e me virei para ele. — Senta. — Ele manteve seu olhar no chão e sentou-se em minha cama. Respirei fundo, pois, sei que essa conversa não vai ser fácil, ele mal me conhece, me tratou mal durante todos os dias em que esteve aqui, mas eu tive alguém que me apoiou e não me deixou desistir. Ino Yamanaka, a melhor pessoa que eu tive e tenho na minha vida, então eu não vou deixar de dar a minha visão como alguém que sofreu rejeição por onde passava. — Sasuke... — caminhei até ele e me sentei ao seu lado.

— Me perdoe, Sakura. — Ele falou antes que eu pudesse começar a frase. O Uchiha acariciava as próprias mãos em um claro sinal de nervosismo.

— Eu quero que você olhe para mim. — Ele desvia o olhar para parede do lado oposto ao meu. — Eu entendo você.

— Você se aceita... como poderia entender?

— Você acha que eu sempre fui assim? — Me ajeitei na cama ficando de frente para ele. — Sabe... uma pessoa me disse que eu não preciso da aprovação de ninguém e muito menos da aceitação de ninguém além de mim mesma. — Seguro em seu queixo e vejo os olhos inchados do choro. — Veja bem, você acha que a sociedade aceita o relacionamento que tenho? Eu namoro três pessoas. — Ele ficou surpreso.

— Três?

— Sim, eu mantenho um relacionamento com a Ino e com Kakashi e o Obito. — Sorri de canto ao me lembrar das pessoas maravilhosas que tenho ao meu lado. — Todos nós nos entendemos e nos gostamos, cuidamos uns dos outros. Não é isso que importa em um relacionamento? —Ele assentiu. — Não tem problema em você não ser hétero, não é defeito, Sasuke. Assim como não é um defeito ser poliamorista, apesar de ser julgada em qualquer lugar que eu entre de mãos dadas com dois homens pelo meu relacionamento ou quando entro em algum lugar de mãos dadas com a Ino pela minha sexualidade.

— Meu pai nunca aceitaria. — Ele limpou o rosto com o dorso das mãos. — Ele já me acha um inútil, nunca sentiu orgulho de mim. O único que importa é o Itachi, o filho perfeito.

— O que acabei de falar sobre aceitação? — Ele mordeu o lábio. — E quanto ao seu irmão, acho que deveria sentar e conversar com ele. Ele te ama e tenho certeza que nunca te julgaria pela sua orientação sexual.

— Por que você está sendo tão compreensiva e tão legal comigo? Eu fui um idiota, te tratei mal por nada. — Ele murchou os ombros.

— Por que eu sei pelo que você está passando, entendo o que é se sentir vazio por dentro, o que é pensar que ninguém nunca vai amar você como você realmente é. Eu sei o que é ter medo de ser "descoberto" por que você acha que está cometendo um crime. — Coloquei a mão no seu ombro e as orbes negras me fitaram. — Eu sei o que é ser diferente, mas isso não me torna menos digna de respeito.

— Para mim é... errado eu sentir vontade de ficar com homens também. — Sasuke abaixou a cabeça. — É errado... — Ele deixou a frase morrer.

— Por que errado? Você escolheu sentir isso? Você escolheu ser bissexual, Sasuke? — O moreno negou com a cabeça. — Ninguém escolhe passar por sofrimento. Sexualidade não se escolhe.

— Posso... abraçar você? — Eu abri os abraços e uni nossos corpos em um abraço de afago, é disso que ele precisa. — Obrigada.

— Eu te perdoo, Sasuke. — Me afastei o encarando. — Você tem que prometer para mim que vai erguer a cabeça e ser você. — Sorri para ele que me retribuiu com um sorriso leve em seus lábios. — Não importa o que os outros digam e... você precisa parar de julgar as pessoas. — Ele assentiu com a cabeça e escutei batidas na porta. — Entra. — A porta abriu revelando Itachi.

— Está tudo bem? — O Uchiha perguntou.

— Sim, nós nos entendemos não é, Sasuke? — O Uchiha mais novo balança a cabeça em positivo.

— Podemos conversar, irmão?

— Vou deixar vocês a sós, fiquem à vontade, o quarto é de vocês. — Deixei o quarto, fechando a porta e suspirei. Uma sensação leve dominava o meu corpo, ele guardou por tanto tempo isso dentro dele, eu não conseguiria e realmente, não consegui. Agradeço aos céus por ter a Ino ao meu lado e agora, dois homens incríveis.

— Como está, rosada? — Vi Kakashi no topo da escada. Sorri indo em direção a ele e o abracei. — Sua reação me surpreendeu.

— Ele só precisava de alguém que o entendesse, Kakashi. — Olhei nos olhos negros. — Sabe, me assumir bissexual e principalmente poliamorista não foi fácil, mas sempre tive a Ino ao meu lado. Nos descobrimos juntas, vivemos muitas loucuras juntas, contudo, também sofremos muito juntas.

— Mas não justifica o jeito que ele tratou você.

— Não, não justifica, mas eu entendo. — Suspirei. — Eu também tive minha fase de negar 'pra mim mesma que algo estava acontecendo, entretanto, a verdade é que sempre tive um carinho a mais pela Ino, mais do que apenas minha melhor amiga e é colocado na nossa cabeça que a relação de duas pessoas do mesmo sexo é abominável e isso está tão encrustado na gente que acabamos acreditando sem ao menos nos questionar.

— Você é a melhor pessoa que eu já conheci. — Ele selou nossos lábios e sorriu para mim ao se afastar. — No auge dos meus 26 anos estou aprendendo coisas novas com você. Obrigada. — sorri para ele e descemos a escada. 

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