Casa é um sentimento

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Sakura Pov

— Ino, cheguei! — gritei ao entrar pela porta da frente da mansão dos Yamanaka.

— Sakura! — Hina me abraçou e levantou uma garrafa de vodca ao se afastar. — Chegou na hora certa. — Ela riu sapeca.

— Flor de cerejeira. — Naruto me deu um selinho e um abraço. — Como está?

— Bem. — Forcei um sorriso e caminhamos até a sala de jogos da casa.

Sentamos espalhados pelo chão em volta da mesa de centro, Ino tinha separado copos, gelo, bebidas e nós conversávamos despretensiosamente sobre qualquer coisa. Eu tentava focar na conversa, contudo, a verdade era que eu estava chateada com meus pais por serem dois egoístas que só pensavam em si mesmos, chateada por ter deixado o Kakashi sozinho e agora me sinto uma idiota por ter vindo para cá e não estar dando a devida atenção aos meus amigos. Virei o resto da bebida que estava em meu copo e o depositei na mesa bufando.

— Vai devagar, Haruno. — Travei e engoli em seco ao ouvir a voz rouca tão bem conhecida pelos meus ouvidos. Olhei para a Ino e ela parecia tão perdida quanto eu.

— Agora a antiga turma está reunida, não é mesmo? — Hinata sorriu largo. — Espero que não se importe, Ino.

— Claro que não. — A loira forçou um riso. Neji caminhou até nós e se sentou ao meu lado.

Não podia transparecer absolutamente nada, sempre foi assim, mesmo quando estávamos juntos, na frente da Hina e do Naruto escondíamos o que tínhamos. Não só deles dois, sempre que nos encontrávamos fora do apartamento do Neji ou da minha casa o nosso relacionamento não existia, pelo menos, não para os outros, já que nos pegávamos no banheiro, nos corredores e em qualquer lugar que fosse escondido o suficiente para ninguém encontrar a gente aos beijos. Todos jogavam sinuca enquanto eu e Neji bebíamos sentados, eu tentava disfarçar meu claro descontentamento por tê-lo tão perto, ainda estou muito magoada com o que ele me disse na festa da república.

— Vou pegar mais gelo. — Ino pegou o recipiente de acrílico.

— Deixa que eu vou. — Peguei o pote da mão dela e fui para a cozinha.

Adentrei o ambiente e caminhei até a geladeira, comecei a encher o pote com as pedras de gelo e o apoiei na bancada respirando fundo e fechei os olhos. Vê-lo assim, aqui, me fazia lembrar de como era antes, eu sei que ainda amo o Neji, não como antes, mas como uma pessoa importante na minha vida, queria que pudéssemos ser amigos sem toda essa carga emocional que nós carregamos.

— Sakura. — Olhei para frente vendo Neji parado na porta da cozinha.

— Eu já estava voltando. — Caminhei em direção a porta e quando estava prestes a passar pelo Hyuuga, ele me segurou delicadamente pelo braço. — Neji... sua prima está aqui.

— E daí Haruno? Você não acha que precisamos conversar? — O encarei por alguns segundos, virei de costas e caminhei de volta até a ilha da cozinha depositando o pote em cima do mármore.

— Diz. — Mordi o lábio em nervosismo esperando as palavras saírem da boca dele.

— Eu quero me desculpar pelo que eu disse na festa. — Me virei o encarando um pouco surpresa. Neji deu alguns passos em minha direção e eu desviei os olhos ao chão. — Eu estava machucado. Me desculpe pelo que falei, eu sei que você não mentiu, você não faria isso, eu conheço você.

— É claro que eu não faria isso, eu te amava mais que tudo, Neji. Você... falar que duvidava de mim me... — enguli em seco —, deixou muito magoada. — Sentia meus olhos arderem e me segurava ao máximo para não deixar nenhuma lágrima cair.

— Me perdoe, por favor. — O Hyuuga aproximou-se e acariciou o meu rosto, levantei a cabeça olhando fundo em seus olhos perolados.

— Você sabe o quanto eu me sinto culpada por ter te deixado? — Ele arregalou os olhos. — Eu nunca me perdoei pelo que eu fiz com você.

— Sakura...

— Eu amo você, Neji. — O interrompi. — Não mais como antes, mas você é uma pessoa importante 'pra mim. Me desculpe se machuquei você. — Ele me puxou pela cintura e pelo ombro me abraçando em seguida.

— Eu quero que você seja feliz, eu te amo o suficiente 'pra saber que eu preciso te deixar ir. — As lágrimas escorreram dos meus olhos e me agarrei em sua camiseta. — E por favor, perdoe você mesma, você fez o que tinha que fazer. — Me afastei dele e o fitei mordendo o lábio.

— Não saia da minha vida. — Deslizei a minha mão pelo seu rosto.

— Eu prometo. — Ele selou um beijo em minha testa me fazendo fechar os olhos sentindo o gesto de carinho.

— O que 'tá rolando, gente? — A voz da Hinata ecoou na cozinha e nos viramos para ela. — Por que você 'tá chorando, Saky? — Ela perguntou preocupada. Eu e Neji nos entreolhamos.

— Acho que precisamos contar. — O Hyuuga assentiu e Hinata nos encarou confusa.

Voltamos para a sala de jogos e sentamos todos juntos, eu e Neji contamos tudo o que aconteceu desde a festa na mansão Haruno, a dois anos atrás quando ficamos juntos pela primeira vez. Claro, ficaram chocados e surpresos, jamais imaginaram que a gente mantinha um relacionamento as escondidas por tantos meses. A verdade era que não deveríamos ter escondido de ninguém, entretanto, naquela época eu era outra pessoa e não posso culpar a minha eu do passado por ser quem ela era. Depois que contamos tudo, encostei minha cabeça no ombro do Hyuuga e senti seu braço me envolver.

— Obrigada. — Beijei a bochecha dele e o Hyuuga sorriu, depois de muito tempo vi um sorriso de alegria em seu rosto e isso me deixou feliz. — Eu preciso ir. Vou jantar com meus pais. — Me despedi de todos e fui em direção ao meu carro.

— Sakura! — Virei e vi Neji vindo em minha direção. — Se cuide.

— Como assim, Neji? — Arqueei uma sobrancelha.

— Estou indo para um intercâmbio na Alemanha, consegui uma bolsa na Bauhaus. — Minha boca formou um perfeito "o".

— Neji, isso é incrível! — O abracei. — Quando você vai?

— Semana que vem. — Arregalei os olhos em surpresa. — Eu só volto daqui a 1 ano, Sakura — respirei fundo.

— Estou feliz por você, sempre foi seu sonho entrar na Bauhaus. — Sorri com os lábios.

— Não sei quando a verei de novo, precisava conversar com você antes de ir.

— Estou feliz que nos entendemos. — O abracei novamente.

— Eu também, Haruno. — Neji curvou os lábios.

— Isso não é nem de longe um adeus, me dê notícias. — Me despedi entrando no carro.

Ao chegar em casa vi o meu pai sentado na sala de estar e fui até ele, que me abraçou carinhosamente. Ficamos conversando sobre a faculdade e de como eu estava levando a vida em Kagoshima, não contei sobre o acidente e nem sobre Obito e Kakashi, ele não precisa saber e nem entenderia. Minha mãe apareceu e nos chamou para comer e como sempre, Dona Mebuki é prática com seus sentimentos e demonstrações de afeto, ela me deu um beijo na testa e virou as costas indo em direção a sala de jantar.

Meu pai gostava de conversar comigo, da minha companhia, mas minha mãe, parecia não dar a mínima e isso me incomodava profundamente. Sempre foi assim, desde criança ela não me abraçava com frequência e eu acho que ela nunca disse que me amava. O jantar foi como todos os outros que tive com eles dois durante anos, quer dizer, os poucos jantares que tive com a presença deles, em um completo silêncio. Definitivamente, acho que sentir-se em casa é um sentimento, são pessoas que estão ao seu redor e aqui, não é a minha casa... acho que nunca foi.

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