República da Folha - Reescrevendo

O tempo parou

Itachi Pov

O tempo passava, mas parecia que estávamos vivendo o mesmo dia repetidamente, as coisas tinham se tornado mecânicas, nossa rotina, nossas refeições, as aulas e acho que todos estavam pensando o mesmo: queremos que o Hatake volte as nossas vidas. Apesar de que tudo estava estranho, tentávamos apoiar um ao outro da forma que conseguíamos ou talvez da forma que suportávamos, afinal, ninguém estava bem para dar o acolhimento necessário, nunca tínhamos passado por tal situação, não sabíamos bem como reagir ou como lidar com aquilo.

A vida tinha literalmente parado para o Kakashi e para nós se assemelhava a isso, só que parecia ter parado mentalmente. Estávamos exaustos de tanta angústia e alarmes falsos, várias vezes ele respondia aos estímulos dos médicos e nos dava a esperança de que talvez acordasse naquela semana, no entanto nada acontecia e com o passar dos meses tudo ficou pesado demais para colocarmos para fora em palavras. Acho que o silêncio parecia a melhor resposta no momento.

Enquanto esperava a Ino sair da prova eu lia um livro no banco de sempre, onde marcamos de nos encontrar. Ela tem sido a minha âncora nesse momento, Obito também, afinal, agora ele estava morando com a gente, mesmo que ele tenha se recuperado e poderia ter voltado a morar no seu apartamento, ele preferiu não deixar a Sakura sozinha, é claro que ele não a deixaria sozinha tão vulnerável como ela está. A Haruno até tentava parecer que estava bem, mas todos víamos que tudo que ela fazia era enfiar a cabeça nos estudos para se distrair e esquecer o que estava se passando a sua volta, não a julgo, estávamos todos fazendo o mesmo.

— Acho que arrasei na prova. — Ino se jogou no banco ao meu lado. — Só quero ficar de férias logo. — Ela me deu um selinho. — Como foi?

— Talvez até tenha fechado a prova. — Fechei o livro e o apoiei em minha perna.

— Você é inteligente, Ita, tenho certeza que sim! — A loira disse animada. — Estava pensando, vamos comer alguma coisa? — Assenti e levantamos indo em direção ao estacionamento.

Entramos no meu carro e fomos para o restaurante que a Ino adora perto do Campus, sei que comer lá sempre a anima e ver ela animada me deixa feliz. Comíamos conversando sobre as provas finais e de como seriam as férias, o que me fez pensar que eu deveria convidá-la para ir a Tóquio comigo e conhecer a minha família, afinal, ela era minha namorada.

— Ino. — Chamei a sua atenção e ela resmungou em resposta. — Você quer passar as férias em Tóquio comigo?

— O que? — Ela arregalou os olhos.

— Sim, conhecer meus pais, o que me diz? — Curvei os lábios em um sorriso.

— Ita, eu... eu vou para minha cidade nas férias... com a Sakura.

— Ah. — Murchei os ombros. — Tudo bem.

— Por favor, não fique chateado, eu já tinha combinado com ela. — Ino acariciou minha mão que estava apoiada na mesa. — Você poderia ir comigo.

— Não posso, preciso ir ver com meus próprios olhos como está a relação do Sasuke com meus pais. — Suspirei passando a mão em meu cabelo. — Por mais que ele diga que está tudo bem, tenho que ter a certeza.

— Então, não se preocupe, afinal, nós vamos passar o Natal todos juntos. — Ela sorriu.

— Nem todos. — Desviei o olhar e ao encará-la novamente vi a tristeza invadir o rosto da Yamanaka.

"Merda!"

O resto do almoço foi em um total silêncio, a trouxe no restaurante favorito dela para animá-la e acabei falando o que não devia. Estacionei o carro na garagem e ao chegar na varanda notamos que ambos esquecemos as chaves, nos fazendo tocar a campainha. Shikamaru atendeu e só disse o básico antes de adentrar na residência com a Ino, ela sobiu a escada e eu fui direto para o meu quarto. Odeio a sensação de parecer que brigamos, porém eu sei que não foi isso. A verdade era que todos na república estavam com os sentimentos tão a flor da pele que qualquer coisa que acontecesse era motivo para ficarmos mal.

Resolvi tomar um banho para relaxar, eu não queria ter falado em voz alta o que pensei, no entanto, eu sentia falta do Hatake, ele era meu melhor amigo e voltar a rotina como se nada estivesse acontecendo é complicado, me sinto mal, parecia que eu estava o esquecendo. Terminei meu banho e saí em busca de um chá gelado, ao entrar na cozinha dou de cara com Shikamaru jogando uma caixa de pizza no lixo, abri a geladeira tirando a jarra e em seguida peguei um copo no armário para me servir.

— O aniversário da Tema é domingo. — Ele sussurrou próximo ao meu ouvido.

— É verdade, você pensou em algo? — Perguntei curioso. — Precisamos animar ela, na verdade, todos nós precisamos de uma animação.

— Sim, você tem razão. — Ele murchou os ombros. — Mas me deixa falar! Eu já planejei tudo...

— O que estão cochichando? — Temari surgiu na cozinha.

— Nada, Tema. Estava falando...

— Itachi disse que estava com um probleminha masculino. — Shikamaru me interrompeu e eu olhei para ele com um vinco nas sobrancelhas. — Ele pediu minha ajuda. — Revirei os olhos.

"Que se foda."

— 'hm — Ela murmurou enquanto pegava água na geladeira e deixou o ambiente. Dei um tapa na cabeça do Nara.

— Problema masculino, é? — Torci os lábios.

— Desculpa. — Ele acariciou o local que bati e sorriu sem graça.

— Idiota. — Voltei para o meu quarto e deitei com um livro em busca de me distrair.

Eu estava lendo no automático, nem estava prestando atenção na história, com certeza vou ter que ler esse capítulo novamente. Tudo que passava em minha cabeça era: como a Ino estava no andar de cima? Porém, não queria invadir o espaço dela. Escutei batidas na porta e disse para entrar, vi a Yamanaka entrar desconfiada e fechar a porta atrás de si encostando na mesma.

— Eu... quero ficar com você. — Ela encarava o chão e mordia o lábio.

— Vem cá. — Coloquei o livro na mesa de cabeceira e estiquei os braços. Ela subiu na cama e deitou-se em meu peito. — O que houve?

— Só fiquei pensando que não gostei do clima que ficou entre nós, parecia que tínhamos brigado.

— Eu sei, também fiquei incomodado. — Ela olhou para mim. — Me desculpa, eu não queria ter falado aquilo.

— Eu também quero o Kakashi com a gente, Ita. Sinto falta dele. — Ela encostou em meu peito e deslizei os dedos pelos seus cabelos beijando sua testa em seguida.

Passamos algum tempo em silêncio, abraçados, apenas curtindo a companhia um do outro, engatamos uma conversa e isso fez ambos melhorar o humor, quando vimos já tinha escurecido. Eu adorava como a gente se entendia tão bem e como conseguimos nos divertir um com o outro. A Yamanaka pediu para eu ficar no quarto enquanto ela fazia algo para nós jantarmos, acatei seu pedido e depois de alguns minutos ela entrou no quarto segurando uma bandeja com dois pratos e algumas velas.

— Achei que poderíamos ter um jantar romântico.

— Nada me faria mais feliz. — Sorrimos um para o outro.