|Cap. 51|

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Espero que gostem do capítulo e, caso possam, deixem comentários sobre o que estão achando da história até aqui. A história tem corrido bem ou falta emoção? Acontece tanta coisa na minha cabeça, então consigo sentir as emoções dos momentos por antecipação.

*Uma dica de ouro sobre a leitura: tente ler em voz alta. Fiz o teste neste capítulo, e a sensação é que escrevi o livro para esse fim (quem sabe um dia vira filme, não é mesmo?! Haha)

J.B.

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O vestido que uso é um tom esmeralda brilhante e encorpado, bordado em cristais por todo o busto e sem mangas. Meu cabelo em um coque alto e adornado em diamantes fazem conjunto com o colar e brincos que levo sobre meu corpo. Sei meu poder, minha beleza e o valor em ouro que cada um desses cavalheiros estaria disposto a pagar ao me fitarem tão intensamente. Sei quem sou, a opressão que me consome e o status que me silencia. É tudo o que sei, tudo o que mantem minha cabeça erguida diante dos comentários sussurrados como zunidos insuportáveis de abelhas furiosas.

Os questionamentos, as suposições, o desejo pelo escândalo e o repasse de informações sempre mais vultuosas do que a primeira conversa tomam em minutos o salão. A reputação dada a mim diante das certezas construídas em torno do homem que me vigia e parece querer sempre me abrigar em seus braços, dos olhos verdes que me seguem cada vez que saio a dançar com outro cavaleiro, tudo isso, todas esses sinais, não passam desapercebidos a uma mente e  corpo tão cansadamente treinados pelo costume como os meus. Talvez seja mesmo essa sem vergonha mencionada em sussurros silenciosos e olhares furtivos em busca da percepção do enorme viking que ronda com um belo sorriso todo o ambiente. 

Este homem imprudente, divertido, galanteador, famigerado destruidor de corações e capaz de arruinar vidas femininas segue com seus olhos espertos e vigilantes, mesmo que seu corpo esteja descontraído, seu sorriso bonito e fácil, e sua conversa agradável que toma em laço o coração de homens e mulheres. Seus olhos me procuram sempre, não se desapegam de mim, não me perdem de vista. Seus ouvidos parecem também notar os comentários corridos por entre leques, mãos enluvadas e charutos. Seus lábios que traçam divertidos um sorriso indulgente e provocador parecem entender perfeitamente o belo título que informalmente me deu através da roupa que uso e das joias que carrego. Essa riqueza que me cobre, parece, na boca selada de todos, ter sido financiada pelo belo selvagem. 

-- Gostaria de dançar, senhorita Ianievna? -- ele sussurra docemente meu nome, o calor de sua respiração e o rouco de sua voz baixa roçam meu ouvido e arrepia os pelos de meu corpo.

-- Não crê ser mais que inapropriado, senhor? -- o questiono enquanto lhe estendo a mão para que me guie ao centro da pista.

-- Claro que o é, mas não posso nos privar de todo esse sentimento. Vamos, senhorita, pague as joias caras que tão alegremente a presenteei. -- ele ri ao me puxar para perto, o calor do seu corpo firme, mesmo com as distâncias adequadas para evitar mais e irreversíveis escândalos, parece se alastrar por meus seios, braços e barriga.

-- Espero que quando descubram meu título, o primeiro a pensarem seja que eu é quem provavelmente sustente seus desavergonhados e dandescos gostos, o luxo que o recobre nesta roupa cara ou o tempo para cortejar descarada e descompromissadamente as damas de sua terra. -- digo, e logo posso escutar o estrondoso riso que o  invade, um som que penetra minha pele e tremula ainda mais meu estômago.

-- Estaria honrado em ser bancado por tão bela dama. Mas não se engane, senhorita Helena, sou um amante apaixonado e fiel. Aos meus olhos você seria a única. -- ele diz enquanto dançamos. Seu corpo grande e firme, seus passos bem treinados e capazes de guiar em perfeita e sensual sintonia a dama que o acompanha.

-- É um bom dançarino, senhor. -- desvio um pouco do assunto, meu corpo já se acalorando pelo excessivo numero de pessoas próximas, o vestido fechado e a sensação estranha que carrega meu âmago sem pausa.

-- Não é porque vivo recluso em minha casa, senhorita, que não tenha sido educado com o básico de como me portar em público. 

-- Sei bem de sua alta sociabilidade, senhor. Presenciei bem aos seus encantos londrinos. -- apresento sem demora, meu rosto altivo e pronto para qualquer batalha de egos, de gracejos e ousadia. A vergonha nunca cobriu o rosto descarado que sempre carrego, pois sei que mesmo a mais pura das moças ganha espaço de rameira na boca de todo um povo.

-- Sabe? -- ele questiona curioso.

-- Vamos, Bjornan, não tente o mal que há e mim. -- adianto em um riso, os passos de dança fluindo com a conversa calma e divertida, com o calor de seus braços e a sensação agradável dos minutos que voam.

-- Talvez eu o queira, senhorita. -- ele ri. -- Mas, seriamente, estou tomado de curiosidade diante do apontamento. Por favor, me explique como consegue saber sobre minhas boas práticas de cordialidade na grande Londres? Por acaso me observava escondida? -- ele questiona divertido, seus olhos buscando algum ponto, uma abertura e uma resposta.

-- Por favor, vamos voltar ao que devemos fazer aqui hoje, senhor! -- argumento buscando seriedade, meus olhos furtivos ao tentar não responder o óbvio de suas perguntas.

-- Por Deus que o fazia! -- ele ri abertamente, seus olhos fixados em meu rosto avermelhado diante da exposição. -- Sempre me pareceu uma dama tão séria, tão superior e sem tempo para apaixonites selvagens ou vulgares como a de um viking robusto e grosseiro. 

-- Não o fiz! -- minto rapidamente.

-- Ah, minha doce Helena, não me tire esse prazer ao contar uma mentira. Fico feliz que tenha me admirado, pois eu fiz o mesmo. Você, a bela e elegante irmã de Jack, era o tesouro que nunca poderia tocar. E isso, para um homem dado aos prazeres do mundo, parecia o maior dos pecados. 

-- Por favor... -- apenas tento silenciar a enxurrada de palavras que me queimam internamente, a mistura de sentimentos que se confundem e me afogam neste exato instante -- Foque em nosso trabalho. -- forço as palavras para fora, a sensação de queimação ainda presente, o peso do olhar penetrante do homem que me guia nesses últimos segundos de dança.

-- Como desejar... Princesa! -- essa última palavra, esse pequeno arfar que conclama meu título é solto ao pé do meu ouvido, numa aproximação sorrateira. O corpo do enorme homem se aproximou de surpresa, seu cheio másculo e limpo dominando minhas ações por alguns instantes, sua voz aveludada, sensual e rouca que quebra esse pequeno mundo criado no momento dado pelo tempo de uma palavra. Me sinto condenada diante da fraqueza que me recobre, do suor e do desejo que parecem carregar meu corpo no exato instante que o arrepio da fala, sem nem mesmo a presença do entendimento, sobem por minha espinha. -- Acredito que devemos desocupar a pista de dança, não?! -- ele continua, seus lábios já afastados do meu rosto, a destreza de suas ações me guiando para fora dali antes mesmo de qualquer oportunidade de resposta.

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